Alice Scott
Estes Park - Colorado
7:16 AM
Março, 15, 2017/ Quarta

Juventude. A juventude em si não é tão boa quanto parece, ser adolescente não é tão bom quanto parece.

Lembro-me que quando era mais nova achava que assim que fosse adolescente, seria A famosa da escola, rodeada de amigos... Mas não está sendo bem assim.

Dezoito anos de idade e eu só tenho uma amiga, que considero amiga de verdade. Com ela eu dividia tudo, meus medos, sonhos e conquistas.

Mas, no último ano as coisas desandaram, ela mudou de colégio e eu fiquei sozinha.

Não é questão de não ter companhia, sim eu tenho, mas não amigos de verdade com que eu possa contar a qualquer hora.

Eu que decidi que minha melhor companhia, eu sou mesma. Ficar sozinha no colégio foi uma das minhas melhores escolhas. Mas as vezes, ficar sozinha não é tão bom.

As vezes passa por minha cabeça a possibilidade de voltar a, encher a cara e pegar caras que, particularmente, não são tão gatos quanto imaginava. Mas logo este pensamento ridículo é tirado da minha cabeça com a possibilidade de me juntar a esses abutres que chamam de jovens.

Olhando para a juventude, eu me sinto idosa. Gosto de ler e escrever histórias com personagens que nunca se dariam bem com eu meio sociável. Às vezes eu penso que, as personagens que crio, são quem eu queria ser se tivesse escolha.

Uma mulher independente, que mora em outro país com um apartamento que divide com sua melhor amiga, na boa, este é o meu maior sonho.

Ficar longe da minha família parece uma boa escolha para mim, não que eu seja um desses adolescentes depressivos que qualquer coisa fica irritado e quer sair de casa, mas, a possibilidade de não ter que aturar minha família por um longo tempo e ainda voltar por cima é realmente boa.

Saio de meus devaneios quando Jenna bate em meu ombro, olho confusa para seu rosto redondo.

- O professor está te olhando - Murmura e arruma discretamente seus cabelos escuros. Que por incrível que pareça, mesmo sempre pretos, são naturais, o que é estranho.

Encaro meu professor e ele já me encarava sério e honestamente, eu odeio a disciplina dele. Química.

- Distraída, Sra. Scott? - Pergunta professor Edwards e eu nego.

- Desculpe. - Digo e ele assente com a cabeça, antes de voltar a aula.

Infelizmente, tenho um leve probleminha de visão, que me obriga a sentar na primeira fileira. Nada grave que me obrigue a usar óculos, graças a Deus, fico horrível com um no rosto. Mas ainda vejo embaçado de longe.

Volto a copiar tudo que Edwards passa na enorme lousa branca.

O lado positivo em Edwards é que ele mais passa algo para copiarmos, do que trabalho. Não o mesmo de Sina, nossa professora de sociologia, ela gosta de seminários, logo eu, odeio seminários.

Não gosto de ficar em frente muitas pessoas e falar minha sincera opinião sobre tal assunto, ou decorar minha fala. Minha memória é péssima para isso.

Os quarenta e cinco minutos de aula passam e eu dou glória, não apenas pela aula ter acabo e eu estudar química apenas segunda que vem, mas sim por poder ler em paz em um canto no intervalo.

- Vai querer ficar comigo e a Julie? - Pergunta Jenna após levantar de sua carteira. Faço o mesmo, mas antes pego meu livro e meu notebook na mochila.

- Não... Tenho algo importante para fazer agora... Então - Murmuro balançando os utensílios em minhas mãos.

- Okay... Boa sorte - Diz antes de sair com os restante dos meus colegas.

- Irá se afundar em seu mundinho novamente? - Pergunta Maycon com as mãos no bolso na calça jeans.

- Pretendo - Rio fraco e ando em passos lentos até a porta com ele atrás de mim.

- Daniel não veio hoje? - Pergunto de mais um de meus companheiros, que também está um pouco distante depois do fora que eu dei.

- Ah, veio... Já deve até estar no pátio. - Andamos pelo enorme corredor de salas. Coloco o notebook rente ao meu peito com medo de alguém esbarrar e acabar o derrubando. - Orgulho e preconceito?

Olho para o livro em minha mão e sorrio.

- Sim... Gosto de um romance.

- Na boa, eu não entende seus gostos... Um dia desses estava lendo Cinquenta Tons de cinza e hoje é Orgulho e Preconceito. - Diz rindo e eu o acompanho.

Maycon é legal, quando não está com seus amigos babacas, que antes eram meus amigos.

- Nem eu... - Murmuro ainda rindo, mas meu sorriso morre quando chegamos no pátio. Vejo o grupinho de Maycon e aponto para seus amigos que o chamam. - Estão te chamando...

Ele ri fraco e se despede, indo até eles. Maycon faz seu toque com Daniel. Sinto falta dele, como amigo. Ele era uma ótima companhia...

Deixo meus pensamentos de lado e vou para minha escada, todos desse colégio sabem que lá é meu cantinho e nem se atrevem a se sentar lá.

Coloco meu livro em um degrau acima de mim e meu notebook aberto em minhas pernas.

Para criar meus livros, ou eu me inspiro em letras de música, ou em filmes, ou até mesmo em minha vida que parece uma novela mexicana.

Ter seis irmãos não é simples, mesmo minhas quatro mais velhas irmãs já terem se casado, elas ainda me irritam.

Eu me acho o orgulho da família, na boa, eu fui a única dos sete filhos que nunca levou uma suspensão. Nunca troquei de colégio, sempre estudei aqui, desde o primário. Minhas irmãs terminaram o colégio aqui e minha mãe quer que comigo seja igual.

Só que, não pretendo me casar e nem ter filhos. Nas minhas histórias, as personagens se casam e tem filhos, mas comigo quero que seja diferente.

Quero conquistar tudo que desejo, e só depois pensar em conhecer alguém. Um filho atrapalharia todos meus planos.

De dois anos pra cá, minha opinião sobre filhos mudou bastante, eu não era a favor do aborto, mas agora sou, mas o seguro. Sou feminista, totalmente feminista.

Novamente sou tirada dos meus devaneios quando o sinal toca. O intervalo acabou rápido hoje...

Fecho meu notebook após notar que tinha escrevido apenas duzentas palavras.

Pego meu livro e volto correndo para a sala. Sempre é assim, gosto de chegar antes ou sair depois de todo mundo, odeio estar no meio de jovens cheio de hormônios e alegres até demais para uma manhã.

Entro novamente na sala, guardo meu notebook em sua capa e depois na mochila. Coloco o livro debaixo da carteira e pego meu caderno para ver qual será minha próxima disciplina. Literatura.

Está bem óbvio que esta é qual mais amo, não apenas por escrever e ler livros e sim também, pela professora. Heyoon me ama e eu a amo, pois sou a única que presta atenção em sua aula.

Professora Heyoon começa a passar nossa atividade, mas a mesma é interrompida pelo o diretor que entra pedindo licença.

- Olá alunos, bom dia. - Diz Sr. Young para os alunos que respondem em educação. Vejo um garoto atrás dele, que deduzo ter minha idade, a sua pele pálida se realça nas paredes azuis marinho. - Terão um novo colega de classe, Jess Albert.

- Olá - Murmura o garoto, olhando toda a classe. Até que seus olhos negros me encontram.

E eu me perco em sua imensão escura, só não sabia que me perderia muito além de seus olhos.

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