Onde estamos?

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Uma luz forte fez com que Can abrisse os olhos.

Era um lugar estranho e o que seus olhos viram lhe fez ter a certeza disso.

Estava deitado numa estreita cama, uma das cinco que, enfileiradas uma ao lado das outras, ocupavam pouco do espaço do imenso quarto de paredes altas e de cor amarelada. Havia sobre as camas quatro garotos, um em cada leito, adormecidos e vestidos como ele mesmo, túnicas negras e longas.

Can levantou-se em silêncio e observou o grande cômodo decorado em tons vermelhos e iluminado pela luz fria que vinha de fora por uma das muitas janelas que havia ali. Não estava mais no navio e aquela constatação o amedrontou, fez algumas orações internas pois seu coração dizia que iria precisar.

Então a sua memória lhe fez recordar do que vira antes de acordar ali e tudo pareceu piorar ainda mais, não fazia sentido e ainda sim...

Lembrava que estava com calor e fora para a poupa do navio em busca de frescor quando viu o garoto que conhecera aquela manhã com um homem estranho. Iria voltar para dentro do navio, mas algo no olhar atormentado do Ae o fez ficar, e aterrorizado viu quando o homem o ergueu no colo como se não pesasse nada e se jogou no mar com ele. Com um grito que não saiu de seus lábios tamanho horror, correu para a grade, mas atrás de si surgiu outro homem que falou algo que Can não conseguiu entender e de repente tudo escureceu e agora acordava ali, naquele quarto estranho.

Não fazia nenhum sentido e, no entanto seu coração dizia o contrário.

Ouviu um suspiro e se voltou para as camas, um dos garotos acordava e era um rapaz de olhos bem mais puxadinhos que o seus... Notando que não estava onde deveria estar, ele gritou assustado, caindo da cama e se movendo no chão de costas como se visse um demônio e com todo aquele estardalhaço, acabou acordando os outros três.

— Onde estou?

— Em algum lugar bem diferente do navio.

Can respondeu baixo enquanto observava os outros três acordarem.

Cada um teve uma reação diferente: O que usava óculos arregalou os olhos estreitos com curiosidade, o garoto com olhar desconfiado e de cabelos intensamente negros saltou da cama e assoviou espantado com o luxo ao seu redor, já o cara mais alto deles, xingou uma sequência de palavrões que em outras circunstâncias, Can o repreenderia embora seu rosto revelasse a dimensão de sua ira, ele parecia pronto para qualquer briga e a violência em seu olhar era intimidadora.

Ele ergueu-se de punhos fechados e olhou ao redor:

— O que está acontecendo aqui?

Perguntou impaciente.

— Realmente eu não sei, quando acordei todos estávamos aqui.

Can voltou a responder indo em direção a uma das janelas, mas o garoto que tinha gritado se ergueu e saltou na sua frente:

— Eu exijo uma explicação, sou muito importante para ser raptado assim!

— Se você foi raptado então eu vim de acidente, não sou o que se diz de uma presa fácil.

Ironizou o garoto que assoviou antes.

— Mesmo que tivéssemos sido raptados, não poderíamos estar nesse lugar; como um cara sozinho poderia ter nocauteado nós cinco?

Questionou o mais alto, ainda parecendo prestes e esganar alguém.

— Então você viu aquele homem de terno de segunda também!

AltraranOnde histórias criam vida. Descubra agora