Capítulo 05

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  YANA KIMI

- Tudo bem, vamos entrar. Você quer comer alguma coisa? - Perguntei um pouco nervosa.

- Não, eu só quero conversar.

Deixei minha bolsa na mesa de centro e fui até Lili que estava sentada no sofá. Sua expressão não estava nada boa. Ela parecia transtornada. Meu peito murchou e era como se sua dor estivesse sendo transferida pra mim. Me abaixei na sua frente e segurei suas mãos que estavam ligadas em sinal de nervosismo.

- O que aconteceu?

- Meu pai entrou em contato comigo. - Falou nervosa.

- O que ele queria?

- Ele quer conversar comigo. Eu não sei direito.

- Calma Lili, eu estou aqui. Me conta melhor o que aconteceu.


-Estava saindo da faculdade e ele estava parado em frente ao portão de entrada. Apesar de já terem se passado 10 anos eu o reconheci na hora. Ele se aproximou e pediu pra conversar comigo.


- E vocês conversaram?

- Não, eu disse pra ele ficar longe de mim. Mandei ele ir embora. Disse que ele não podia voltar depois de 10 anos e esperar que eu o aceitasse como se nada tivesse acontecido.
- Lili começou a chorar desesperadamente. Me ajoelhei na sua frente e a abracei. Deixei com que ela botasse tudo pra fora. Eu não aguentava vê-la chorar daquela forma. Sua dor se tornou a minha.

- Pode chorar, você vai se sentir melhor.

Falar sobre o pai de Lívia sempre foi um assunto delicado. Eu não o conhecia, mas tinha raiva dele por tudo o que ela me contou. Ele traiu sua mãe e muitas vezes passava semanas fora de casa. Quando voltava as tratava mal e não dava satisfação nenhuma. Muitas vezes, Lili passou fome por causa desse pai horrível. Ela também me falou que ele nunca foi carinhoso com ela e que quando ele as abandonou se sentiu aliviada. Lívia e sua mãe lutaram muito para terminar de pagar a casa e se estabilizar financeiramente. Quando eu a conheci lembro que ela já trabalhava para ajudar a mãe a pagar a faculdade de Direito.

Porque esse homem voltou? O que ele queria? Não importa o que acontecesse eu cuidaria de Lili e não deixaria que ele a machucasse novamente.

Busquei um copo de chocolate quente para minha amiga. Ela estava encolhida no sofá e seu olhar estava perdido.

- Você está melhor? - Perguntei ao lhe entregar a xícara.

- Um pouco. Não sei o que pensar. - Falou triste.

- Não precisa pensar em nada agora. - Sentei ao seu lado e a abracei fazendo carinho nos seus cabelos.

- Obrigada Kimi.

- Não precisa agradecer. Você é muito importante pra mim e eu faço qualquer coisa por você.


- Você é a melhor amiga que eu tenho. Te amo.

- Eu também te amo. Estou aqui com você e sempre vou estar.

- Eu também. - Nos abraçamos e Lili deitou em meu colo como na noite anterior. Só que dessa vez ela não dormiu. Ficamos apenas em silêncio.


...


- Você quer sair? - Perguntei quando Lili saiu do banho.

- Não sei se é uma boa ideia.

- Vamos, vai ser legal. - Insisti com carinha de cachorro pidão.

- O que eu não faço por você? - Brincou.

- Você é realmente perfeita.

Levei Lili a um lanche para comermos algum coisa depois fomos até o shopping. Lá tinha uma loja com vários brinquedos. Coloquei crédito nos nossos cartões e brincamos até cansar. Paramos no Mcdonald e comprei dois sorvetes. Depois de alguns minutos Lili já tinha terminado o seu e ficava mordendo a minha casquinha.

- Se quiser compro outro pra você.

- Não, eu quero o seu. - Falou mordendo outro pedaço do meu hambúrguer.

- Você é um dragãozinho mesmo

- Já falei, meu metabolismo é muito acelerado.

- E o seu metabolismo aguenta uma sessão de cinema com direito a muita pipoca e chocolate?

- Ele da conta sim. - Caímos na gargalhada.

Comprei ingressos para a última sessão que já tinha começado a alguns minutos. Subimos com cuidado até a última fileira de cadeiras. Sempre gostava de ficar nas últimas fileiras, dava pra ver a tela inteira e minha vista não doía. O filme da vez era uma comédia, o que veio a calhar, porque Lili deu muitas risadas. Ela olhava para a tela e eu olhava para ela. Observava o meu amor impossível.


...


Estacionei na frente da casa de Lili e as luzes já estavam todas apagadas. Ela ficou olhando para o painel do meu carro e seu semblante voltou a ficar triste. Tinha que fazer alguma coisas, não podia vê-la triste novamente.

- Você quer que eu fique com você? 

- Seria ótimo amiga. - Sua expressão se tornou em alívio.

Subimos as escadas até o quarto de Lili em silêncio para que sua mãe não acordasse.

- Vou separar uma roupa pra você. - Ela foi até seu guarda-roupa e me entregou um shorts e uma regata. - Toma banho primeiro, depois eu vou.

Deixei a água morna cair em meu corpo. O dia tinha sido longo. Apesar da faculdade e do trabalho o que mais me abalou foi ver o olhar de desespero de Lili quando a encontrei na frente da minha casa. Faria qualquer coisa por aquela mulher, ela era minha melhor amiga e estava perdidamente apaixonada por ela. Tudo o que eu queria era vê-la feliz. Depois de hoje sabia que lutaria pela sua felicidade até que estivéssemos bem velhinhas. Mesmo que fosse apenas como minha melhor amiga.

LÍVIA DUARTE

Quando Kimi foi tomar seu banho eu fui até o quarto da minha mãe. Ela não sabia da volta do seu ex-marido e eu não contaria, pois não queria ele perto dela. Abri a porta devagar para não acordá-la.

- Filha, é você? - Ela estava em sua mesa de estudos.

- Sim mãe, porque ainda está acordada?
- Perguntei me aproximando e beijando seu rosto.

- Estava esperando você chegar. Não me avisou que ia chegar tarde.

- Me desculpa mãe. A Kimi me trouxe e vai dormir aqui hoje.

- Cadê sua amiga? Diz pra ela vir me dar um oi. - Mamãe adorava a Kimi, elas sempre se deram bem.

- Ela tá tomando banho. Só vim ver como a senhora está.

- Estou bem, mas e você? Porque essa carinha triste? -
Tentei colocar um sorriso no rosto, mas não adiantou muita coisa.

- O dia foi difícil hoje.

- Você quer conversar?

- Vai passar mãe, só foi uns problemas na faculdade. Estou com sono. Amanhã vou dormir até mais tarde então vim me despedir da senhora agora.

- Tudo bem meu amor. Vou tentar chegar mais cedo do trabalho pra ficar com você. - Nos abraçamos e voltei para o quarto.

Encontrei Kimi dormindo em minha cama. Tomei um banho rápido e deitei ao seu lado. A imagem do meu pai não saía da minha cabeça, ele parecia perturbado com alguma coisa, mas eu não ligava para ele e nem para os seus problemas. Me embrulhei e tratei de tirar aqueles pensamentos da minha cabeça. Amanhã seria um novo dia e nada melhor do que não ter que ir trabalhar.

MEU PRIMEIRO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora