Capítulo II - Água dos Sonhos

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Por alguns instantes não obteve reação. Tentava assimilar a mudança repentina e dar um sentido plausível à mesma.

Mas estava sonhando, é claro que não iria ter sentido.

Aproximou-se da piscina, observando a superfície calma das águas azuis. Parecia inabalável. Os olhos percorreram os ladrilhos das paredes rumo abaixo e se fixaram no chão da piscina, tentando desvendar de onde vinha a luz, mas seus olhos acabaram encontrando um corpo de uma moça morena em um simples vestido vermelho.

Debruçou-se sobre as águas, descrente do que estava vendo. Mas realmente havia uma moça deitada no chão da piscina. Seus cabelos longos e negros estavam espalhados e flutuavam na água, as mãos entrelaçadas e repousadas delicadamente abaixo dos seios. A pose na qual estava colocada lembrava um corpo deitado num caixão, em seu próprio velório.

Ela estava morta?

Como se notasse os olhares de Joel, a moça abriu seus olhos, o caramelo marcante se destacava na maquiagem escura. Ela abriu a boca para chamá-lo, mas apenas algumas bolhas de ar se formaram rumo à superfície. O homem assustou-se com o movimento repentino da moça e quase caiu nas águas. Após as bolhas cessarem, ele percebeu que ela havia ficado sem ar, sua boca agora estava cheia de água.

A moça debateu-se inquieta, apoiou os cotovelos no chão azul e forçou o corpo para cima, mas não conseguiu sair de onde estava. Algo a prendia ao chão. Joel sentiu um arrepio ao observá-la.

A garota estava se afogando.

Involuntariamente, Joel se pôs de pé e encheu os pulmões de ar antes de se lançar nas águas frias. Com força, movia seus braços e pernas o mais rápido que podia para alcançar o fim da piscina profunda. Mas parecia não conseguir sair do lugar. O semblante assustado da moça presa ao chão da piscina aterrorizava seus pensamentos, e ele sabia que não era desde aquele momento. Se não estivessem rodeados de água, Joel teria certeza que os olhos da moça estariam inundados de lágrimas naquele momento.

A cada instante que se passava, a moça mostrava-se cada vez mais desesperada. Tentava a todo custo desprender-se do chão. Fechou os olhos com força e levou as mãos à garganta, deixando longos arranhões vermelhos na mesma. Precisava desesperadamente de ar.

Colocando mais força em seus movimentos, Joel finalmente alcançou a moça. Tentou puxá-la, entretanto havia uma corrente grossa e pesada em torno de sua cintura, fazendo com que ela ficasse presa. O homem apoiou os pés no chão, cada um de um lado da moça, e tentou arrancar a corrente. Mas ele não era forte suficiente para tal feito.

Um sorriso triste se formou nos lábios pálidos da moça. Ela ergueu as mãos na direção de Joel, como se quisesse tocar seu rosto, mas os movimentos perderam a força. Seguindo o suave balançar da água, provocada pelos movimentos bruscos de Joel, as mãos da moça penderam lentamente de volta ao chão. Os olhos inexpressivos permaneceram abertos, fixos nos olhos do homem.

Joel soltou o ar pela boca e mordeu seu lábio inferior com força.

Era tarde demais, a moça já estava morta.

Perturbado pelo fato de seus esforços serem inúteis, soltou a corrente. Sentia-se imponente. Chocado. Nem mesmo a falta de ar fez com que nadasse de volta para cima. Olhava fixamente para o semblante sereno da moça. Ele a conhecia.

A corrente se desfez em minúsculas partículas, quase como poeira, permitindo que o corpo da moça flutuasse alguns centímetros para cima. Joel viu-se tremer de ódio e frustração. Fora forçado a assistir a morte da moça, sem poder fazer nada para evitar o ocorrido. Tomou a moça nos braços e impulsionou-se para cima, rumo a superfície. Com a boca aberta, puxou o máximo de ar que conseguiu, enchendo os pulmões novamente.

Coelho BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora