Capítulo 2 || Brenna Croft

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A um sorriso rasgando minhas bochechas, uma chuva torrencial cai do lado de fora e eu só consigo sorrir para o nada

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A um sorriso rasgando minhas bochechas, uma chuva torrencial cai do lado de fora e eu só consigo sorrir para o nada. Minhas coxas estão em carne viva e minha edição de Orgulho e Preconceito pede socorro ao ser coloca no fundo da minha bolsa de pano gasta.

L.I.V.R.E

Você tem é que emagrecer, sua gorda imunda! — ouço uma das minhas irmãs gritar, mas continuo guardando os meus pertences para finalmente sair dessa casa, sem eles me assombrando pela eternidade. Não terá mais sessões de tortura, abusos e festas com seus amigos do clube, eu estou livre!

Dalila estava lixando as unhas quando terminei de limpar o chão da sala de estar, fiz questão de deixar tudo limpo. Cada parte do apartamento está limpa e minha alma quase deseja sorrir por saber disso, posso dançar entre as gotículas de chuva e nunca mais sangrar até a exaltação. Minhas irmãs sabem que vou embora, Bruno comunicou a todos durante a madrugada e assim que terminei de limpar o ultimo centímetro da cozinha comecei a ouvir as ofensas diários e ao invés de falar ou tentar ao menos me defender permaneci calada, submissa dos meus pensamentos, sabendo que em poucas horas eu estaria longe daqui, muito longe mesmo.

A família Croft é conhecida por sua beleza, dinheiro e poder no cenário político. Mas eu não, nunca fui reconhecida como uma Croft ou entrei nos padrões deles, não quando fui colocada como empregada com poucos anos de idade e sofri o pão que o diabo abandonou para continuar viva, respirar sempre foi difícil e quando tudo começou eu ainda acreditava em contos de fadas e príncipes encantados, mesmo com os toques sutis e as pequenas cicatrizes que me eram dadas pelos meus pais.

Coloco o envelope que roubei a algumas semanas, com o que suponho ser meus documentos no fundo da pequena bolsa, minha vida inteira coube dentro de uma bolsa de pano de tamanho médio, isso porque nunca tive nada para chamar de meu. Porque tudo foi tirado de mim, tudo!

O fusca que comprei com o pouco dinheiro que Bruno me deu está lá fora, sendo lavado pela água da chuva, algumas roupas velhas escondi no porta-malas quando desci pela ultima vez para conferir se eu teria gasolina para partir sem destino algum, eu precisava sair o quanto antes dessa casa.

Tenho 23 anos, um corpo fora dos padrões, milhares de cicatrizes e um passado que você não deseja conhecer. Sabe o inferno? Ontem anoite bebi vinho com o diabo enquanto meu corpo era rasgado no meio, não sei como estou em pé hoje! Talvez o fato dele ter me libertado diga muito sobre a anestesia que serpenteia meu corpo. Tudo dói mas somente saber que posso sair dessa casa para sempre me faz apressar os passos, quanto antes o barulha das portas se fechando chegar, eu terei a confirmação de que estou livre.

Mesmo que eu não conheça o mundo.

Mesmo que eu tenha conhecido apenas o lado ruim do ser humano.

Mesmo que eu não tenha mais asas para voar.

Durante 15 anos ganhei cicatrizes e os gritos ficaram presos no fundo da minha garganta, quando pensei que tudo ficaria bem... Ele me enforcou com suas mãos e me tornei cativa de seus caprichos, aprendi a sobreviver em seu mundo e a calar minha voz.

HEITOR 》DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora