Capítulo 4 || Heitor Bonfim

3.5K 494 26
                                    

Heitor Bonfim

— Não irei fazer isso — bato meus punhos na mesa de jantar ganhando um olhar mortal de dona Zoe que mesmo com os anos continua belíssima e como ela mesmo diz " Sou linda naturalmente, amor próprio é tudo neném"

Assim que meu sapato italiano pisou na mansão Bonfim, já sabia que meu pai jogaria alguma bomba em cima de mim. Por isso peguei uma dose de uísque, sentei com os pés em cima da mesa e comecei a degustar tranquilamente os biscoitos amanteigados. Por pura e leve pressão de minha mãe, que obrigou a comer vários deles, alegando que eu estava muito magro e isso era culpa das anoréxicas em quem eu enfiava meu pau.

Antes que perguntem não, minha mãe não tem papas na língua e a palavra limite foi apagada de seu dicionário assim que ela conheceu meu pai.

Pode parecer clichê a história dos dois, mas sempre dou risada quando minha mãe conta que esfregou a cara de uma mulher que ela sempre chama de vagabunda vulgo sebosa, segundo ela a vadia esfrega a boceta na cara do meu pai em todas as oportunidades. Ganhando assim o ódio de dona Zoe, que tinha seus vinte e poucos anos na época e um gênio difícil pra cacete. Tenho pena do meu velho até hoje, mamãe é arretada em todos os sentidos da palavra.

— Você vai sim. Já chega Heitor, estou cansado de passar pano pra suas merdas — meu pai grita quando o copo de uísque que bebia, se estraçalha pelo chão, nem seu terno bem cortado, mudaria a frieza que ele carrega em suas feições enquanto me olha. Beirando os 70 anos sua pele negra ainda está bem conservada para loucura de dona Zoe, o coroa ainda bate um bolão entre as "novinhas".

— Por anos vi você jogar sua vida no lixo em festas, bebida, drogas e sexo. Você se auto destruirá e eu não poderei fazer nada. Criamos você para o mundo, não queremos que ele te destrua como fez comigo filho. Acordar todos os dias e enfrentar o mundo é matéria para os fortes, ninguém dará nada de graça pra você, se quer aquilo bem feito vá lá e faça. Trabalhamos durante anos a frente das empresas da família para dar a você e a sua irmã tudo o que vocês têm, só pra mim ver você carregar o sobrenome Bonfim na direção contrária — o barulho da bengala de ouro batendo contra o chão de madeira é irritante.

Escuto tudo o que meu velho tem a dizer calado, querendo apenas sair daqui e literalmente " Chapar o globo" como se o amanhã não existisse e ele não existe. Não pra mim, um cara arrogante pra caralho que sempre teve e terá alguém para depositar alguns milhões na conta. Para aproveitar festas ao redor do mundo na qual eu posso esquecer de quem sou filho e a porra da palavra " Responsabilidade".

O copo de uísque gira em meus dedos, os garçons servem o jantar, minha mãe fala coisas que eu não consigo processar e meu pai? Ele joga absolutamente tudo de ruim que eu já fiz durante toda minha vida. Na cara!

Como se eu fosse a porra de um garotinho perdido sendo disciplinado. Abro os botões da camisa social sentindo uma respiração ofegante em meu pescoço. A pessoa que serve meu prato tem intimidade o suficiente para encostar em mim. Assim que viro em meu lugar, encontro Luiza, ou seria Luana? sei lá. Ela é filha da governanta da mansão.

Tem uma boceta apertada, é safada pra caralho e grudenta igual cola. Já faz muito tempo que não dou uma chupada em sua bucetinha apertada, mas a voz do meu pai em meu ouvido e o pão que minha mãe joga no meu rosto, dispensa qualquer resquício de tesão que começava a surgir no meu amiguinho de baixo.

— Filho da puta! A próxima vez que eu falar com você e você me ignorar, eu te devolvo para os ovos do teu pai. Me ouviu Heitor? Não sou suas putas não. — dona Zoe grita, sentando novamente com seu vestido de grife elegante.

— Desculpe mãe. É que o pai não para de falar sobre...— a mesma lança um olhar pra mim que gela até o esperma das minhas bolas. Ela vai começar, já sei o que ela vai fazer e caralho! Minha mãe é meu tudo, mas também é a rainha do drama. Alguém trás um oscar pra essa bela dona?

— Você fará o que o seu pai disse, e fará agora Heitor! — sua mão pequena se fecha ao redor da faca de serra, seus olhos se apertam como se ela quisesse se mostrar ameaçadora pra mim — Ou eu juro que corto seu corpo em pedaços, garoto ingrato — fala, passando manteiga em uma bolinha de queijo lentamente com a faca que tinha apontado pra mim, alguns segundos atrás. Só tem gente maluca nessa família.

— Não vou fazer isso — afirmo quando o contrato é colocado em minha frente junto a caneta de ouro com o brasão da família.

Um leve tremor atravessou meu corpo e só assim sei que a maldita abstinência voltou. Tenho que usar, será somente mais uma vez. Depois disso eu saio desse mundo e me tornarei o homem responsável que meus pais querem tanto que eu seja. Ter usado aquela maldita injeção pela primeira vez foi libertador, sentido todos os seus efeitos, me tornou um viciado. Aquilo é bom pra cacete, preciso de duas seringas, uma garrafa de Jack e da vista do meu apartamento. Quero ver o dia amanhecer com a garrafa em uma mão, o cigarro na boca, meu corpo sem roupa e o sol como testemunha da porra de vida que levo. É o que faço para poder viajar por alguns minutos na minha mente e fazer coisas insanas sem me preocupar com nada.

— Vai sim!

— Foda-se a sua opinião, eu não vou fazer esse caralho — gritei, batendo o punho na mesa de vidro. — Eu não quero e não vou fazer isso. Se você quiser me deserdar o faça, não estou ligando. Vai atrás da sua filha perfeita e peça isso — os olhos da minha mãe marejam — Eu sou maior de idade e vacinado. Já passou da época em que você pagava as minhas contas — sinto o ódio dominar cada célula do meu corpo — Não vou perder os melhores anos da minha vida preso em um escritório, tenho dinheiro, poder e status. Não preciso do senhor para nada. Passei o último ano trabalhando sem parar naquela porra! Não aguento nem olhar pras paredes de lá. E agora...— levanto da cadeira fazendo um barulho alto — Nada me fará voltar pra lá, não quero fazer algo por que sou obrigado a fazer. Amo advogar mas quero viver a minha vida. Sozinho! Não vou casar, devo ressaltar esse pequeno detalhe.

— Você tem 6 meses, rode a porra do mundo se quiser mas depois disso... Depois disso, você assumirá totalmente o controle da empresa. Ou eu não me chamo Leandro Bonfim! — meu pai olhou apenas uma vez em meus olhos antes de subir pela escada em espiral que leva até o segundo andar.

Eu sabia a decepção que era para família Bonfim ter um filho fodido que só vivia nos tablóides bêbado e drogado, com modelos de todos os continentes a tiracolo.

Mas eu não estava nem aí. Não até agora. Um contrato de casamento junto ao cargo de presidência do escritório. — isso que ganho por desafiar meu pai.

Meu pai estava certo, o mundo iria me destruir. Mas antes eu rodaria ele por inteiro, quero viver a destruição lentamente porquê nem por dois rins vou casar, Heitor Bonfim não sabe amar. Papai iria descobrir isso da pior forma possível.

HEITOR 》DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora