É sua, gata, aproveita dehsilva9408
E já aviso que esse capítulo está babadeiro💁🏽♀️👊🏼***
Heriberto, apesar de não gostar muito, tentou entender a atitude de Victoria quando ligou para a Casa de Modas e ela deu uma desculpa para não falar com ele. Ele estava começando a compreender que ter um relacionamento com uma mulher como aquela significava também aprender a lidar com sua autossuficiência tão obstinada, apesar de incômoda.Além disso, sabia que provavelmente a conversa com Osvaldo havia sido devastadora e mais em um momento como aquele em que ela começava a abrir seu coração e sua alma sem reservas para ele e seu amor. E também eles tinham um encontro no fim da tarde depois de sua fisioterapia que quase podia sentir onde e como terminaria.
A paixão por Victoria se arraigara nele de maneira axiomática. Tanto que, quando estavam separados pelas obrigações do dia, por seus trabalhos, por muitas vezes ele se pegava pensando naquelas noites de desejo e entrega que pareciam ficar cada vez mais intensas. Não passavam uma noite sequer sem fazer amor desde que iniciaram seu relacionamento e, às vezes, faziam amor várias vezes, todas quanto conseguiam, antes de adormecerem exaustos e inaugurarem a manhã novamente em prazer e luxúria.
Victoria havia sido a única mulher de sua vida e ele tinha certeza de que não precisava ter nenhuma outra mais para confirmar que o que ela lhe despertava era único. Só lhe restava esperar à noite para estar com ela e, no meio do dia, cumprir aquela obrigação ingrata que ele não tinha mais como adiar: visitar sua mãe para falar sobre assuntos financeiros que ela vinha lhe exigindo há dias antes de se encontrar com Victoria ao fim da fisioterapia e passar a noite no delicioso recôndito de seus mais abstratos desejos.
***
Sentada na cadeira acolchoada naquele sofisticado tom salmão à frente da mesa de Victoria, os grandes e vívidos olhos azuis de Antonieta acompanharam a amiga enquanto ela dava mais uma volta pelo ambiente como se tentasse encontrar uma solução diferente para aquele beco sem saída.
— E, por que não dar o dinheiro a ele? — Indagou Antonieta quando o silêncio se fez grande demais.
— Porque não é justo! — Victoria se virou encarando-a com ódio. — Você sabe o quanto eu me sacrifiquei por esta empresa, o quanto de mim eu coloquei aqui, que cada centavo que eu acumulei ao longo desses anos não teve nada a ver com a colaboração que Osvaldo me deu lá no início desse negócio. Além disso, se eu der todo o dinheiro que ele me pede, vou ficar numa situação financeira muito delicada o que pode colocar em risco minha marca.
— A Justiça não vai entender assim, e você sabe, Victoria. — Antonieta tentou explicar-lhe, aflita. — Ao menos que você consiga provar que Osvaldo não tem esse direito, você vai ter que ceder às exigências dele para concluir seu divórcio em paz.
— Eu não preciso que você fique me repetindo o que Oscar e os outros advogados me disseram, Antonieta, você é minha amiga, a função de quem deve me dizer coisas técnicas e óbvias já está ocupada e não é algo que te incumbe! — Ralhou Victoria grosseira.
— E o que é que você quer que eu te diga? — Levantou-se Antonieta incomodada com sua deselegância. — Que te apoie a voltar a fazer coisas ilegais para pressionar Osvaldo, como já fez quando se separaram? Acredite em mim, Victoria — ela defendeu-se explicitamente — isso também não devia te incumbir.
Victoria mordeu o lábio sem coragem de responder o que realmente estava pensando. Era exatamente o que ela acreditava, que precisava encontrar um caminho alternativo para não ter que ceder à chantagem de Osvaldo, nem que fosse necessário fazer uso das mesmíssimas armas que ele utilizava.
Desde que começou seu relacionamento com Heriberto algo havia mudado dentro dela e estava disposta a ser uma mulher diferente com mais escrúpulos e princípios para viver uma vida limpa, sem ter o que ocultar, ou do que se envergonhar. Entretanto, sua nova condição nunca tinha sido tão explicitamente posta à prova e, talvez, ela não conseguisse resistir ao flerte com aquela velha Victoria do passado de quem ela havia verdadeiramente desejado se despedir.
***
Ana Joaquina serviu para Heriberto suco de abacaxi. Ela sabia que era o preferido do filho e, apesar de lhe dizer aquelas palavras tão ingratas, queria que ele recordasse todo o cuidado que um dia havia recebido dela.
— Obrigado pelo suco, mas eu não quero. — Recusou muito seguro de si. — O que você espera? Me chamar aqui para fazer essa ameaça sutil e, que eu ceda a ela?
A beata se incomodou pela negativa dele, sobretudo para a bebida. Heriberto jamais havia se afastado tanto do controle de suas mãos e ela não conseguia não se rebelar com isso e revelar mais do que queria que o médico soubesse naquele momento.
— Tome o suco, meu filho. — Insistiu ela. — Você nunca recusou um suco de abacaxi. Sempre entendeu como o que é, um carinho, um refresco de todo o calor sufocante do mundo lá fora. — Ela só sabia se comunicar abusando da dubiedade. — Antes de tudo, somos uma família. E, não é uma ameaça, eu só quis te comunicar algo que é todo meu direito.
— Todo não. — Discordou ele bebendo o suco. — Parte do dinheiro que está sob sua gerência pertence à herança de meu pai e, agora que não sou mais padre...
— Eu me referia à parte que foi à mim designada. Eu sempre disse que depois da minha morte eu deixaria esse dinheiro para que você o gerisse em alguma obra social, mas agora que a vida com Deus está tão perto e que você está cada vez mais distante dele, decidi eu mesmo investi-lo na que considero a maior de todas as obras sociais: aproximar homens do caminho de Deus. E, ainda que eu alcance um único homem, Deus se satisfará com meu sacrifício em prol de seu nome.
— Faça como preferir. — Ele encolheu os ombros depois de colocar o copo vazio sobre a mesa. — Se pretendia que eu desistisse de renunciar ao sacerdócio, você ainda não me conhece, mamãe. Há coisas... há coisas que não se compram com dinheiro e o livre arbítrio das pessoas é uma delas. Nunca precisei desse dinheiro, não contava com ele para agora e muito menos para depois de sua morte, pois espero que Deus permita que a senhora viva muitos anos. Invista o dinheiro como preferir e, eu... Eu espero que realmente seja uma causa nobre.
— Você nem faz ideia do quanto! — Respondeu a beata enigmática.
— Eu já vou. Tenho um compromisso no hospital e já estou atrasado.
— Com esse trânsito você só chega no hospital em mais de uma hora. Por que não vai direto para sua casa que é muito mais perto daqui, filho? Seu... compromisso, não pode ir até lá? — Insinuou preocupada.
— Talvez. — Suspirou ele incomodado pela provável mudança de planos a que teria que submeter-se. — Em todo caso, até logo.
Ele beijou a testa da mãe e saiu da casa dela, apressado para encontrar-se com Victoria, mas chateado porque Ana Joaquina tinha razão, a fisioterapia já estava acabando e ele estava muito mais perto do flat que do hospital. Ligou para Victoria antes de entrar no carro e combinou que ela fosse direto para a casa dele, da qual ela já tinha a chave, estaria esperando-a ansioso.
Ana Joaquina, por sua vez, preocupou-se de que Heriberto dirigisse ainda que fosse por um trajeto tão curto e pediu que um de seus empregados o seguisse num dos carros da casa. Quando o viu se afastar, ligou para Bernarda:
— Pelo que me disseram, o efeito começará em cerca de meia hora. — Explicou a velha. — Espero que esteja tudo certo por sua parte e que hoje seja a última vez que Heriberto veja Victoria. Acabe com esse romancezinho de uma vez por todas.
— Claro sogrinha, tudo vai sair como combinamos. Você não imagina o prazer que eu vou ter em satisfazer sua vontade! — Bernarda sorriu do outro lado da linha ao olhar em volta e se ver em cima da cama de Heriberto.
***
VOCÊ ESTÁ LENDO
Estranha Sensação
Romance¡HISTÓRIA CONCLUÍDA! Uma forte rivalidade entre duas mulheres de negócios é acentuada pelo regresso de Heriberto, um homem do passado de Victoria. Divididos entre a paixão e as obrigações da vida, os dois se verão encurralados entre seus próprios se...