Who Do U Love? (Lee Jooheon)

Pressentimentos

Dave não estava em casa quando eu cheguei e por um momento me questionei se deveria estar ali. Não era de fato a minha casa, mas era onde eu vivia. O guarda roupas já tinha uma parte minha. Alguns livros se misturavam com os dele na estante e a penteadeira estava tomada com meus cosméticos.

Tomei um banho e me joguei na cama sem me vestir. Coloquei os fones e fechei os olhos, deixando minhas músicas me guiarem para outro lugar. 'Crazy - Aerosmith' embalava minha mente, onde eu já estava num conversível vermelho dirigindo sem rumo.

O vento batia forte no meu rosto e meus longos cabelos castanhos eram levados por ele. O cheiro de terra molhada era perceptível mesmo em alta velocidade, enquanto Steven Tyler dizia "I feel like a color blue". E era tudo azul. À cima o céu infinito e a baixo o mar finito. Eu caminhava na linha do horizonte rumo a lugar nenhum. Até onde eu poderia ir?

Alguém bateu na minha coxa, me tirando da minha viagem. Abri os olhos, me levantando assustada. Era Dave.

- Hey! - ele exclamou bruto - Tá pelada com a janela aberta?

O moço não pensou duas vezes em ir fechar as janelas do quarto, que ficavam logo à cima da cama de casal.

- Eu me distrai.

- Percebi. Como foi a entrevista?

- Eu passei.

- Que bom.

- Onde você foi?

- No banco.

- Ah...

- Vá se vestir. Vou te pagar algo para comer.

- Tá bom. - sorri.

Hyuk Jae não era muito expressivo, ao contrário de mim, mas eu tinha aprendido a sentir o que ele sentia. Me troquei num instante enquanto ele tomava banho. De frente para a cama ficava um grande espelho vertical, no qual eu adorava tirar fotos e ficar me olhando.

- Está pronta? Hoje foi rápido. - comentou ele ao sair do banheiro.

- Estou.

Dave me abraçou por trás e eu tentei sair do toque.

- Você está molhado! Olha o meu cabelo! - disse entre risadas.

- Hey, pequena... Parabéns pelo emprego.

Ele me beijou na bochecha e eu sorri. Dave era um palmo mais alto que eu, e possuía os ombros largos o suficiente para que eu me encaixasse perfeitamente dentro dele. Me sentia protegida ao seu lado.

Fomos comer churrasco e aproveitamos a desculpa para bebemos um pouco, ainda que fosse no almoço.
Nós dois éramos bons nisso: em sairmos juntos e em beber. Nossos gostos eram parecidos e gostávamos do mesmo tipo de comida: apimentada.

Eu gostava de sentir o ardor cortando minha garganta até chegar no estômago e irradiando para o restante do corpo. Era como a chave para abrir meu terceiro chackra e aliviar toda a tensão que ficava acumulada bem ali, no meu plexo solar.

Para quem não sabe, o "chakra de número 3 está localizado na cavidade abdominal, acima do umbigo e perto do estômago. É por esse centro de energia que nos relacionamos de forma ativa com o mundo e com as pessoas a nossa volta. Através dele, nossa energia emocional flui para o exterior." O meu claramente tinha vindo com defeito, pois eu sempre sentia um desequilíbrio emocional na minha vida.

Talvez isso fosse apenas reflexo dos traumas incurados da minha vida, dos quais eu fugia e simplesmente fingia que estava tudo bem.

E de certa forma, agora estava tudo bem. Eu tinha alguém, tinha emprego...