Gilbert é o glacial Visconde de Grantham. Conhecido nos círculos da alta sociedade por ser um homem intragável, nem a dama mais apaixonada ou a matrona mais sedenta de títulos ousam atravessar seu caminho nos salões de Londres. E ele preferiria mant...
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"Ó tu! Qualquer que seja seu título, combina com você..." – Robert Burns.
"Os homens de poucas palavras são os melhores." – Shakespeare.
Uma vida inteira tomando conta de si mesma tinha ensinado a Edwina muitas coisas. Muitas coisas as quais ela resolvera ignorar completamente ao aceitar a ajuda de um sassenach — um inglês fora de seu lugar de origem.
Mas bem, era isso ou perder seus preciosos livros. De qualquer forma, ela precisava admitir que jamais teria a força do Sr. Grantham para salvá-los. Ou para sozinha, ao menos afastar a carruagem nova do avô do meio da estrada e escondê-la entre as árvores.
Também fora muito útil ao ajudá-la carregar as caixas até o cavalo que ela desatrelara do veículo. Como seria peso demais para somente um animal, o inglês propusera dividir a carga. Assim, a outra caixa seguia presa por cordas de uma forma engenhosa (e feita por ela) na cela do corcel branco dele. Feito isto, os dois seguiram pela trilha sinuosa dentro da floresta.
Em silêncio.
O inglês, depois daquele primeiro rompante e da conversa atrevida sobre traseiros, não parecia mais ter qualquer pretensão de iniciar um diálogo. Portanto, restara a Edwina apenas observá-lo de esguelha enquanto caminhavam.
Ele guiava o cavalo com uma mão firme na rédea. A postura ereta e elegante mesmo nesse momento. E mesmo com boa parte de seus trajes suntuosos manchados por lama escocesa.
Não podia ser um inglês comum, concluiu Edwina. Certamente, era um homem de boa educação e pelo porte, devia ter posses. Apenas os botões em sua camisa, se vendidos, Edwina podia apostar serem capaz de sustentar por um tempo considerável uma família em sua vila.
Isso a fez pensar sobre que tipo de almofadinha ele era.
Poderia ser um rico herói da coroa inglesa, pensou com ironia. Do tipo que reunira vários jovens escoceses sob seu comando para lança-los nas cruéis frentes de batalha contra Napoleão durante aquela guerra horrenda. Mas claro, ele próprio nunca se colocando em risco. E agora devia estar ali, usurpando as terras de muitos dos mesmos escoceses como condecoração de honra.
Edwina fez uma careta.
Na maioria das vezes, gostava de esquecer-se de que era metade inglesa. Na verdade, ela tinha certeza de que ficaria muito feliz se enterrasse o fato de vez. Porque apesar do sangue, tinha crescido como uma boa garota da Escócia. Ela tinha ouvido as piadinhas sobre os ingleses atrás do balcão da estalagem. E também tinha sofrido a perda de pessoas queridas naquela batalha para o qual a Inglaterra os arrastara.
Edwina tinha visto soldados escoceses voltando para a casa apenas para não mais encontrá-las. Para perceberem que tinham perdido tudo. E pior, para descobrirem que o que haviam lhe pertencido um dia tinha sido tomado pelas mãos gananciosas dos ingleses que ajudaram a defender.
