Na pequena vila de Arvoreda, dois meninos entraram na taverna enfadonha de Minelaus, o ranzinza. Aos gargalhos e brincadeiras, foram fazendo apostas sobre quem estava certo diante daquela questão: havia mesmo um humano do tamanho de um minotauro ali, naquelas terras de fim de mundo? Rodeados de beberrões e homens com cara de poucos amigos, tiveram um motivo para temer. À frente deles, uma vulto maior que qualquer um ali dentro, maior que qualquer humano que já tinham visto. Os risos pararam, os corpos não se moveram, os olhos não piscaram. Era realmente amedrontador. Será que tal criatura havia notado que estavam rindo dele? Por acaso morreriam ali, naquele instante?
A criatura se levantou. Tomou o rumo na direção de ambos. Os meninos continuaram olhando em frente, estáticos, mas sem conseguir encarar o ser medonho. A bexiga de um deles acusava o golpe, quase mijando nas calças. O medo era incontrolável. O segundo tremia incessantemente. Não conseguiam subtrair as feições claras de pavor. Para alívio de garotos, o ser humano, de quase dois metros, cabelos grisalhos e barba semi cheia, passou direto. Seu destino era ir até o balcão.
— Mais hidromel, Minelaus — com uma voz grave e intimidadora, o grandalhão recolocou o copo à frente do taverneiro, que voltou a servi-lo. Minelaus, com olhar de poucos amigos, encheu o copo para o cliente exótico.
— Escaparam por pouco, garotos — na mesa ao lado, um homem com sorriso debochado se aproveitou da inocência dos garotos. — Depois de algumas taças, dizem que ele gosta de aperitivo de criancinhas curiosas.
Com gritos de puro desespero, os meninos saíram correndo, e chorando e tropeçando, como se não houvesse o amanhã. O autor da brincadeira se levantou aos risos. Pôde ouvir algumas pequenas risadas nos demais clientes do recinto. Satisfeito, foi até o brutamontes assustador, que mostrou indiferença a tudo aquilo.
— Que a chama da Fênix o ilumine — apontou a taça que trazia, saudando o brutamontes. — Não precisa fazer essa cara de bravo, pelo menos não vão mais perturbar você. E Minelaus, simpático como sempre, bota um sorriso nessa cara, homem.
Milenaus serviu o recém-chegado no balcão, que logo tratou de beber. O dono da taverna, contudo, manteve o jeito apático, mostrando total falta de paciência.
— Sou Reece — apoiou os cotovelos no balcão, encarando o homem intimidador. — E você, é daqui? É soldado de Tyrondir?
Reece observou o grandalhão de cima a baixo. As vestes enegrecidas e esfarrapadas. A armadura também em estado decrépito, enferrujada e em certas partes mofada. A espada maior do que qualquer uma de um cavaleiro ou guerreiro padrão. |E como se já não bastassem esses agravantes, tinha o rosto. Aquele estranho parecia estar sempre emburrado e com um olhar vazio. Uma cicatriz cortava seu rosto em diagonal, fora outra cicatriz que tinha no queixo.
— Não sou de Tyrondir — o brutamontes respondeu, seco.
— Ah, eu também não sou — olhou-o diretamente pela primeira vez, e então, a surpresa. Um olho de Reece era comum, o outro era como um felino, de retina contraída, na cor amarelada. —Sou de Collen. Você tem um nome?
— Kain — levou a caneca à boca. Quando observou o olho incomum de Reece, seu olhar mudou, abrindo em surpresa. — Veio de Collen para essa terra de merda?
Reece abriu um sorriso. Diferente do que Kain esperado, ele não se ofendeu com o que fora dito. Em Collen, seu reino de origem, os habitantes possuíam uma peculiaridade, a cor dos olhos. Era comum que as pessoas tivessem olhos de cores e formas diferentes. Alguns podiam ter poderes até, embora fosse propagado como boatos. Kain sabia que não.
— E você? Deixe-me ver — com um sorriso desafiador, voltou a analisar o companheiro de balcão de taverna. — Petrinya? Não sei, você é rústico como um tolleniense.
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Tormenta By Oak
FantasiaTormenta é um cenário de RPG, o mais famoso do Brasil. É vasto. É mágico. É fantástico. Quantas e quantas histórias podem ser contadas tendo esse cenário como base? É imensurável. Acompanho esse cenário desde seu início. Tenho inúmeras possibilidad...