Aquele lugar fedia a gente morta. Não que eu pudesse reclamar desse cheiro, mas era pior do que o que exalava de mim. Minhas narinas pareciam estar sensíveis e meus olhos ardiam apenas por caminhar por aquele lugar.
O lugar estava completamente escuro, mas não o suficiente para que notássemos as largas lâmpadas acima de nós. Apesar do fato de sequer sabermos onde ficavam os interruptores, acende-las não era uma opção, já que chamaria atenção demais para nós.
A nossa frente, um largo freezer. Suas bordas estavam enferrujadas e a porta tinha riscos vermelhos indicando que muito sangue já havia sido derramado ali. Enquanto decidia mentalmente se era seguro ir até lá e verificar, Master Hunter já abria a porta e vasculhava o interior. Ele retirou um saco plástico com algo dentro.
- Ei presunto, achei teu órgão mágico.
A piada de Master Hunter poderia nos custar a vida. Infelizmente ele também perceberá tarde demais. Em menos de cinco segundos as luzes do açougue se acenderam. Uma a uma.
Os azulejos brancos, porém velhos contrastavam com as manchas marrons de sangue velho. Do outro lado da sala, uma figura encapuzada nos observava. Antes mesmo que eu pudesse esboçar qualquer reação o homem avançou em nós e Master Hunter tomou a frente. Os dois entraram em luta corporal.
Enquanto os dois rolavam pelo chão pude ver o rosto do homem de capuz. Na verdade, vi a máscara que a cobria. Uma máscara azul, no lugar dos olhos, apenas orbitas negras, vazando um liquido escuro. Aquela era a criatura que costumavam chamar de Eyeless Jack. Ele não parecia estar se esforçando muito, já que os golpes que Master Hunter lhe acertava eram certeiros em todas as tentativas. Brecha para mais piadas do humor duvidoso de Master Hunter.
Quando Eyeless Jack entendeu qual era nosso propósito ele desistiu da briga. Fugiu como um covarde, mas devíamos ter previsto que não era apenas isso. Ele se arremessou contra as prateleiras derrubando-as e enormes vidros. O cheiro daquele líquido que se espalhava pelo chão era impossível de não reconhecer: Gasolina.
Master Hunter estava tão empolgado com a briga e em perseguir Eyless Jack pelo lugar que não notou o que o mesmo fazia. O agarrei pela parte de trás da camisa e o puxei para fora.
Por quase trinta minutos permanecemos em uma discussão árdua enquanto o açougue ruia em chamas atrás de nós.
Eu tinha acabado de salvá-lo, mas não me contentei. Em um momento de impulso e fúria o acertei com um soco no rosto. Ele caiu, mas não se levantou ou revidou. Apenas ficou sentado me observando.
- Você acabou com minha única chance! - gritei. Pude ver os músculos da face de Master Hunter se mexerem esboçando uma resposta, mas sua cabeça se contorceu para trás enquanto seu nariz jorrava sangue.
Voltamos para a SCP em busca de ajuda. Eu já estava acostumado a me arrastar como um pedaço de carne podre, mas bem que gostaria de ter uma equipe inteira para se preocupar comigo, como fizeram com Master Hunter.
Enquanto era colocado em uma maca, Master Hunter disse:
- Dood, vamos fazer uma troca. - era difícil compreender o que ele falava em meio as bolhas de sangue que fugiam de sua boca. - Você me dá a cura depois que estiver novo.
- E como vamos ter uma cirurgia sem órgãos?
- Estou te devendo um rim, e vou pagar com um meu. - ele respondeu e sorriu meio sem graça mostrando os dentes vermelhos com o próprio sangue.
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PARADOXUM
HorrorImagine-se acordando em meio a sacos de lixo e, para seu espanto, percebe que o cheiro de carne podre não vem dos restos ao seu redor, mas do seu próprio corpo. Acompanhe a peculiar história do homem que um dia acordou e descobriu estar apodrecendo...