Galhos Fracos

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 Desde aquele episódio, meus pais festejavam todos os meus aniversários. Sempre faziam grandes festas. Convidavam todos os seus amigos e seus filhos para comemorarem. Meu pai trabalhava na fábrica de castanhas, cuidava da parte de logística. Minha mãe se dava a cuidar da casa e de todos nós. E agora, estou às vésperas de completar meus 13 anos de idade. Estou cursando o sexto ano do fundamental. sinto-me muito feliz. Tenho liberdade para brincar o tempo que quiser, desde que esteja com as tarefas feitas: dever de casa, quarto arrumado. Além disso, minha mãe sempre faz meus pratos prediletos. Bife com batatas fritas e carne assada de panela. Adoro batatas. De sobremesa, revezam entre o creme de cupuaçu e o sorvete de açaí com tapioca. Minhas paixões. Ela agora anda bastante ocupada organizando minha festa. No colégio, sempre procuro tirar boas notas, mas não sou CDF. Tenho muitos colegas na escola. Na hora do intervalo sempre corremos e brincamos. 

Às vezes, tento fugir de alguns assuntos, como por exemplo, as mudanças e transformações que nosso corpo vai tomando. É perceptível sim. Além da estatura, alguns membros também vão tomando formas e tamanhos intrigantes. Pelos vão aparecendo em partes onde nem imaginava que poderiam existir. Quando estávamos só entre meninos, eles gostavam de se exibir uns para os outros, seus tamanhos e formas, suas transformações, músculos, tamanho dos pés. As vezes eu entrava na onda e também acabava me exibindo, tinha um porte que vinha se desenvolvendo bem com passar dos anos, algumas características em mim destacavam-se com mais intensidade, como: olhos, ombros, nariz, pés e mãos. No final, sempre havia zoação e encarnação com alguns de nós. Tudo terminava em gargalhadas. 

Chegou o dia do meu aniversário. Como sempre, fora uma festa e tanto. Do meu grupo de colegas da escola, eu sempre tivera uma afinidade maior com Pedro. Ele era o filho do meio de um casal de amigos dos meus pais, o Sr. e a Srª. Almeida. Nos conhecemos no primário e, desde então , estudamos juntos. Ele era mais velho que eu, apenas meses de diferença. Era um pouco mais alto, uns cinco centímetros, seus cabelos eram castanhos e sua cor mais escura que a minha, o que era muito interessante pelo fato de sua mãe ser negra e seu pai branco. Algumas vezes conversávamos e compartilhávamos de assuntos que geralmente não falávamos quando estávamos em grupo. Geralmente o assunto era relacionado a meninas. Brincávamos em dizer que algumas das garotas mais populares da escola eram nossas namoradinhas. Eu gostava de estar com Pedro, sentia-me bem quando estávamos juntos. Não sei explicar. Apenas gostava. Em um dia qualquer, na hora do intervalo da escola, fomos para a quadra de esportes brincar, meninos e meninas. Alguém sugeriu que brincássemos uma nova brincadeira, a brincadeira da garrafa. Tínhamos que sentar em círculo, colocar a garrafa no meio e girar, para que a garrafa apontasse, teríamos de dar um beijo. Pedro e eu ficamos nervosos, nunca tinha beijado ninguém. Chegou a minha vez de girar a garrafa. Girei e ela apontou para Pedro que, rimos sem graça. Então girei novamente. A garrafa apontou para Letícia, uma aluna do nono ano. Nos aproximamos e, nos beijamos. meu coração queria sair pela boca. Mas tive uma sensação muito boa. Eu me veria de uma forma diferente a partir de agora.

Eu segui com minha vida normalmente. Certo dia, fomos jogar bola no quintal de um dos nossos colegas da escola, Erick. Terminamos uma partida. Decidimos subir em uma árvore para pegar jambo. Eu queria mostrar o quão alto conseguia ir no jambeiro. Pra quem não sabe, os galhos de uma arvore de jambo são bem fracos, mas na época eu não sabia. Foi quando tentei pular de um galho para o outro e o mesmo não suportando o meu peso acabou quebrando e, eu cai de uma altura de quase 10 metros, batendo o corpo e a cabeça nos galhos da árvore. Cai no chão. Desacordado e sangrando. Então, mais uma vez, eu entrara naquela dimensão de quando tinha quatro anos de idade. O lugar parecia idêntico. Escuro, fumaça, vultos de pessoas passando, e passando por mim e sobre mim. Meu segundo óbito. 

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