Foi como um sonho

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Era ano de 1970. Belém, capital do Estado do Pará. Um choro ecoa pelo quarto de paredes verdes em tons variados. Foi meu primeiro som emitido e minha primeira forma de comunicação neste mundo, a qual dizia: estou vivo. Eu, Antônio Teixeira da Silva, chego a este mundo. Pesando 3,6kg, medindo 40cm, ensopado pelo líquido da placenta que me guardara por longos nove meses. O parto fora normal e tranquilo. O obstetra me pegara nos braços, com ar de satisfação pelo bom parto que fizera, dizendo a minha mãe: É um menino! Depois fora conduzido a outra sala onde tomara um banho, dado pelas enfermeiras daquele hospital, que se chamava: Hospital Dr. Abelardo Santos. Passaram-se dois dias, então tivemos alta e fomos para casa.

Ali, eu viveria por uma grande parte de minha vida. Seria feliz, choraria, ficaria bravo. Teria muitos momentos emocionantes. Muitos altos e baixos. Os primeiros anos se passaram. Faltavam poucos meses para que completasse cinco anos de idade. Certo dia, comecei a sentir uma febre alta, 39 graus, e fortes dores pelo corpo: costas, músculos, pescoço. Além de fadiga, calafrios, náuseas, perda de apetite, entre outros sintomas. Meus pais, a Srª. Ivone e o Sr. Joaquim, levaram-me ao hospital onde há quase cinco anos eu tivera o primeiro contato com este mundo físico. Eles temiam, tinham uma leve e forte sensação do que poderia ser, mas preferiam não acreditar. Não queriam sofrer por antecedência. Naquele ano, final de 1974, havia rumores de uma epidemia que acabara de chegar ao Brasil. Porém, o regime político que regia o país não queria abrir os olhos para isso, pelo contrário, iria esconder de forma insana e criminosa contra a nação brasileira. Sim. O médico confirmara a meus pais. Eu fora diagnosticado com meningite. O médico que não perdera tempo me internou rapidamente, tomando as primeiras medidas de tratamento contra a doença. O meu quadro era cada vez pior, as medicações pareciam não surtir efeito. Minha mãe estivera ao meu lado o tempo todo. No terceiro dia após a internação, eu viria a óbito. Seria meu primeiro.

Foi como um sonho. O fechar e abrir dos olhos. Estava tudo tão escuro. Havia fumaça densa, não sei dizer de onde ela vinha nem para onde ia. Eu via vultos como se fossem outras pessoas passando pelo mesmo lugar, passando por mim,crianças e adultos. Estava assustado, comecei a ficar com muito medo. Senti falta de ar. E, agora, todas essas sensações aumentavam velozmente, ficando cada vez mais intensas, comecei a sentir muita, muita falta de ar a ponto de... eu não conseguir mais aguentar e, a única coisa que consegui fazer foi gritar. Gritei de forma pavorosa. Tão pavorosa que poderia assustar um prédio inteiro de 15 andares.Foi como um sonho.

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