Sete Vidas

*O que eu vou fazer ?*

Pela segunda vez, eu ira e voltara. Meus pais perceberam que o que houve comigo aos quatro anos de idade não foi apenas um milagre. Havia algo não de errado mas, algo que os intrigaram profundamente. Aproveitaram minha fase de recuperação para fazer uma bateria de exames a fim de descobrirem algo científico que pudesse de alguma forma explicar o que acontecera comigo por duas vezes. Eles realmente queriam que houvesse uma explicação. Porém, para surpresa de ambos, fisicamente falando eu estava ótimo e sem qualquer alteração biológica.

Três anos se passaram após aquele acidente. Quase nada mudou em nossa rotina. Meu pai continuava a trabalhar, minha mãe continuava cuidando da casa, porém estava pensando em arrumar um trabalho de meio período para ocupar-se de outra forma e também porque gostava da ideia de ter uma independência financeira. Eu continuava os estudos e agora em fase de conclusão do ensino médio. Meus colegas e eu estávamos muito ansiosos em qual curso escolher para entrar na universidade. Isso se entrássemos em alguma. Naquela época não havia tecnologia de alta qualidade e nem internet. Provavelmente só havia o Bill Gates na garagem de sua casa trabalhando naquilo que futuramente iria causar uma revolução mundial em termos de tecnologia de sistemas e programas.

Não sabia o que queria ser. Qual curso escolher. Entre tantos cursos oferecidos na universidade não sabia por qual decidir. Mas precisava optar por algum, afinal, tratava-se do meu futuro. Não teria mais volta, tinha que escolher. Mas por que tinha que escolher naquela hora? E se eu não quisesse escolher naquele momento? E se quisesse passar um tempo sem fazer nada e aí sim num belo dia descobrir o que gostaria de ser ou fazer na faculdade? Mas na verdade eu precisava decidir-me. Alguns de meus amigos já tinham escolhido o que cursar, outros os pais já haviam escolhido para eles. Meus pais diziam que eu poderia ser o que quisesse, desde que não fosse um zé ninguém.
Nesse mesmo período havia notícias de uma "nova" doença que colocara os cientistas de vários países em incansáveis pesquisas para poder desenvolver uma vacina, medicamento que fosse capaz de curar as pessoas que estivessem infectadas. Houveram os primeiros casos confirmados nos Estados Unidos. Não havia tratamento eficaz. Não havia cura. Sabia-se que tratava -se de um vírus, vindo dos chimpanzés verdes. Porem como aqui nao havia nenhum caso, então não ficamos tão apreensivos. A preocupação daquela nova geração de jovens era com a escolha da profissão e com o fim da ditadura militar no país.
Estudava pela manhã o terceiro ano do ensino médio e a tarde pre-vestibular. Mesmo sem ainda saber que curso iria escolher. Vivia na correria. As vezes na correria, esquecia até de olhar para as vias de mão dupla para atravessar ruas ou, esquecia de olhar o semáforo. Foi quando num dia saindo da última aula do pré-vestibular e caminhando para casa. Distraído. Só ouvi o forte som de uma buzina nos meus ouvidos ...