Carrego em mim um coração ansioso, guardo em mim a pressa de quem vive sem lembrar que o amanhã ainda existe. Moro em um casulo de fome que não passa, de amor, de amar, de me dar e doar. Mas me controlo, me mordo, me prendo e morro antes mesmo de tentar. Até agora. Eu não sei quem é a dona do olhar que me assombra, me desnuda e me toma pra si sem tocar, não sei o que me fez cruzá-los naquela noite de cansaço, mas encará-los de volta me transbordar, sem forças, sem ar, sem espaço para dúvidas. Quando toquei tua pele – e, porra, que pele! – esqueci de mim, naquela hora, assim que me entreguei a você. Vi que meu corpo era seu no momento em que senti sua língua deslizar por todo e qualquer centímetro dele, você fez questão de preencher todos os buracos vazios que haviam em mim com tua boca e com os dedos. Ah, esses dedos! O anel prateado brilhava com o reflexo da televisão no seu dedo anelar, prova básica de que você também me pertencia, mas eu só conseguia pensar como era gostosa a sensação de te observar tirando-os de mim e levando-os até a boca se saboreando com o meu sabor. Eu sabia ao me entregar que uma hora ou outra você me destruiria, éramos assim, explosivos na mão uma da outra, se não de prazer, de destruição. Éramos. Seres completamente opostos capazes de se completar por jogarmos o mesmo jogo. Éramos tudo. Éramos nada. Éramos alguma coisa. Mas eu sabia também que pouco importava nesse momento, pois eu me renderia ao seu olhar que me devorava inteira de qualquer forma, lugar ou distância e que usaria qualquer desculpa para me ter por perto e eu, bem, não queria nada além disso, eu nunca quis tanto alguma coisa como quis ser sua.
Eu nunca cultivei o hábito de olhar nos olhos das pessoas, pois sempre acreditei no ditado que os revelava como janelas da alma e eu enlouqueceria com a ideia de deixar alguém enxergar tão fundo dentro de algo tão íntimo meu, mas ali estava eu, inteiramente nua sob você e seus perturbadores olhos claros desfilando com fogo e tesão as partes mais íntimas de mim. Primeiro os meus olhos, depois o meu corpo e agora você está entre as minhas pernas explorando cada fragmento meu de um jeito que ninguém nunca foi capaz, eles já nem parecem os cacos estilhaçados das minhas incontáveis quedas, eles só parecem seus tanto quanto eu.
Você me contou tudo de pior sobre você na primeira vez que nos falamos e eu ouvi o melhor quando você se silenciou e se dispôs a me ouvir, desde aquele dia, meu relógio corre mais lento e eu passo cada momento do meu dia lamentando por estarmos longe uma da outra. Cada vez que respiro, inexplicavelmente sinto o cheiro da tua pele enquanto eu chupava seus seios, tanto que se eu me esforçar um pouco mais posso jurar ouvir os seus gemidos altos e sua respiração acelerada. Quando te tocava, podia sentir o seu coração e poderia jurar que você nunca esteve tão viva, só não poderia estar mais que eu.
Te quero sempre um pouco mais. Toda essa intimidade contigo me deixa vulnerável trazendo à tona tudo que mais reprimo. Minha pele arde e queima, posso senti-la enrubescer de desejo e eu não consigo entender o funcionamento do meu corpo quando se trata de você, quando você arranca frases inteiras de mim de lugares onde habitam coisas indizíveis. Perco controle de tudo tão de repente e nada mais me parece proibido o suficiente para ser capaz de me parar quando avanço em cima de você, e até mesmo agora, enquanto eu te escrevo e penso em nós, meu coração torna-se um trem desgovernado a ponto de fugir dos trilhos e esquece o jeito certo de pulsar, assim o meu pensamento passa a me trair no meio do dia, estou sentindo o teu toque, o teu calor, não sei achar uma forma certa para controlar a minha respiração e meu sexo que pulsa cheio de desejo. Fecho os olhos e posso sentir teu beijo, não sei se escrevo ou enlouqueço, pois posso sentir a pressão de tuas mordidas nos meus lábios, percorrendo o caminho, hoje já tão familiar, descendo pelo meu pescoço até chegar a parte mais sensível dos meus seios e chupá-los com fome e força de quem pede posse e ao mesmo tempo toma o que quer sem nenhuma permissão, foi assim que você conseguiu tudo. – Você sabe que não precisa pedir, nunca precisou. Sussurro seu nome entredentes e você pede para falar mais alto – você gosta de como ele se refaz no meu sotaque quando as letras que o compõem senta sobre minha língua do mesmo jeito que eu gosto quando você faz o mesmo.
Sinto minha pele irradiar de tesão em cada parte que você deixa para trás para continuar trilhando o seu caminho, sim, o seu. E já posso sentir sua boca alcançando o lugar que mais anseia por ela e não preciso perguntar entre os meus delírios como o meu gosto parece para você, pois você como sempre se adiantando perante as minhas vontades, foi mais rápida, trazendo-os até a minha boca com os dedos e depois com sua boca e enquanto você me beija, meu sexo responde a sua mão o alcançando com movimentos precisos e intensos me deixando cada vez mais excitada e ansiosa por seu toque. É inútil para mim tentar resistir, estou toda molhada, cheia de prazer ao te ver se lambuzar no meu gosto como quem estava sedenta pela sobremesa antes mesmo do jantar – jantar que abandonamos no fogão, já que fizemos questão de explorar todos os lugares da casa, inclusive, a mesa – eu amo te ver se perder em meu sexo e é assim que me perco, mergulhando na vastidão do teu afeto. Tua boca tão sedenta quanto teus olhos faz questão de nunca descansar no meu corpo me fazendo te desejar cada vez mais com a intensidade de dois corpos que insistem tanto um ao outro a ponto de tornarem-se apenas um – não para vai, por favor – eu preciso te pedir para não parar, minhas pernas tremem em suas mãos – passa a língua vai, não para, dessa vez faz bem devagar – eu preciso sentir você tentando controlar suas vontades, você apertando minhas pernas e pressionando as mãos na minha pele até alcançar a lateral da minha bunda e lá fazer o que você sabe que me deixa louca, me contorço com o estalo dos tapas e não consigo poupar os gemidos enquanto me desfaço da melhor forma em sua boca, em suas mãos, em você e... caralho, que delícia! Não me peça que isso acabe. Suspiro buscando ar.
– mas agora deixa eu retribuir todo esse prazer, vai. Deita aqui.
Te puxo pela cintura e te trago para baixo de mim, você adora isso, eu sei. E eu, não vejo a hora de sentir o seu gosto escorrendo pela minha boca, vou adorar te devorar inteira. Correndo beijos por todo o seu corpo te boto de quatro sobre mim e enquanto te chupo inteira, penetro meus dedos em você. Vejo você suspirar exasperada.
– agora não. Estamos apenas começando...
(CONTINUA) na vida real.
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VOLÚPIA
Chick-LitContos, poemas e prosas na forma mais poética que o gozo de uma paixão avassaladora pode se apresentar em linhas, folhas e palavras. ( ) em andamento (X) pausado ( ) finalizado