Draco ficava encantado todas as vezes que os olhos verdes de Harry trocavam de tonalidade, de acordo com o clima; quando sol, seus olhos ficavam estranhamente escuros, um verde-lama, que parecia brilhar incandescente e, quando um pingo de água anunciava uma torrente de chuva, seus olhos ficavam claros, quase como esmeralda, dourados ao toque da luz. Os lábios rosados, finos, contrastavam com a pele morena, os cachos curtos e fechados, prestes a cair pelas orelhas, como grandes caracóis escuros e brilhantes. Seus dedos passeavam um pelo o outro, finos e longos, ágeis e espertos.
O mais surpreendente naquele garoto que parecia vir de alguma terra exótica, muito longe da pálida e cinzenta Londres, era o fato de que tudo girava em torno de uma característica inerente ao sol, ao clima, ao passar do tempo. Tudo girava em torno de sua fragrância, do cheiro de seus cabelos, de sua roupa quando se movia; estava impregnada em sua mochila, nos seus cadernos, nas suas meias, no seu pescoço. Um simples toque e ele transmitia sua fragrância, como abelha espalha pólen. Draco, sentado de frente para o Harry, se perguntava se o rosto do corpo do moreno também era avelã, de cor e de cheiro.
Desde então, Draco não conseguia vê-lo da mesma forma. Sempre que um pedacinho de pele do moreno ficava a mostra, ele se arrepiava; fosse o abdômen, os ombros, as coxas em dias de academia, os pelos da barriga quando Harry pulava ou um centímetro de seu peito, estampado por aquele minúsculo, brilhoso e castigado colar da estrela de davi.
Draco era o completo oposto de Harry; ele não tinha os ombros largos, os cabelos cacheados, a pele morena, os olhos verdes e o cheiro de avelã. Ele era do avesso, muito alto, muito branco e sempre que ficava envergonhado, seu rosto simplesmente explodia em chamas, torneado de vermelho nas bochechas, como um papel branco pincelado de tinta aquarela. Era como ele estava se sentindo naquele momento, olhando fixamente para a órbita esverdeada de Harry.
— O que você quer fazer quando sair daqui, Harry? — Draco perguntou.
Eles estavam no dormitório, cada um em sua cama, acordados desde a madrugada, observando o sol nascer pela janela. Harry estava usando apenas seu short de dormir, o resto de seu corpo descoberto; as pernas esticadas contra a parede, os dedos entrelaçados em seu cordão. Draco, do outro lado do quarto, de barriga para cima, observava o amigo, tomando cuidado para não imaginar mais do que poderia.
— A longo ou a curto prazo? — Harry perguntou, sem olhar para o amigo.
— Os dois.
Harry pareceu pensar por alguns instantes. Aquelas eram suas últimas horas naquele internato, suas roupas para a formatura, protegidas por um plástico, já estavam penduradas do lado de fora dos armários. Estavam tão ansiosos que sequer haviam dormido, passado a madrugada inteira discutindo sobre os melhores momentos, a primeira vez que haviam se visto, as primeiras férias em conjunto, quando descobriram que iriam ficar em quartos diferentes no segundo ano e inventaram que Harry era o único que conseguia tranquilizar Draco em "crises de pânico". Estavam se lembrando de tantas coisas que, a cada novo raio de luz do sol, Draco se questionava se não era melhor deixar as coisas simplesmente terminarem por si só, sem que eles precisassem ficar revivendo e revirando todas aquelas memórias.
— A longo prazo... eu quero encontrar uma carreira que me chame atenção, ajudar meus pais, escrever um livro de memórias sobre todas as merdas que eu já fiz nessa maldita escola de freiras.
Os dois riram, cada um à sua maneira. A risada de Harry era gostosa, aveludada, assim como sua voz, seus movimentos, seus trejeitos; ele conseguia rir sem ficar muito feio, sua pele morena ajudava com a ruborização, transformando-se em um dourado fluorescente, translúcido.
— E a curto prazo?
Harry respondeu sem pensar duas vezes: — Encher meu rabo de cachaça!
E os dois riram novamente, mas existia uma segunda razão para aquilo. Se eles eram amigos agora, era porque na primeira festa da turma do primeiro ano eles eram os únicos sóbrios que ajudaram todos a voltarem para casa. Quando diziam que queria beber até não parar mais, queriam dizer que não iriam fazer planos, não iriam se segurar por nada nem ninguém, sem criar compromissos.
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.avelã - drarry
FanfictionQuando começam a discutir as lembranças que ficarão da escola e os seus planos para os futuros, Draco e Harry se vêem em uma situação embaraçosa quando, arrependido, Draco revela que nunca beijou um garoto da escola, o que deixa Harry completamente...