Festa na mansão assombrada de Peruíbe

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– Me fala um pouco sobre você – pediu Alemão, um garoto muito alto, muito branco e muito magrelo.

– Só jogar frescobol não tá bom? – perguntei. – Sabe, eu gosto de jogar em silêncio pra não cansar.

– Então vamos sentar ali no quiosque com meus amigos – Alemão apontou para a mesa 8, onde havia dois garotos comendo camarão e bebendo cerveja.

– Tá bom.

Alemão pegou a bolinha azul, que estava caída na areia, caminhou em direção à mesa e eu o segui.

– Como assim você acabou de conhecer a gata e ela já veio sentar com a gente? – o garoto asiático perguntou.

– Ai, coitada da menina – o garoto negro repreendeu. Sua voz era bem afeminada, certeza que era gay. – Não liga pra ele, preta, ele não tá acostumado com mulheres que não sejam as irmãs ou as tias.

– De boa – respondi. – Enfim, meu nome é Rafaela.

– Esse é o Cyberchase – Alemão disse apontando para o garoto negro. – Ele é um gênio da tecnologia, o garoto faz tudo. Já esse arrombado – ele apontou para o asiático – é o Botijão. Ele explodiu um botijão quando era mais novo e conseguiu sobreviver, o cara é foda.

– Uau, tô impressionada – falei e ri.

– Agora conta a sua história – Alemão pediu. – Pode ir comendo e bebendo também, é por nossa conta.

Revirei os olhos e ri um pouco sem graça, mas os três garotos me encaravam com expectativa.

– Certo – comecei. – Como todas as férias de verão, vim passar dois meses em Peruíbe com a minha tia. Tia Eliana é irmã do meu pai, mas ela me odeia com todas as forças. Basicamente, papai me manda passar as férias de verão com ela porque ele tem um acampamento de verão para jovens infratores recém-recuperados no RS e não pode me levar com ele. Ainda bem, odeio o sul... Enfim, mesmo minha tia me odiando, é muito bom passar dois meses na praia, fazendo novos amigos a cada ano.

– Você não tem cara de quem faz novos amigos a cada ano – Botijão falou. – Sem querer ser um cuzão, mas cadê esses amigos?

– Ele tem razão – concordou Cyberchase. – Se você sempre faz amigos, por que tá na praia sozinha?

– É que eu mato os amigos antes de voltar pra São Paulo – respondi despreocupada, mas acabei me preocupando quando vi os rostos assustados dos garotos. – Gente, calma, é brincadeira. Eu só não continuo as amizades quando volto pra minha cidade, só isso.

– Ah, já sei – Alemão estalou o dedo. – Eles ficam aqui com as amizades que já existiam, você volta pra sua cidade e eles esquecem que você existiu.

– Aham – concordei e dei um gole na cerveja de Cyberchase. – Enfim, o que vocês vão fazer depois desse passeio de fim de tarde?

– Ah, eu vou pra casa – respondeu Cyberchase.

– Eu também – Alemão e Botijão disseram ao mesmo tempo.

– E se a gente fosse pra alguma festa? – sugeri. – Não, melhor ainda, e se nós déssemos uma festa? No caminho pra casa da minha tia eu vi umas casas vazias, trancadas até com corrente e tal... E se nós invadíssemos uma dessas casas e fizéssemos uma festa? Era só convidar o pessoal pelas redes sociais e eu tenho certeza que eles viriam.

– Seus amigos de Peruíbe? – debochou Cyberchase. – Sem querer ser babaca, mas eles nem lembram que você existe, você mesma acabou de confirmar. Por que acha que eles viriam em uma festa só porque você convidou?

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⏰ Última atualização: Jun 18, 2020 ⏰

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