I'm coming.

473 55 114
                                    

Luke.

Conforme o pincel espalhava a tinta amarela pelo quadro, eu deixei com que um suspiro baixo escapasse e as outras partes da minha ideia foram surgindo como os pingos de chuva na janela de um carro. Era fácil pintar sobre a minha sexualidade, especialmente quando todos já sabiam sobre ela, mas eu ainda precisava ter um pouco de cuidado com tudo que falava ou fazia.

A imagem de Ashton me tirou de meus devaneios e eu sorri para o meu colega que segurava o café com uma mão e o seu livro em outra. Nós éramos amigos desde sempre e é difícil de nos encontrar separados. Eu faço artes visuais e Ashton estava na turma de medicina.

- Soube da festa do Hood esse sexta? Nós deveríamos ir. - O moreno murmurava animado enquanto íamos em direção a cafeteria.

- Desde quando eu vou nessas festas, Ash? - Neguei, passando as mão pelos meus fios loiros os colocando para trás.

- Já se passaram nove meses, Luke. Já é hora de seguir em frente. - Ele estava certo, mas eu preferia não admitir. - Você quem sabe, certo?

Ashton não se aprofundou muito no assunto e preferiu continuar nosso trajeto em silencio, entretanto ele foi totalmente destruído quando Olivia nos alcançou. Ela havia se tornado nossa amiga e colega de apartamento quando se mudou da Lituânia. Ela é a melhor aluna no curso de ciências politicas e a melhor para fazer outros se sentirem bem.

- Oli, diga ao Luke que ele deveria ir a festa do Hood, sexta. - A mulher riu baixo, ajeitando seu hijab discretamente.

- Luke, ele não mora mais aqui. Você deveria se permitir conhecer outras pessoas. - Olivia tentava ser amigavel, especialmente depois de tudo que eu passei.

- Eu não quero ir, pessoal. - Murmurei irritado, balançando a cabeça e seguindo em frente.

Na entrada da cafeteria estavam Michael Clifford, capitão do time de basquete e estudante do curso de teatro; o queridinho dos professores e de todos os alunos. Ao seu lado estava Calum Hood, seu melhor amigo e estudante de música e Crystal Leigh, estudante de moda. Os três chamavam atenção a todo instante, mesmo quando não queriam. Particularmente, Michael é o pior de todos. O seu ego não cansa de ser inflado pelas outras pessoas, mas eu espero que algum dia ele saia desse pedestal que as pessoas o colocaram e consiga entender o que é a dureza do mundo.

- Vocês ouviram os boatos sobre eles? Estão dizendo que o Calum estava saindo com um cara. - Olivia disse assim que nos sentamos ao redor da mesa.

- Ele tem cara de quem gosta de qualquer pessoa. - Ashton deu os ombros olhando para suas mãos. Parecia suspeito.

- Você andou saindo com um cara e não disse quem era. - Ele riu, negando.

- Eu e Calum Hood? Você só pode estar brincando comigo. - Nós tres rimos e ele se levantou indo buscar nossos cafés.

- De verdade Luke, você deveria sair da sua caverna. Nosso loft vai virar uma galeria se você não parar de pintar como desculpa para fugir de seus problemas. - Respirei fundo olhando para a garota que tinha esperança em seus olhos. - Se você for a essa maldita festa, eu vou sem o meu hijab.

- Certo. Mas não estou fazendo isso para te ver sem o hijab, até porque moramos juntos. - Me dei por rendido e balancei a cabeça analisando tudo que poderia acontecer naquela festa.

Ashton voltou depois de alguns minutos segurando os cafés e bolinhos. Ele era o melhor amigo que alguém poderia querer. Seu coração sempre enorme e seu jeito de galã conquistavam todos ao seu redor. Eu tive Ashton em minha lista durante aluns anos, mas tosa essa ilusão se deu fim quando ele se assumiu bi. A ideia de beijar uma pessoa com a sexualidade oposta da minha, me deixava totalmente louco, era como uma fantasia.

- Sabe, Ash. Você é péssimo mentindo, nós ouvimos você chamar o nome dele quase toda noite nas ultimas semanas, sem contar as inúmeras vezes que ouvimos a sua porta fechar ao mesmo tempo que a porta de entrada. - Joguei a verdade em sua cara e apontei discretamente para Calum.

- Não é nada demais, é apenas um caso sem prioridade. - Sua voz era trêmula e indicava que ele estava mentindo, mas não valia a pena falar sobre isso.

- Certo, agora que eu vou a essa festa, o que eu devo usar? - Gargalhei, olhando para meus colegas que faziam o mesmo.

Era hora de seguir em frente e provar a mim mesmo que meu valor é muito maior do que um namorado que acabou com todas as minhas estruturas. Eu estava pronto para renascer e dar a melhor parte que havia reconstruído sozinho de toda a minha personalidade. Eu estava chegando para acabar com tudo.

Mistakes (MUKE)Onde histórias criam vida. Descubra agora