Parte I - Minha Cabeça

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"Só quem consegue calar tudo aqui dentro, arrumar tudo aqui dentro, é você". 
(Minha Cabeça, Clarice Falcão).

Rafaella não tinha mais certeza sobre a tal festa. Quer dizer, ela definitivamente queria festejar! Três meses de quarentena na casa do BBB, três meses de quarentena extra em sua própria casa. Ela precisava urgentemente de uma resenha! Rever os amigos, ouvir música, dançar, chorar de rir, dormir no chão depois de beber todas. Ela precisava daquela resenha como nunca antes! Só uma coisa a fazia ter dúvidas sobre essa festa. Apenas uma. Saber que Gizelly estaria lá.

Só que era ridículo ter essa dúvida agora. Primeiro, ela já tinha organizado tudo. Segundo, já tinha convidado todas as pessoas que queria que estivessem presentes. Terceiro, a festa seria dali a quatro dias, no último sábado de julho. Já estava feito. Não tinha como voltar atrás. Mesmo que tivesse como, Rafaella sabia que não voltaria. A verdade é que não tinha motivo. Ela já tinha aceitado o fato que, naquele momento, mais do que qualquer um de seus amigos, ela queria rever Gizelly.

Desde sua saída do BBB, no final de abril, Rafaella vinha mantendo contato diário com a advogada. Contava a ela sobre seus projetos e coisas do dia a dia e também acompanhava todos os projetos da capixaba, que lhe mantinha a par de tudo que estava acontecendo na sua vida pós-BBB.

Na primeira conversa delas, por facetime, as duas tinham comentado brevemente sobre o surto girafa que parecia dominar a timeline do Twitter e as fanfics do Wattpad. Por comentar, leia-se: Rafaella perguntou "e esse trem de girafa, hein?" e Gizelly respondeu "tudo doido esse povo do Twitter" e ambas riram nervosas por vários segundos de um constrangimento quase palpável.

Depois dessa conversa, o assunto se tornou um tabu entre elas. Não porque tivessem acordado isso, nem porque não gostavam do assunto ou porque as incomodava. Elas até falaram mais de uma vez sobre isso, em suas lives e entrevistas. Mas entre elas, em suas conversas particulares, o nome do shipp parecia ser um verbete riscado do vocabulário.

Rafaella sentia seu rosto queimar de vergonha toda vez que elas conversavam e alguma lembrança do BBB vinha à tona. Tudo que Rafa conseguia pensar era que Gizelly já devia ter visto todos os vídeos do programa, incluindo todas as capturas em que ela a observava por minutos a fio, sem conseguir desgrudar o olhar.

O que diabos eu tinha na cabeça que não percebi que estava sendo completamente óbvia diante de uma infinidade de câmeras? Rafa pensava. Os olhares, os códigos, meu Deus, eu achando que tava arrasando e na verdade tava me expondo pro país inteiro! A cabeça da influenciadora não parava quieta. E agora eu tenho que fazer a louca e agir como se nada tivesse acontecido e tudo não tivesse passado de um surto coletivo!

Rafa se perguntava até quando conseguiria manter esse assunto no limbo. Se perguntava como seu corpo e sua mente reagiriam ao ver Gizelly novamente, no sábado, agora em sua casa, em um momento íntimo e descontraído, longe das câmeras. Ela conseguiria continuar fazendo a desentendida e tratar Gizelly como mais uma de suas amigas?

- Pelo amor de Deus, cabeça, cê precisa de aquietar um pouco e me deixar fazer minhas coisas – a mineira falou em voz alta consigo mesma.

Rafaella olhou a lista dos convidados em sua agenda pela décima vez. Tentou ignorar o nome de Gizelly no topo, mas não conseguiu. Até ao fazer a lista ela tinha sido óbvia ao colocar a advogada no primeiro lugar. Sua cabeça gritou "mulher do céu, deixa de ser tão óbvia" e ela a sacudiu para conseguir ir adiante e começou a ler em voz alta o nome de Manu, seguido pelo de Thelma (que estava riscado porque ela não poderia vir por questões de trabalho), depois tinha Vivian, Naiara, Gabi, Bruna, Eusébio, Thiago e John, sendo que Bruna, Manu, Vivian e Eusébio viriam acompanhados. Ainda estariam aí em sua casa, Giovanna e Flavina, suas primas, que haviam permanecido com ela desde o encerramento da quarentena, na semana anterior, quando sua mãe e seu irmão Tato, com a esposa e a filha, tinham viajado para casa, em Uberlândia. Seriam, então, dezesseis pessoas contando com ela.

After do Fim do Mundo (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora