Parte II - Coisinha Estúpida

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"É algo tão estranho que eu mesmo não consigo mais compreender, uma coisinha estúpida que eu gosto de sentir".
(Coisinha Estúpida, Clarice Falcão – versão Something Stupid, Frank Sinatra)

Às duas e quinze da tarde do sábado, 25 de julho, Igor, Manu e Gizelly caminhavam pelo longo corredor que levava do avião ao desembarque. Eles nem precisariam passar para retirar as malas, pois tinham trazido a pouca bagagem nos maleiros internos da aeronave.

Manu percebeu durante todo o voo que Gizelly estava inquieta. E, à medida que o tempo passava e a chegada em Goiânia se aproximava, mais irrequieta ela parecia, mais se remexia na poltrona, mais matracava, pulando de um assunto para outro, como se precisasse falar e falar para ver se acalmava o próprio coração. Mas agora que estavam em solo goianiense, Gi tinha ficado surpreendentemente quieta, Manu não escutava sequer o ressoar de sua respiração.

Não muito longe dali Rafaella esperava a chegada de Manu, Igor e Gizelly de frente ao portão de desembarque. Do seu lado, sua amiga Vivian, que havia chegado no voo das dez da manhã, mexia no celular, mas não estava alheia à inquietação de Rafaella que se remexia num pé e noutro, como se não pudesse ficar parada.

- Parece que alguém tá ansiosa – Vivian comentou, rindo.

- Cê sabe que eu não paro quieta nunca – Rafa tentou despistar.

- Você acha que eu sou besta, Rafa Kalimann?

Rafa deu graças a Deus por estar usando gigantes óculos escuros de forma que sua cara vermelha e o arregalar de seus olhos não a entregassem ainda mais.

- Essa tua inquietação tem nome e sobrenome e é capixaba – Vivian continuou e a cutucou.

- Vivian, pelo amor de Deus, não me complica – Rafaella suplicou.

- Eu soube desde o segundo que botei os olhos em você antes do Rede BBB, não sei porque cê não fala abertamente disso comigo, qual que é problema?

- Nem eu sei – Rafa sussurrou, se sentindo um pouco frustrada por não saber o que pensar ou fazer quando o assunto era Gizelly.

- Olha – Vivian a tomou pelas mãos – cê tá na dela e ela, se não tiver na sua, é porque é uma besta. Se joga, mulher.

A conversa foi interrompida pelo suave grito de "amiga" que Manu deu. Não fosse por ela estar completamente coberta em moletons tie-dye e com óculos gigantes no rosto, todo o aeroporto teria percebido que se tratava de Manu Gavassi.

Rafa e Manu se abraçaram por longos minutos para matar a saudade que haviam guardado nos últimos três meses. Ao se largarem, Manu rapidamente introduziu Igor, que deu dois beijinhos nas bochechas de Rafa. Ela apresentou Vivian que logo saiu abraçando todo mundo porque amava abraçar e estava incrivelmente feliz de poder fazer isso de novo agora que a ameaça do coronavírus parecia ter quase desaparecido.

Por fim, os olhares de Rafaella e Gizelly se encontraram e foi a advogada que se aproximou para abraçá-la, enquanto os demais ficaram completamente parados e em silêncio, como se entendessem tudo e não quisessem interromper aquele momento solene.

Rafaella sabia que, ao separar do abraço, teria de voltar a olhar nos olhos de Gizelly e provavelmente voltaria a sentir toda aquela confusão e dúvida e inquietação que sentia ao se dar conta do tanto que a moça mexia com ela. Mas ali, agora, dentro do abraço, tudo que ela sentia era paz... uma paz tão grande que poderia durar a vida inteira. Elas encaixavam sem esforço, naquele tipo de abraço que dá pra ficar um tempão sem a posição incomodar.

- Que saudade que eu tava d'ocê – Rafa falou baixinho próximo ao ouvido de Gizelly.

- Não mais do que eu tava de você – foi o que Gizelly respondeu.

After do Fim do Mundo (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora