CAPÍTULO 01

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Encaro o objeto nas minhas mãos com o choro preso na garganta. Não aguento mais chorar e nem sofrer por isso. Nem tenho mais lágrimas. Estou seca.

A lista rosa clara, quase invisível, me diz pela décima, vigésima ou trigésima vez que não estou grávida.

Depois de cinco anos de casada e um ano tentando aumentar a nossa família, eu sinto que nem tenho mais força para ver mais um negativo.

Sinto-me mal. Sinto-me culpada de certa forma, mesmo que os milhares de exames que eu e meu marido fizemos comprovem que não tem absolutamente nada de errado com nenhum de nós dois, que podemos engravidar normalmente.

Jogo o teste de gravidez no lixo, com mais força do que o necessário, fazendo o barulho ecoar alto na lixeira de inox, e logo entro para o chuveiro. Sinto a água quente escorrendo na minha cabeça e descubro que o fato de que não há mais lágrima em mim é completamente mentira. Elas começam a cair, quentes e abundantes. Devastadoras.

Encosto a testa na parede e choro, questionando Deus pela milésima vez desde que essa saga começou.

O que eu fiz de errado?

Por que não tenho a vocação da maternidade, se o Senhor me deu a do matrimônio?

Fico tempo demais ali, tanto quanto posso para não perder os dedos após o enrugamento que a água quente causa. Enrolo-me na toalha e nem me preocupo em secar meu cabelo após vestir uma camisola.

Deito-me na cama enorme de casal, completamente exagerada, que Elias fez questão de escolher, e outra lágrima desce pelo meu rosto ao me lembrar do motivo da sua escolha. Não é para facilitar posições sexuais, não. Muito menos para que nossos corpos tenham conforto após um dia cansativo. Meu marido, o homem mais maravilhoso e paciente que poderia ter aparecido na minha vida, comprou a maior cama da loja de móveis pensando nas noites de medo dos nossos seis filhos que planejamos. Planejávamos. Já não sei dizer. Fantasiávamos que eles viriam no meio de uma noite chuvosa e pediriam para dormir com a gente. Nós os abraçaríamos e diríamos que tudo ficaria bem até que eles pegassem no sono.

Inconscientemente, toco minha barriga.

— Amor, já está deitada? — Assusto-me com a voz grossa e rouca de Elias e seco as lágrimas rapidamente.

— Oi, amor. Estou cansada... Hoje o dia no trabalho foi puxado.

Viro-me para a porta quando acho que estou recomposta o suficiente para que ele não perceba que chorei, mas estou iludida mais uma vez, porque sempre que os olhos azuis de Elias me encaram, é como se enxergassem minha alma todinha. Percebo pelo seu olhar que ele saiba que nada mudou de ontem para hoje. Nada mudou dos últimos meses para hoje.

Meu marido se senta na cama ao meu lado e passa a mão pelos meus cabelos molhados, olhando para mim com compaixão. Ao invés de isso me acalmar, isso só me deixa mais triste, mas contenho a vontade de chorar para depois. Odeio ter de ver esse olhar de pena em seu rosto.

— Você vai ficar doente se dormir com esse cabelo molhado... — diz baixinho e se levanta, indo até o banheiro e voltando logo em seguida com uma toalha seca. Ele volta a se sentar ao meu lado na cama e me estende a mão para me ajudar a ficar sentada também. — Deixa eu secar para você. Fica de costas.

Abro um sorriso fraco pelo cuidado que sempre teve comigo e o obedeço, ficando de costas, quase encostada no seu peito. Elias dá um beijo no meu pescoço e segura meu cabelo para secar minha nuca molhada pelos fios. Depois de secar a pele, ele passa para a cabeça, sacudindo a toalha como se estivesse secando um filhote de cachorro.

— Você vai me deixar parecida com um poodle, Elias.

— Será o mais lindo que alguém já viu — brinca e solto uma risadinha.

Bebê Inesperado [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora