CAPÍTULO 04

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O meio da semana chega lento, dolorido, arrastado. Como previ, assim que acordei no domingo, Elias não estava mais. No meu celular havia uma mensagem sua dizendo que me amava e que eu poderia ligar caso precisasse dele. Quase liguei na mesma hora, mas aceitei o tempo para pensar que ele me pediu. Por mais que isso tenha me devastado.

Encaro meu reflexo no espelho do trabalho, preparando-me para ir embora. Devia estar feliz porque meu chefe aceitou meu pedido de antecipação de férias, mesmo sendo feito fora do prazo de dois meses que a empresa permite, mas talvez o homem tenha ficado com pena do meu estado lamentável.

Saio dali e nem me despeço de ninguém. Olívia, a mulher que era apenas minha colega de trabalho e que rapidamente se tornou minha melhor amiga, está de licença porque está cuidando do marido que está doente, então não tenho de quem me despedir.

Peço um Uber e passo a viagem inteira pensativa. No meio do caminho, vejo um salão aberto e, como se outra pessoa estivesse no meu corpo, peço para motorista parar ali ao invés de me levar para casa.

— Obrigada — agradeço e desço do veículo, entrando direto.

— Boa noite, senhora. Tem hora marcada?

— Não. Tem vaga para uma repaginada agora?

— O que deseja fazer? — Olho-me no espelho, vendo o loiro natural, apagado e sem vida. Meu cabelo, coitado, está maltratado.

— Um corte, pintura e hidratação.

— Temos, sim. Vou chamar nossa melhor cabeleireira. Pode se sentar ali. Fique à vontade.

Agradeço e me sento, pensando que se ela vai chamar a melhor profissional é porque meu cabelo deve estar ainda pior aos seus olhos. De onde estou sentada, consigo ver os ossos avantajados da minha clavícula, que me deixam com uma aparência de caveira horrível. As bochechas cheias sumiram, dando lugar a um rosto magro, quase doente.

Ignoro a pontada de dor que ameaça vir com força pela ausência de Elias.

— Vamos lá, meu bem? — uma das mulheres que trabalha me chama, e eu me levanto, abrindo um sorriso pequeno para ela.

Sento-me na cadeira e digo o que eu quero, mas sempre tive medo de fazer porque meu medo de mudanças sempre falou mais alto. Vejo meu cabelo indo da altura dos seios para meu ombro. As mãos habilidosas da mulher trabalham no corte, enquanto ela me pergunta se o comprimento está bom. Aceno em concordância e sacudo os fios.

— Irá demorar um pouco para ficar platinado, porque teremos que descolorir. A sorte é que o seu é loiro e facilita — ela fala, mexendo nos meus fios.

E ela tem razão. Demora mais do que previ, mas assim que a mulher seca meu cabelo e os sacode em frente ao espelho, noto que valeu a pena. Minha pele branca ficou ainda mais clara, mas o cabelo bem-cuidado me deu outra aparência.

— Ficou maravilhoso! Muito obrigada. — Agradeço à cabeleireira após pagar.

Já está tarde e o salão estava apenas esperando terminar meu atendimento para fechar. Pego um novo Uber correndo, com medo de morrer assassinada após esperar quatro horas em uma cadeira do salão.

Graças a Deus tinha um motorista perto e logo vejo o carro estacionando em frente ao local. Desejo boa-noite para o senhor sentado atrás do volante e aproveito para fazer algo que não faço há meses, por mais simples que seja.

Tiro uma selfie e mando no grupo, atualmente parado, que tenho com as minhas irmãs no WhatsApp. Não demora para Karina mandar um "mentira" cheios de a's e exclamações de empolgação.

Bebê Inesperado [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora