Medo do

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Eu espero que vocês saibam que a história da chapéuzinho vermelho tem muitas "versões". Cada pessoa conta de um jeito, e eu não me importei em perguntar a versão original à ela.

Das poucas vezes que pude trocar algumas palavras com ela, era sempre arrogante e mesquinha!

Não eu não estou aqui para criticá-la, mas o sucesso subiu à sua cabeça e agora ela se acha a última bolacha do pacote.

Mas, sem mais enrolação, vou começar a fazer a minha história, traçar meu próprio caminho.

Assim como a chapéuzinho vermelho, eu também ganhei uma capa da vovó, só que de cor diferente, no caso ela é marrom.

Lá estou eu, sentada no meu pequeno balanço no quintal de minha casa, minha mãe aparece na minha frente e diz:

– Aqui, filha, pegue esta cesta e leve para sua vovó. Aí dentro tem pão, manteiga, bolo e frutas. Ela está se sentindo doente e espero que isso faça com que ela fique melhor. Não converse com estranhos, não saia do caminho e vá direto para a casa de sua avó.

Vou te poupar dos detalhes porque você já sabe onde minha avó mora.
Eu obedeço, como a boa menina que sou, e caminho saltitante pela rua.

Diferentemente da minha prima, não vou ter a ideia estúpida de cortar caminho pela floresta.
Continuo meu caminho pela cidade mas sou parada por alguém:

– Chapéuzinho Marrom, o que faz aqui? – Pergunta ofegante.

– Estou indo entregar a cesta para a vovó, ué.

– Eu sei disso, minha filha. Mas por que não está indo pela floresta?

– A senhora me disse para não sair do caminho, estou fazendo isso. – Respondo.

– Ora, Chapéuzinho. Eu sabia que ia fazer alguma coisa dessas, por isso te segui até aqui. Você precisa ir pela floresta, siga o roteiro.

– Não se preocupa com o que sua pobre e indefesa filha irá encontrar naquela floresta sombria e assustadora? – Faço um drama.

– Todos estão seguindo o roteiro, faça o mesmo, filha. – Ela me arrasta até a entrada da floresta. – Agora entre e não se esqueça de conversar com o Lobo Mau.

– Não acredito nisso. – Bufo e entro na floresta.

Vou entrando cada vez mais fundo no bosque e logo consigo escutar um barulho estranho, provavelmente o Lobo.

– Bom dia, Chapéuzinho Marrom! – O lobo me cumprimenta.

– Não fale comigo, senhor Lobo. Sei o que está tentando fazer, mas não vai rolar.

– Do que está falando, garotinha?

– Você quer saber o que eu estou fazendo, eu respondo que estou levando essa cesta para minha avó e você me pergunta o que tem dentro, eu respondo que têm pão, manteiga, bolo e frutas e você corre para ir a casa dela e se passar por mim. Come a pobre da velhinha e depois finge ser ela quando eu bato na porta.

– Não era para acontecer isto, o que faço agora?

– Não sei e não me interesso em saber. Tchau, senhor Lobo! – Falo me virando e continuo meu caminho.

– Mas precisamos seguir a história, custe o que custar! – Ele grita e arranca a cesta da minha mão. – Ótimo saber que está levando pão, manteiga, bolo e frutas para sua vovó.

– Me devolva isto, Lobo Mau! – Grito e puxo a cesta de suas patas peludas.

– Só me diga onde fica a casa da sua vovó e eu prometo lhe deixar em paz!

– Promete mesmo? – Pergunto arqueeando a sobrancelha.

– Eu prometo! – Ele concorda.

– Então vou te dizer e você me deixa em paz depois. Chegue mais perto.

– Fechado. Agora diga-me onde fica. – Ele fala e aproxima suas orelhas de mim.

– Você me acha com cara de boba, senhor Lobo? – Aperto uma de suas orelhas e ele grita de dor. – Não sou burra pra cair nisso! – Falo e saio correndo, mas infelizmente ele consegue me alcançar. Como esse lobo é insistente!

– Olha que lindas flores que temos aqui! Por que você não pega algumas delas para sua vovó? – Fala olhando para baixo do mini morro que estamos, algumas flores estão crescendo na grama verdinha lá de baixo.

– Se eu for pegar elas vou acabar saindo do caminho e gastando muito tempo!

– Mas é pra sua avó, não acha que vale a pena o esforço?

– Hm... – Penso por uns segundos. – Não, não acho!

– Se isto não está funcionando, vou ter que partir pro plano B, Chapéuzinho! – Ele grita e me empurra da ladeira, rolo desenfreada e só paro quando dou de cara com o chão, e as flores.

– Ora, mas que lobo sabichão! Ele vai se arrepender! – Falo me levantando e batendo as mãos na roupa pra limpar a poeira, me viro e começo a subir a ladeira. – Se ele acha que vai ficar por isso mesmo, está muito enganado. Esse lobo não perde por esperar! 

Chapéuzinho MarromOnde histórias criam vida. Descubra agora