Mercúrio

3 0 0
                                        

- Onde levar a Michele? Eis a primeira questão do dia. - Eita, que o dia vai ser tenso. Primeiro que não era nada normal acordar às 07h15 de um sábado com clima frio, ainda mais que a noite foi péssima! As palavras de Laura ficaram tateando em minha cabeça a madrugada lavando-me aos mesmos questionamentos.
Dei tanto na cara assim?
Por que não revelar nossos sentimentos?
Ela gosta de mim da mesma forma que gosto dela?
Por que o pai dela tem que ser tão cruel assim? Se fosse só pela diferença de idade que nem é tanta assim, 10 anos, ele e a Lurdes parecem ter bem mais que isso. Ele tinha que exigir que suas filhas só se relacionem com militares? Que século ele vive? Há!
Quando à conheci ela tinha 10 anos, menina mimada e já era bem falante mas dês de bem nova já era sonhadora e lembro o quanto fiquei espantado pela sua inteligência. Um ano depois à vi no aniversário surpresa que fizemos para a Laura e então só em seu aniversário de 15 anos, quando fiquei espantado pela mudança. Ficamos mais próximos quando ela começou a sair com nossa turma, isso as vezes em quê o pai estava viajando. O sentimento veio nem sei quando e porque, só chegou e estacionou.

Um barulho vindo da cozinha me despertou para a realidade. Minha mãe havia dormido em casa, provável que estava com ressaca, eu não há jugo, ela sabe como aproveitar a vida moderadamente.

- Dormiu em casa? Perguntei irônico.

Ela estava sentada rodeando a xícara com café sobre a mesa.

- Bom, essa é minha casa.

- Casa da minha vó, sua mãe.

- Minha casa.

Ela disse dando de ombros enquanto levava a xícara à boca.

- Bom dia, meu menino lindo.

Disse vovó ao entrar trazendo o cheiro de terra molhada com a brisa fria que entrou .

- Meu Deus mãe! O menino cresceu e ficou insuportável.

- Tive à quem puxar.

- Vocês dois não tem jeito.

Disse vovó enquanto me entregava minha xícara.

- Então! Fala logo, o que você quer?

Eu sempre entregava que estava querendo algo. Mãe sabe as coisas, quando criança pensava que esse era o seu super poder e sendo bastante infantil ainda pensava.

- Só preciso de uma indicação.

Ela olhou, esperando mais. Era típico dela e como sempre, conseguia.

- Vou sair hoje com uma amiga do trabalho e preciso de uma indicação de lugar que não seja muito caro. Nem me pergunte o porque estou falando com você.

- Menino abusado.

- Menino?

Disse vovó arrancando sorrisos.
Apesar de nossa família não tradicional, nus amávamos do nosso jeito, as vezes as atitudes minhas com minha mãe e vice versa era mais de irmãos, nus entendíamos assim apesar de incomodar a vovó as vezes.

- Deixa eu ver a cara da miliante.

Pensei por uns intantes na foto de perfil da Michele e não fazia idéia de como ela estava. Um certo gelo subiu pela espinha. Dei uma olhada rápida antes de entregar o celular.

- Hum... Bonitinha, mas tem cara de ser atirada.

- Deixa eu ver. Pediu vovó curiosa.

- Meu Deus! Dei de ombros.

- Gostei muito dela não. Foto de biquíni?

- Ok. Vai me indicar um lugar ou não?

- Leva ela no barzinho da T-63 lá é bom e não é muito caro, depois bom, vai depender de você e não dela.

- Pelo amor de Deus! Não engravida ela não.

O Que veio a seguir foram muitas gargalhadas.

- Calma mãe, ele não é idiota a esse ponto, é?

Joguei o pedaço de pão que comia nela.

Ei mano, as peças chegaram não quer vim me dar uma mãozinha?

André me salvando. Ele havia ganhado de herança do avô um Opala 1970 e estava gastando um bom dinheiro para deixá-lo novo mas eu insisti que valeria à pena, um clássico é sempre um clássico.


Te ver nem que por milésimos de segundos, fez com que aqueles bons sentidos acordassem de um sono profundo. Senti uma gratidão tão grande em poder revê-lo, uma felicidade tão grande, mas claro! A saudade do abraço, do olhar, do sorriso doeu, uma dor recorrente, acho que na verdade a gratidão e a alegria foi porque em milésimos segundo enquanto te via eu não as senti. Será que você sentiu minha presença? Pensou em mim? Pensamentos que ficaram permeando minha mente.
E a escolha terá sido a distância? Essa seria a prova? Amarga e dolorosa? Duas almas fadadas a viverem no mesmo mundo, mesmo céu, mesma década, mesmo país, mesma cidade? Como seguir dizendo todos os dias para si mesma que tudo passa, enquanto correm os segundos e em cada, sua mente é invadida? Como seguir, sentindo essa dor latejante de uma saudade? Como seguir se em cada melodia, sons, barulho do vento, me leva a um devaneio de uma lembrança? Como seguir se em tudo sinto sua ausência! Como? Se é você que procuro quando me acontece algo bom e ruim também. Como seguir? Se te procuro em cada rua, em todos os carros cinzas pedindo aos céus que eu o veja e não o contrário, pois não quero que me veja assim. Como seguir? Se sua imagem é a última que vejo ao deitar e a primeira ao acordar, mesmo me sentindo a mais imbecil, idiota, tola? Isso quando  não sonho ou tenho pesadelos com você. Como escapar desse tormento em minha mente? Como seguir? Deixe-o ir, ele está seguindo e você precisa seguir também. VIVA intensamente, um dia de cada vez. Foi como tinha que ser. ETERNIDADE!
Ah tempo! Sim, perdida nesse presente sem fim. Enquanto fios de esperança me enlaçam, um futuro que cintila em minha mente. Um futuro ou uma lembrança?... Céu azul, pássaros, pequenas margaridas brancas e amarelas sobressaindo sobre o vasto pasto. Algumas árvores ao longe, brisa leve de uma manhã de um dia qualquer, que não se sabe ao certo. O sol surgindo entre as montanhas, pequenas faíscas de uma fogueira improvisada. Uma garrafa vazia de vinho e duas taças por sobre a relva, próxima a um par de sapatos. Uma pequena cesta ainda contendo alguns petiscos e morangos próximo a um telescópio com o tripé fincado ao chão. Um colchão inflável, lençóis brancos. Um sorriso e um olhar de mistério. Um abraço, um toque. Duas vidas, um coração. Presa em ilusões ou memórias? tudo é tão constante, intenso, intenso, intenso.



Pois é! Nem eu mesma estou acreditando que estou fazendo isso, mas essa sou eu sendo eu, uma masoquista aliviada. Isso está me enlouquecendo, me sufocando então. . Enfim! Dos sonhos mais estranhos que tive com você, dês do que você me abraçava chorava ou quando assistíamos o nascer do sol ao que você me dizia palavras horríveis e quase que me expulsa do lugar que estávamos. Nem uma me apavorou, intrigou, entristeceu tanto, quanto o último. Talvez por ser enigmático de mais. Talvez seja porque tenha o sentido tanto esses dias, mais que o habitual, não sei. (Primeiro queria fazer um desabafo, mas seriam muitas folhas e não quero) Acredite! No fim você entenderá. O primeiro ano foi terrível, você sabe, já desabafei antes. No meio disso tudo, pessoas saíram da minha vida, se afastaram de mim enquanto novas pessoas chegaram. Criei uma narrativa dizendo para mim mesma que estava tudo bem, que eu era forte, que eu conseguiria, afinal tudo é passageiro, era só um ano e que no outro seria totalmente diferente, tudo e fase, afinal você conseguiu, porque eu não conseguiria? E aos poucos fui me isolando e me afastando de mim mesma porque a ficha foi caindo, os meses foram passando, mais um ano. E nada havia mudado, tudo continuava ali. Nesse momento, exato momento de frustração, ódio de mim  me  momento me via já sem fé. Bem, criei tanto uma narrativa de: Ele está feliz, vivendo o que ele tem que viver com as pessoas certas para sua evolução.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 04, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Infinito e Além Onde histórias criam vida. Descubra agora