Ecitera

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Dia X5 daquele mês

Sentei e gritei. Gritei pois meus olhos não acreditavam no que acabara de ter visto, era um real exemplo do que a natureza escondida poderia mostrar aos que a procuravam. Naquela noite sem querer me tornei um deles, após todo aquele processo de desespero desamparador tornei a me acalmar e organizar o que havia visto enquanto ligava o gravador e acendia meu cigarro, coloquei uma bebida velha no copo de whisky e tentava relembrar os acontecimentos para colocar em uma ordem lógica ao arquivo importantíssimo que prestes estava a criar. Narrei e citei tudo que havia acontecido, não poupei um detalhe sórdido sequer e quando notei, já mal amanhecia, fui então de extrema urgência ao termino do relato e quando finalmente contei todo o aparato ao qual pertencia a minha memória, fiz o que me era de único direito e consegui recarregar a arma que vinha de minha mão para dar um fim a minha vida

...

Dia 33 daquele mês

Era o primeiro dia logo após a demissão do meu antigo emprego, eu tinha ficado extremamente atordoado com os acontecimentos e já estava morrendo de tédio, devia ser umas 13 da tarde pela posição do sol e não havia muito o que fazer naquela tarde, vendo que o acontecimento importante daquele dia viria de uma forma tão trivial. No mesmo momento em que sentei-me ao lado contrario a porta ouvi então um chamado vindo na mesma direção e fui de encontro a atende-la, era um mordomo do meu primo que trazia consigo o próprio e um livro para uma visita semanal a minha pessoa. Quando perguntei o que havia na mão ele me deu e disse que era um livro extraordinário e de segredos que só eu poderia resolver, olhei de forma estranha e analisei a situação, tentei ver em sua expressão algum detalhe não dito mas parecia que a mensagem já tinha sido toda expressada naquele momento.
Olhei para seus olhos que pareciam se esconder de tão pequeno atrás de sua testa e sua expressão aberta através das sobrancelhas, seus olhos fechados devido a cegueira que havia herdado da mãe e sua cicatriz enorme no meio do rosto que vinha do começo do couro cabeludo até o seu nariz não diziam nada a mais que eu pudesse perceber naquele momento, peguei o tal livro e respondi que iria lê-lo quando pudesse e sentei na poltrona velha que havia do lado da janela, trouxe o whisky velho que havia em cima da mesa para perto de mim e bebi direto da boca sem colocar no copo que veio junto, coloquei o livro do lado e disse ao meu primo que não se preocupasse tanto comigo e que as idas de sua mansão até o meu apartamento não o fariam bem a sua saúde frágil, ele retrucou que não é ele que empurra a própria cadeira de rodas e mesmo que alguma coisa o impedisse iria tentar mesmo assim vir me ver e que adorava estar ao lado do primo que ha muito tempo conhecia. O que era verdade já que dentro da família, eu era o único que brincava com o primo cego e dava conselhos nos quais nunca tive oportunidade de seguir, incomodado com os meus próprios pensamentos pedi para que o primo que se chamava Yefr, fosse para casa descansar, ele concordou pois já havia lhe dado o livro e foi junto ao mordomo que o puxava para fora.
Após a saída do primo, pouco tempo depois fui de encontro sem muito esforço ao livro no qual ele me dará e depois de muito relutar, li suas primeiras paginas e mergulhei nas suas palavras.

Dia 64 daquele mês

Uma semana após Yefr ter me presenteado com o livro, fiquei dias acordado lendo-o e analisando, era um livro chamado Ecitera relatando alguns mistérios sobrenaturais de um investigador sem nome onde havia relatos reais em demasia para se comparar a uma ficção, quando meu primo voltou para uma de suas visitas eu o perguntei de onde era aquele livro e se era real todos os relatos envolvidos ali, ele rindo me contou que era apenas uma bobagem e que não sabia que eu iria levar tão a serio, achei aquilo ofensivo e me pus a questiona-lo qual era o intuito disso tudo, e então ele veio até mim em um tom ameaçador e disse que isso tudo era para eu provar para ele que estava errado.
Não entendi muito bem o que ele queria expressar então passei a pensar naquela manhã o que eu faria sobre a situação e decidi ver um dos casos por contra própria, escolhi um que pudesse ser feito ainda hoje que era o de Freygtharf, uma entidade maligna que tinha seu próprio culto milenar onde afirmavam estar vivendo ali na cidade a entidade dentro de algum lugar. Me dirigi o mais rápido que pude e trouxe comigo alguns poucos suprimentos e uma câmera que saia a polaroid na hora que tirava a foto, fui em direção a cidade pela tarde e quando cheguei já anoitecia, me dirigi de encontro a um café onde sentei e comecei a ler mais detalhadamente sobre o caso:


" Há de haver em algum lugar na cidade de iodes, mais um dos cultos ao deus freygtharf que já um dia fora muito mais influentes. Alguns cidadãos afirmam ouvir vozes através das janelas que diziam que ele estava chegando, outros dicadões na calada da madrugada saem de suas casas com espelhos na desculpa de serem um presente para uma igreja que estava sendo construída ali próximo e que era totalmente feita de espelhos, mas obvio que não acreditei que era apenas de enfeite, preciso investigar isso mais tarde"
Em uma das partes do relato também descrevia sobre a tal entidade que assumia forma humanoide e que era fácil de expulsa-la ao outro plano. Fui de encontro então a tal igreja nos relatos através de informações do povo local, consegui achar-la mas os casos que me contaram da igreja recém aberta foi preocupante, disseram que estava acontecendo um culto lá ha 1 semana e que aquela igreja não era de nenhuma religião que eles conhecessem pois os espelhos estavam por todos os lugares e quando perguntavam aos fieis o que era aquilo, respondiam que era por ali que Deus os via. Cheguei então de encontro ao local e abri as portas de sua igreja, quando de repente percebi o que acontecia.
...
Corri o mais desesperado que pude, e me entranhei pela floresta para voltar para cidade, tropecei diversas vezes e cai em cima de diversos restos de animais e objetos aleatórios jogados por alia. O que eu havia visto com certeza não era desse mundo, ao entrar na igreja me deparei com um local repleto de espelhos nas paredes fechando qualquer outra entrada ou janela e dentro dela seus fieis corriam de um lado para o outro fazendo as mais abomináveis coisas que passeavam pelas diversas áreas da loucura, desde sexo com coisas não humanas e assassinato até as gritarias perplexas de crianças pelo saguão que brincavam de forma avida como se nada daquilo ao seu redor estivesse acontecendo, havia um completo caos ilógico dentro daquele espaço porem o que me incomodou de forma mais significativa não foi o caos que reinava ali e sim quem a influenciava ela pois eu consegui sentir quem emanava toda a energia que havia lá e quando notei não era apenas um forma humanoide como descrevia os relatos, era um ser enorme de aproximadamente 3 metros em formato esférico preto que havia de flutuar sobre as pessoas como uma nuvem e de dentro saia os diversos membros que se assemelhavam a tentáculos e patas de aranha.
Quando vi aquilo meus olhos arderam pois nada daquilo parecia ser compreensível ao intelecto humano, como ultimo refugio a sanidade eu pus a correr de forma desesperada mas eu ainda podia sentir o objeto flutuante dentro da minha visão. Após correr por horas como se a noite não tivesse acabado, consegui ver no meio da estrada um ônibus que iria passar por perto da minha cidade, entrei dentro e me sentei transtornado com a situação pois não conseguia tirar a imagem da minha cabeça e desses pensamentos, deveria ter passado alguns minutos porque quando percebi eu havia de descer do ponto, quando desci e olhei para trás eu conseguia olhar o objeto esférico de novo no reflexo dos vidros do ônibus e dessa vez pareciam mais perto que o normal, comecei a gritar de desespero e corri em direção a minha cidade.

DIA 65...

Devia ser três da manhã quando cheguei em casa, comecei a relatar tudo que havia visto e ia dar um fim a minha vida quando notei que eu não estava sozinho em casa, havia mais alguém atrás de mim. Quando notei era o meu primo só, olhando para mim. Perguntei a quanto tempo estava ali e ele disse que sempre, desesperado gritei o que tinha acontecido e ele disse que eu vi o que precisava, a verdade, ao questionar o que ele tinha haver em relação aos relatos ele fez uma expressão questionável e disse que iria me mostrar algo. Quando ele saiu das sombras e chegou mais perto eu pude ver que no meio de sua cicatriz que abrirá, havia um olho enorme como se fosse um terceiro no seu rosto só que gigante e desproporcional a me encarar, ao gritar e questionar o que seria aquilo tudo e o que era ele, e então ele começou a me explicar.

Dia 25 do outro mês

Então tudo deixou de fazer sentido, pelo que me parece meu primo é um tipo de alienígena cego mas com um terceiro olho poderoso que consegue ver através das coisas e descobriu um mundo além da nossa compreensão dentro do nosso universo e o Ecitera nada mais é que um dos vários relatos que ele achou, depois disso ele me acalmou e conseguiu me convencer de que eu era um dos vários escolhidos a explorar esse mundo, ao questionar o porquê ele me respondeu que era a forma como ele tratava algum como ele que era um monstro ao olhos da própria família. Depois disso tudo ele conseguiu me abraçar e dizer que precisávamos fazer importante em outro lugar, atordoado demais não o questionei e dias depois estávamos em uma viajem de navio pelo mar aberto para resolver algum problema, não sei o que pode ser mas a realidade é que eu não saio do quarto do navio há uma semana, não quero participar desse mundo mas também não consigo sair dele. Em algumas noites ainda consigo ver aquela esfera refletida nos vidros da cabine...
Fim?

Contos antológicos para sublimar meu DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora