Capítulo 2 - Diga a verdade!!

159 19 3
                                    

- Não sei do que você está falando. - protestei, num tom muito mais humilde do que gostaria. Senti que deveria transmitir mais confiança. Ou talvez não. Talvez devesse estar com medo. As pessoas tem mais medo ou mais confiança quando estão sendo acusadas de portar drogas?

Bom, minha insegurança aumentou, pois o medo de parecer inseguro me deixou mais inseguro ainda. A merda do círculo vicioso infernal.

- Isso é o que vamos ver. - disse ele.
Então ele voltou a atenção para a minha mochila, que aparentemente tinha cem bolsos, cada qual com os objetos adolescentes mais bobos: Canetas coloridas, bilhetinhos passados durante a aula, CDs do começo dos anos 1990 com a caixinha rachada, marcadores secos, um velho bloco de desenho sem metade das páginas, inutilidades, poeira e fiapos acumulados durante uma experiência enlouquecedoramente monótona no ensino fundamental.

Meu suor devia estar jorrando á velocidade da luz, e o tempo se prolongava e se dilatava de tal forma que os poucos segundos naquele relógio da aula de Geografia tinham se transformado em horas. Cada minuto suficiente pra crescer, envelhecer e morrer. Somente eu, o Sr. Samon e minha mochila sem fundo.

Em algum momento da caça as drogas, o Sr.Samon terminou de revirar a minha mochila. Sem ter encontrado nada, parecia nervoso.
Virou a mochila de cabeça pra baixo, deixando cair tudo no chão, e começou a suar tanto quanto eu, só que, se no meu caso era pavor, o que ele sentia era raiva.

- Nada de drogas hoje, hein? - ele tentou parecer casual.

- Não. - eu tentei também. Ele espalhou minhas coisas, separando cada item e os reunindo hein pequenas pilhas ao lado do meu uniforme de educação física. Meu casaco e minha mochila estavam agora esvaziados e murchos em seu colo. Ele inspirou e olhou para a parede. Como todo bom adolescente de quatorze anos trancado numa sala com um homem que acabou de jogar suas coisas no chão furiosamente, eu queria chorar. O senhor Sr.Samon analisou os itens espalhados. nada ilícito ou ilegal, nenhum narcótico, nem mesmo algo que infringisse as regras da escola. Ele suspirou e, depois, jogou no chão também o casaco e a mochila. Então se inclinou e apoiou os cotovelos nos joelhos, o rosto na altura do meu.

- Harry, vou lhe dar uma última chance de ser sincero comigo. Se você for sincero, vai ser muito melhor para você. Se estiver mentindo, vai ser muito pior.

Como se ouvisse a minha deixa, engoli em seco.

- Agora diga a verdade. - exigiu o Sr.Samon. - você trouxe drogas para a escola hoje? - Tentando conter as lágrimas, os gritos querendo escapar pela garganta, encarei meu torturador e, em tom de súplica, louco para me livrar de tudo isso, respondo:

- Não, eu não tenho nenhuma droga. Não faço a a menor ideia do quê você está falando.

- Tudo bem. - disse ele, sugerindo rendição. - pode pegar suas coisas e voltar para a aula. - Ele deu uma última olhada para a mochila vazia, jogada como uma promessa quebrada no chão de sua sala. Então, casualmente, pisou de leve na mochila, uma última tentativa desesperada. Esperei ansiosamente para que ele se levantasse e saísse, e assim eu poderia seguir com a minha vida e esquecer aquele pesadelo. Mas o pé dele encontrou alguma coisa.

- O que é isso? - perguntou o senhor Sr.Samon, dando umas pisadinhas.

- Isso o quê?

- Ainda tem alguma coisa aqui. - ele pegou a mochila e começou a tatear o fundo. A sala ficou embaçada aos meus olhos; tudo ao redor oscilava.

Eu era inteligente, quando jovem. Era simpático. Mas também um idioma. Digo isso no sentido mais amoroso possível. Eu era um idioma rebelde e mentiroso, irritado e cheio de ressentimento por ser tão solitário. Aos 11 anos modifiquei o sistema de segurança da minha casa usando imãs de geladeira para sair escondido à noite. Meu amigo e eu colocamos o carro da mãe dele em ponto morto e o empurramos até a rua para dirigir por aí sem acordá-la. Eu escrevi a redações defendendo o aborto porque sabia que professora era uma fanática religiosa. Outro amigo e eu roubavamos cigarros da mãe dele e vendíamos atrás da escola. Bom, isso tudo antes dos meus pais decidirem se mudar para Holmes Chapel, mais desde então nunca mais me envolvi nessas coisas ou tive algum amigo.

Sr.Samon encontrou drogas no fundo de um compartimento secreto no fundo da minha mochila. Bem, estaria tudo bem se eu tivesse colocado lá, mais eu não coloquei, e é óbvio que ele não acreditou em mim. É, como prometeu o Sr.Samon não pegou leve comigo. Algumas horas depois ele chamou os policiais e como bom adolescente de quatorze anos eu tinha duas escolhas, ficar e assumir a culpa por algo eu não fiz... Ou correr. Bom, eu nunca fui a pessoa mais sensata do mundo, então...

Eu corri.

Um Dia Muito Louco!Onde histórias criam vida. Descubra agora