No dia seguinte, tudo parecia bem, as pessoas pareciam não se importar mais. As aulas foram estranhamente normais, ninguém falando de Jisung e muito menos trocando olhares desconfortáveis com ele. E ele estava o mesmo, sempre andando sozinho, com a cara triste (que para alguns era amedrontante), e com seus fones em seus ouvidos.
Como nem tudo são rosas, Jeno, Mark e Donghyuck foram perturbá-lo na hora do intervalo.
— Que lindo, pessoal, o nosso psicopata usa uma pulseirinha toda colorida! — Jeno começou assim que todos já estavam fora de sala.
— Será que ele é gay? — Donghyuck perguntou rindo.
Todos que estavam ali riram da situação, e infelizmente eram muitos. Jisung revirou seus olhos e respirou fundo, tentando não se abalar com mais uma brincadeira.
— Espera, quem deu essa pulseirinha pra você? Seu namorado? — Mark disse fazendo todos rirem mais ainda.
— Quem ia querer namorar com um psicopata? — Haechan perguntou segurando o riso.
— Maníaco. — Jeno corrigiu, brincando.
Jisung, que estava no meio dos três garotos, decidiu que seria pior se ele continuasse ali. Então, ele juntou toda a corajem que lhe restava, e saiu.
— Espera, maníaco! — Jeno gritou e puxou justamente o braço de Jisung que estava com a tal pulseirinha, fazendo o objeto soltar do braço do garoto e se espatifar pelo chão. — Oh! Eu estraguei! Me desculpa. — Jeno disse rindo.
Mark batia palmas e ria muito, assim como Haechan. Na verdade, todos estavam fazendo o mesmo.
O Park respirou fundo e se agachou para pegar o que restava de sua pulseira. Enquanto se concentrava em não chorar e achar as bolinhas coloridas, Jisung nem havia percebido que tinha alguém ao seu lado.
— Não precisa fazer isso. Está passando vergonha. — ele disse.
— E qual é o problema? Estou apenas te ajudando. — depois de catar o máximo de bolinhas possível, Allison disse.
— Ajudando o maníaco da escola. — o Park disse se levantando, e a garota fez o mesmo.
— Não, estou ajudando o Jisung.
Os olhares de muitos estavam focados nos dois. E continuariam se Yongsun e Jaemin não tivessem chegado e puxado Allison para o refeitório.
— Só fomos buscar comida, poxa. — Jaemin disse.
— Mas eu não fiz nada de errado! — se defendeu. — Dá pra parar de me puxar, Jaemin? — pediu estressada.
— Quantas vezes já dissemos pra ficar longe desse garoto, Allison! — depois de ouvir o que a amiga disse, a chinesa apenas abaixou a cabeça. — Temos mais notícias sobre os boatos de que ele foi preso.
— E aí? — a Wang perguntou.
— Ele ficou preso por dois dias por causa de uma acusação falsa. Uma pessoa anônima disse que ele havia abusado de uma garota. E tinha provas, que depois viram que era falsa também.
— Se eram falsas, por quê eu deveria me afastar dele?
— Não suje seu nome.
Allison bufou sem paciência, ela não aguentava mais todos dizendo coisas horríveis sobre Jisung, inclusive seus melhores amigos. O garoto não era má pessoa, ele era solitário apenas. Ela queria que todos o vissem como ela via: um menino que precisa de mais carinho, e não ódio. Tudo aquilo já era muita informação para a cabeça dela, imagina para a cabeça de Jisung!
— Vocês o tratam como todos... vocês... vocês também julgam ele. — e por fim, disse chateada.
Saindo de perto de seus amigos, ela pensou em ir falar com Jisung, então foi para o jardim. Só que o garoto não estava lá. Ele provavalmente pensou que Allison o procuraria naquele lugar novamente. Esperto.
Como o menino gostava de lugares mais calmos — segundo o raciocínio de Allison —, a Wang pensou em ir no telhado da escola. E como ela adorava estar sempre certa.
— Jisung! — o menino estava sentado no chão, perto da beirada do telhado e de costas. Allison pensou que, se o chamasse, ele viraria para ela. Mas não. — Jisung?
Como não teve resposta, Allison se aproximou do garoto e parou ao seu lado. O Park estava com a cabeça baixa, segurando seus joelhos contra seu peito. Os fones estavam em seus ouvidos, mas Allison sabia que ele não estava escutando música.
— Jisung? Está chorando? — a garota se agachou, ainda do lado dele.
E depois de um tempo, ele respondeu.
— Se eu disser que sim você vai embora? — disse com a voz abafada e manhosa, exatamente de quem parecia estar chorando.
— Não. — ela negou. — Está chorando por quê te chamaram de gay?
— Antes fosse. — respondeu o garoto, ainda com a cabeça baixa. — E isso não me incomoda.
— O que foi então? Pode me contar. — Allison colocou sua destra no braço do garoto.
— Não sei se confio o suficiente em você para lhe contar. — Jisung ao menos foi honesto, e a Wang gostava disso.
— Tudo bem. Posso ficar aqui com você?
— Não quero deixar você me ver chorando, com o rosto vermelho e inchado. Então, apenas saia.
A garota não conseguia negar que ficou triste com isso; suas expressões também não ajudavam. Ela queria consolar o menino e até se aproximar dele. Mas ele não confiava nela. Jisung não confiava em Allison. E com razão, não podia confiar em ninguém daquele lugar. Porém, ele poderia dar pelo menos uma chance à ela. Allison realmente queria ver ele bem.
Depois que saiu de lá, a Wang passou no banheiro antes de ir para a sala. Ela não conseguia parar de pensar no que aconteceu. Querendo ou não, ela achava que algo estava conectado: Jisung "perdeu" sua pulseira praticamente no mesmo dia que ela comprou uma. Talvez aquela que comprara não fosse para Renjun e sim para Jisung. Talvez fosse algo juntando os dois de alguma maneira. Apesar disso, Allison não queria acreditar que estava pensando assim, era muito fútil para a cabeça dela. Mas... e se fosse?