18 de Julho de 2019
Kate Warne
A sirene soava ao longe à medida que a pacata cidade de Êmel parava por um momento ao derramar lástimas. No apartamento 13 da rua João Braz filho os policiais faziam ronda. Eu havia sido transferida para o Brasil devido há reajustes no departamento onde trabalhava e fui direcionada a este caso curioso, quando se está na polícia a anos, entende-se quando um caso é isoladamente esquisito e com certeza carrega uma história além do imaginável. Me aproximo da entrada do apartamento, há uma multidão de pessoas ao redor querendo saber o que aconteceu. Avisto uma mulher de olhos escuros como a noite como e carregados de lágrimas sendo barrada na entrada do prédio. Ela grita e chora.Fissurada por aquela imagem, perco a noção de espaço e quando percebo já estou adentrando o local do crime. Um dos policiais, negro, com músculos aparentes e um café na mão direita vem em minha direção esbravejando: — Ei! Você, não pode estar aqui! Isso é uma cena do crime. Em seguida, segura no meu braço, pronto para enxotar. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, seu colega de trabalho, loiro, cacheado e corpulento nos interrompe. — Chefe, estamos prontos para leva-la ao hospital para a autópsia. Está claro que ela se matou, esses escritores de hoje em dia têm feito de tudo para transformar a própria vida em uma pilha de drama. Surpresa com o comentário do homem, elevo as sobrancelhas. — Então ela era escritora? – pergunto, já sabendo a resposta. — Desde os 15, a senhora não é daqui, não? – responde o homem fardado. Ignoro a pergunta, retiro da bolsa, meu caderno de anotações e começo a escrever algumas observações, quando sou interrompida pelo policial chefe. — O que pensa que está fazendo? Você está em uma cena criminal, precisa se retirar agora. Fito-o com um olhar desafiador e retiro meu distintivo do bolso, colocando o bem à frente de seus rostos. Eles arregalam os olhos. — Detetive Kate Warne, da agencia de Pinkerton, nos Estados Unidos. Fui direcionada para cuidar do caso. Sua face enrubesce. — Senhora Kate! – exclama, envergonhado. — Que bom que chegou. – completa o oficial. Estendo minha mão. —Senhora não, senhorita. Ele a aperta com força. —Eu sou o policial Ben, da agencia de Êmel. —É um prazer conhecê-lo, Ben. – respondo. Ele engole seco, claramente incomodado. Vira a cabeça de um lado para o outro, até finalmente dizer: — Viemos buscar o corpo da vítima e analisar o lugar, o sindico do prédio nos ligou esta manhã, estava perturbado quando encontrou o corpo. Se a senhora...Quer dizer, senhorita, quiser dar uma olhada nas provas que recolhemos, ficaria feliz em te acompanhar até a delegacia central de Êmel, onde o caso será arquivado. —Arquivado? – questiono. —Sim. – ele responde. — Não haviam marcas de luta, o lugar estava organizado e nem mesmo havia sangue da vítima, apenas uma corda pendurada, o que nos leva a concluir que Estrela Conan Doyle se suicidou. Abro e fecho a boca, na tentativa de respirar fundo e me acalmar. Penso em dizer o que me vem à mente, entretanto, tenho uma ideia melhor. Se queria desvendar o caso e descobrir a verdade por trás do que aconteceu com a escritora, eu precisaria ser mais inteligente, como diria o próprio Sherlock Holmes "Um tolo sempre possui outro tolo que o admire, ou, nesse caso, que pense que o admire". Fito seu rosto, em uma erradica apreciação. — Uau. Fico impressionada com a capacidade que vocês tiveram de desvendar tudo tão rápido. Seus olhos arregalam e brilham, surpreso com o que ouviu. —Pois é, nós, homens, temos um faro nato. Ao ouvir isso, meu interior se revira para gargalhar, entretanto, preciso manter a compostura. —Claro. Claro. – confirmo. -Mas, só por curiosidade, de que cor eram as marcas no pescoço da vitima? Como o esperado, ele engole em seco. —Marcas no pescoço? -questiona. — Eu não me recordo de ver nada. —Hmmm. – respondo. Em uma significativa pausa para respirar. —Oficial Ben? – chamo. —O que? – ele pergunta. —Se a vítima tirou a própria vida, não deveriam haver marcas no pescoço onde a corda estava presa? E a partir da cor poderemos saber o horário em que ela se "suicidou" – coloco ênfase na ironia. Posso ver uma gota de suor escorrer de sua testa.—Você não concorda, oficial Ben, que isso será questionado no tribunal? —Bom...Sim...Mas...Mudo meu tom e voz e ele percebe onde se meteu. —O que acha de e deixar entrar, ver o corpo e fazer o meu trabalho? Ele hesita, mas, respira fundo e diz: A entrada é por aqui.

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Uma em dez mil
Misteri / ThrillerJoctan Esteves teve a vida transformada devido a uma folha e papel NO PASSADO, entretanto, o conceito de almas interligadas que combinam encontros antes mesmo que os corpos se vejam é tão antiga quanto a própria civilização. Uma em dez mil são as c...