༄prólogo.

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A chuva castigava sem piedade a janela. Era um fim de tarde de verão chuvoso no litoral da Tailândia e Jisung observava as gotículas de água com certo pesar, estava um tanto tonto, a cabeça doía e as garrafas espalhadas pela sala entregavam o motivo.

Bang Chan entrou na casa, viu a situação do amigo e soltou um suspiro deixando a sacola do mercado de lado. Começou a catar as garrafas vazias que estavam em todo lugar.

--Levante, você precisa tomar um banho. - Chan pediu, colocando a mão no ombro do Han.

--E você precisa se secar. - Jisung falou levantando olhar para o amigo que estava encharcado, não conseguiu escapar da chuva a tempo.

--Depois de ter a certeza que você está bem. - O moreno falou sincero, Jisung negou e baixou a cabeça.

Han Jisung poderia chorar de angústia mais uma vez, mas suas lágrimas por aquele motivo parece que se acabaram naquele dia, como um copo vazio que já derramou tudo que tinha que derramar. Mesmo assim, ele sabia que aquele copo se encheria de novo no dia posterior.

--Eu vou fazer o jantar hoje, Bulgogi, seu favorito, não é? Você não vai conseguir comer com tanto álcool no corpo, vamos! Levante, Sung.

Demorou um pouco para Jisung se dar por vencido e seguir o conselho do amigo, com passos lentos foi até o banheiro tomar um banho quente e demorado.

Changbin entrou no apartamento com um sorriso no rosto, Chan ao ver a expressão do amigo riu e perguntou o que aconteceu.

--Estava com uma garota, uma turista, muito linda.

--Você sempre fala que todas são lindas. - Chan falou enquanto trocava de blusa.

--Por que mulheres são todas lindas, - O Bang teve que concordar - Jisung está no banho? Faz sentido, o apartamento está com cheiro de álcool bem forte e acho que ele não bebeu só cerveja. - Changbin falou apontando para uma garrafa de vodka com apenas dois dedos restantes escondida entre algumas almofadas.

--Sinceramente não sei mais o que fazer. - Bang falou enquanto jogava a garrafa no lixo.

-- Você não precisa se colocar pressão em relação a isso, não agora, fizemos o que estava em nosso alcance, o Jisung está demorando mais para se recuperar, não deve ser facil.

--Dez anos, e cada dia vai ficando pior e pior. Eu quero vê-lo bem logo. - Lamentou o mais velho.

–Antes era pior, Chan. - Changbin acrescentou, sentindo uma dúvida por ter afirmado com tanta vontade aquela frase e tratou de buscar aprovação do mais velho - Não era?

Eles mudaram o assunto rapidamente assim que Jisung apareceu. Changbin tratou de ir logo ao banheiro tomar um banho. Chan rapidamente entregou remédios e bastante água para o amigo mais novo que sentou no sofá para assistir desenho animado, assim que Changbin terminou o banho, pegou um cobertor e levou para a sala para ficar junto de Jisung, esse que apoiou a cabeça em seu ombro e silenciosamente curtiam a animação enquanto Chan estava na cozinha preparando o jantar.

Chan levou os pratos para a sala, pediram para os meninos sentarem no chão para evitar que algo caia no sofá. O clima mais uma vez estava silencioso, a televisão estava desligada e o único som presente era da chuva que caía do lado de fora,

Jisung olhava fixamente para seu pulso, em especifico para seu selo. Aquilo que tornava o que ele era, que o deixou nessa condição que não suportava mais, como se ele estivesse preso em uma caixa apertada sem saída e quem o prendia ali era ele mesmo.

-- Isso é uma maldição. - Rosnou o Han para a marca e passou a unha com força na tentativa não de apagá-la, mas sim, de sentir dor.

--Jisung, para! - Chan mandou pegando seus dois braços e pedindo para ele o olhar - Isso não é uma maldição, ao menos que você faça de tudo para enxergá-la como tal.

--Sung, se não fosse por ela não estaríamos aqui, estamos juntos a 300 anos, somos uma família e se estamos aguentando até agora é por que temos uns aos outros. Você consegue entender isso?

Changbin segurou a mão do mais novo com força, ele não demonstrava, mas era o que mais desejava Jisung bem novamente, tinha saudades do amigo aventureiro e divertido que tinha o brilho nos olhos, que fazia todos rirem a sua volta e tinha as ideias mais mirabolantes para sair de problemas. Seo Changbin só queria seu parceiro novamente, aquele que ele chamava de irmão, pois o Jisung que estava em sua frente era um total desconhecido.

--Eu sei que você está tentando achar um motivo, mas procure na gente, por favor. - Chan falou olhando nos olhos de Jisung esse que o abraçou forte como uma criancinha que precisava do pai.

Changbin se juntou ao abraço quando Chan lhe estendeu o braço.

-- Eu não poderia estar mais grato por ter vocês. - Chan murmurou em meio algumas lágrimas.

O relógio mostrava 07:00, Jisung passou a mão no rosto inchado enquanto saia do quarto percebendo que Chan já estava de pé e lavava a louça que sobrara do jantar.

--Bom dia Sung, acordou agora? - O Bang perguntou quando Jisung sentou no balcão.

--Já estava acordado há muito tempo, lembrei do dia que nos encontramos. - Chan soltou uma risada anasalada.

--Lembrou? No dia que eu salvei vocês do exército da Dinastia Ming.

-- Aquela maquiagem ficava muito bem em você.- Chan riu se lembrando dos padrões de beleza daquela época e como era distinto dos atuais.

--Tenho saudades daquela época, às vezes, menos dos piolhos- o Bang fez cara de nojo - Lembro que Changbin ficou bastante desconfiado de mim, até depois de olhar meu selo e você, Sung, parecia uma criança, fazia perguntas toda hora, sempre queria um motivo pra tudo e não parava quieto. - Chan olhou para Jisung, ele não era mais o mesmo.

--Você sabe, só lembro de nós, parece que minha vida só começa depois que eu conheci vocês, lembro de todas as casas, todos os empregados, todas as cidades, países, alguns amigos...como eu odiava ter que ir embora.

--É o tempo Jisung, nossa mente ainda é humana, - percebeu a tristeza no olhar do Han - As coisas não mudaram muito, não é?

-- Talvez, só muda que não contratamos muita gente e só mudamos mais de cidades, mas Chan, - Ele respirou fundo antes de falar - eu não queria mais isso, sabe? - O Bang olhou confuso para o mais novo que fazia círculos imaginários no balcão - Estava pensando se podemos passar um tempo como pessoas normais. Usar nossos nomes, alugar uma casa, trabalhar e não ficar vivendo do que você acumulou nessas décadas. Eu gostaria disso.

--Isso vai te ajudar em que?

--Imagino que se eu viver como uma pessoa normal, eu vou entender o motivo que os humanos não querem morrer.

Chan assentiu com os braços cruzados, compreendendo o que ele estava dizendo. A verdade é que Bang Chan poderia fazer de tudo pela felicidade dos seus amigos, de sua família.

--Escolha o lugar, deixa que com o Changbin eu me resolvo.

Jisung pensou em dizer obrigado, mas apenas abaixou a cabeça e deixou um sorriso escapar e aquilo foi o suficiente para Chan.

devil ⚝ minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora