Chuva de escolhas

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Três dias para uma pequena rotina formar-se no meu tempo de moradia no chalé de Jeongguk. Era aconchegante passar os dias ali, não havia o peso das responsabilidades de um príncipe sobre meus ombros, muito menos alguém querendo controlar meus passos a cada movimento. Nunca estive tão alheio à cidade e isso não me incomodava nem um pouco. Era calmo, sereno como a brisa gélida que bagunça meus fios pela manhã, enquanto Jeongguk preparava um chá de laranjeira para tomarmos.

Tão... Simples.

Simples porque Jeongguk saía descalço sobre a neve dizendo que iria cumprir seus deveres, deixando o lobo, Snowball, com a missão de manter-me vivo, e voltava quando estava anoitecendo, trazendo em seus braços algumas frutas e outros alimentos.

Convivi com pessoas diferentes minha vida inteira, mas nenhuma delas chamou tanto minha atenção como Jeongguk. Era surpreendente até para mim, pois nunca realmente me interessei em conhecer alguem de verdade, por mais que com Jeongguk eu sentisse que seria como desvendar um mistério.

Nós viramos amigos nesse tempo. Nossas conversas fluíam e tornaram-se costumeiras pelas manhãs. Entretanto, apenas trivialidades e besteiras eram o foco, nunca citamos nossas famílias ou algo relacionado; não tinha um motivo aparente.

Estes dias também me descobri um bom observador, principalmente de Jeongguk e suas peculiaridades; como o fato dele não ser muito amigo do calor. Sua sensibilidade com coisas quentes era muito alta e por isso ele se mantinha o mais afastado possível do fogão e da lareira, mesmo que o sofá que dormisse fosse bem próximo a ela.

Em contrapartida, ele parecia ter escolhido na montanha o local perfeito para morar, visto que a resistência de Jeongguk com temperaturas baixíssimas era tão boa que parecia não lhe afetar nem mesmo um terço de como agia em mim. Enquanto eu me aconchegava frente à lareira, tirando proveito do seu calor, para Jeongguk ficar deitado sobre o sofá, que descobri ter na área externa próximo à porta de saída, com Snowball em seu encalço, era perfeito. Era tão intrigante a forma que a cada dia eu conhecia Jeongguk um pouquinho mais, apenas por pequenos atos dele nos momentos em que ele ficava no chalé.

Jeongguk costumava sair e voltar várias vezes ao dia. Sua ocupação era um mistério para mim, mas eu desconfiava que ele era um lenhador independente com alguma super resistência. Até o momento, eu não havia achado prova alguma que confirmasse, porém nem que a descartasse.

Eu não havia saído além das dependências do chalé, mesmo que Jeongguk dissesse ser seguro, eu ainda tinha apenas minha roupa do dia do casamento e uma muda que Jeongguk gentilmente me cedeu enquanto estivesse aqui. Sair pela floresta apenas com elas não era muito encorajador.

Entretanto, estava tudo fluindo bem. Até o quarto dia.

Ele havia trazido algumas folhas na noite anterior, então um chá pareceu-me perfeito para o início da tarde solitária, já que Snowball havia ido com Jeongguk e eles ainda não haviam retornado. A água no fogão à lenha nem chiava ainda quando Jeongguk entrou pela porta visivelmente nervoso com algo. Eu nada pude fazer quando por um ato impensado, Jeongguk agarrou a chaleira e despejou a água morna em suas mãos sujas de carmesim. Um grito gutural rasgou sua garganta e ele largou o utensílio assustado.

- Jeongguk-ssi? - Eu me aproximei o suficiente para ver suas mãos tremendo e ele tão agitado para limpá-las que me ignorou. Eu as agarrei, trazendo para mim, a fim de chamar sua atenção e ele pareceu finalmente sair do seu transe piscando atônito. - O que aconteceu? Por que está assim? - Seus olhos miraram os meus e eu sorri alcançado um pano qualquer para limpar suas mãos e acalmá-lo.

- E-Eu acho que matei alguém, Taehyung. - Sua voz falhou, mas eu entendi perfeitamente.

- O quê? Jeongguk-ssi, como- - Eu parei instantaneamente quando percebi o líquido morno em suas mãos. O sangue.

O Inverno Tem Cabelos Negros Onde histórias criam vida. Descubra agora