A confusão tomou meus pensamentos quando acordei e deparei-me com um desconhecido teto de madeira. Meu corpo estava coberto por grossas e quentes camadas de lã.
Ergui meu tronco tentando reconhecer onde estava, deparando-me com o interior de um chalé. O local era completamente feito de madeira, seu tamanho era comparado a um pouco maior que dois cômodos do castelo Gyeoul. Não havia divisórias o que me dava completa visão do lugar. Na janela da parede oposta havia uma pequena cozinha, com água encanada e um fogão à lenha de ferro. Uma pequena mesa de madeira escura dividia o local da possível sala de estar, onde um aconchegante sofá fora posto abaixo de uma extensa e alta prateleira entupida de livros.
Então, uma fita grossa de pedras que passavam do teto formava a lareira que crepitava acesa; no chão à sua frente, um tapete fofo fora posto. Uma porta fechada, uma janela onde eu pude observar a floresta lá fora, um pequeno criado mudo, um guarda-roupas e então a cama onde eu estava, bem abaixo de uma janela. Por último uma outra porta, mas menor.
Não havia ninguém no local.
Eu me afundei na maciez abaixo do meu corpo com o questionamento de como viera parar nesse lugar. As lembranças do dia anterior inundaram minha mente em um turbilhão confuso. Eu havia fugido do meu casamento, trotado em meio à neve por horas. O frio no meu corpo, o lobo e então, o homem pálido de cabelos pretos. Tudo depois disso era uma lacuna em branco, portando deduzi ser justamente esta parte que responderia como vim parar aqui. Contudo, eu já me sentia disposto e partir era a melhor opção, sabendo que possuía um grande problema sobre os ombros para resolver.
Um grunhido alto soou quando a porta esquerda foi aberta e então o homem pálido entrou com algo em mãos, seguindo direto para o fogão, largando ali o que quer que fosse que estivesse em suas mãos. Ele se afastou rapidamente quando o fogo esquentou e eu observei que ele estava vestido exatamente como na noite anterior, mesmo com neve lá fora. Era intrigante, perguntei-me se talvez ele não possuísse roupas para a estação, mas observei que seu corpo não reagia com aversão ao clima.
— Oh, você está acordado! — Tão imerso em minha mente, não notei estar sob o olhar do homem. Ele parecia mais jovem com a luz do sol entrando pela janela e iluminando seu rosto. — Como se sente?
— Me sinto melhor. — Sentei-me contra a cabeceira da cama, lançando-lhe um sorriso sincero. — Obrigado por me salvar.
— Era o mínimo que poderia fazer. — negou e então seu rosto adotou uma expressão divertida — Mas me prometa nunca mais perambular por uma floresta boreal sem roupas adequadas.
— Não irei. — Eu murmurei, ignorando o fato dele vestir apenas uma calça de linho e uma camisa meio manchada, com mangas que cobriam suas mãos. Ele assentiu voltando para o fogão à lenha, e com cuidado, pôs sobre a bancada uma pequena panela.
— Eu fiz sopa para você. — Ele disse. — Não sou o melhor com temperaturas quentes, mas acho que está bom — comentou, trazendo para mim um prato cheio de um caldo de aparência realmente deliciosa. Entretanto, a ideia de adiar mais minhas consequências fez-me ignorar o murmúrio do meu estômago.
— Obrigado novamente, mas eu devo ir. — Saltei da cama quente, ficando de pé. Porém, o menino olhou-me confuso, largando o pequeno prato de volta à mesa.
— Você teve uma hipotermia, não é bom sair agora. — Ele sussurrou, enquanto eu mapeava a casa em busca das minhas botas. — Fique mais um pouco.
Fitei-o por um momento, ele parecia realmente preocupado e quando desviei o olhar para janela, nevava. Talvez eu não quisesse tentar a sorte mais uma vez, então eu assenti desistindo momentaneamente.
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O Inverno Tem Cabelos Negros
RomancePara Kim Taehyung, um jovem príncipe, o solstício de inverno não poderia significar algo tão ruim do que o dia que abdicaria sua liberdade e se casaria por interesses. Mas então o solstício pôs seus pensamentos à prova e lhe trouxe o mais bonito dos...