capítulo 2- morte fetal

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•Yussuf narrando

- Então Senhor, eu.. sinto muito mas..- o doutor vai falando devagar e aumentando minha angústia a cada segundo.

- Fala logo doutor, por favor. Não aguento mais ficar sem notícia alguma.- acabo por interromper o doutor antes de terminar de falar.

- A sua esposa está melhor, embora inconsciente, porém... O seu filho não.- meu coração despedaçou.

- Meu filho... Como ele está? E onde, no berçário também?- pergunto sem parar e o médico parece procurar as melhores palavras.

- O seu filho nasceu morto. - falou calmo. Não segurei as lágrimas que já ameaçavam cair.- sua esposa precisa do senhor neste momento, seja forte e vá lá ficar com ela.

- Obrigado doutor, vou só fazer uma ligação e logo vou ver a minha esposa.- o doutor abana a cabeça e sai, me deixando parado e sozinho na sala de espera.

•Mariam Narrando•

Abro os olhos lentamente, percebo que estou agora em outra sala. Esta é totalmente diferente da anterior. Esta é calma, silenciosa, deixa a pessoa pensar a vontade.
Meu filho... Onde está? Aperto o botão que chama a enfermeira.

- Senhora, o que houve?- ela pergunta assim que entra na sala me encarando.

- Meu filho. Eu quero o meu filho, eu não o vi. Preciso ver assim como foi com a minha filha, traz ele para mim? Eu quero conhecê-lo.- digo apreensiva e a enfermeira se aproxima de mim... Pega na minha mão, e demonstra que quer falar.

- Olha senhora, o seu filho.. n- ela é interrompida.

- Doutora, deixe que eu falo por favor. - ouço a voz de Yussuf então meus olhos param de encarar a doutora para então encararem o meu esposo.

- Sim claro, então.. quando precisar de mim é só chamar. Com licença.- ela fala e sai nos deixando a sós.

- Meu amor onde você estava, porquê saiu do meu lado? E o nosso filho?- percebi que quanto mais eu perguntava, mais ele tinha vontade de chorar, o que me assustava cada vez mais.- por favor fala logo Yussuf eu não aguento mais.

- Minha querida... O nosso filho, ele...- imagino que tentava encontrar palavras que não me magoassem. Mas era pior.

- Ele... Não resistiu?- acabei soltando e ele arregalou os olhos.

- ...sim...- disse por fim então, me deixando pior do que já estava.- ele morreu antes de nascer, o que fez do parto mais difícil.
Minha cabeça doía, meus olhos ardiam, meu coração despedaçado.
Os filhos quando perdem os pais são chamados órfãos, mas e os pais quando perdem os filhos, são chamados de que?

•Abdul Rahim Narrando•

Não sei como falar pra Zarina o que houve.
Vou até à sala onde ela está sentada vendo TV.
Ela se vira pra mim, faz uma expressão de preocupação e então fala.

- Porquê não me diz de uma vez o que houve?- ela pergunta com aquela voz de menina de 4 aninhos, que ela tem.

- A mamãe teve uma menina.- digo pra ela que não muda a expressão.

- Mas isso você já tinha me falado Abdul Rahim!- ela ergue os bracinhos.

- Então o que mais quer saber?- pergunto mesmo sabendo da resposta.

- A mamãe estava esperando dois bebés, uma menina e um menino, você sabe muito bem disso. E também, ainda hoje me disse que a menina nasceu, e só faltava o menino. Agora me fala onde está ele.- ela me surpreende com suas palavras. Não sei o que responder.

- Zarina, a mamãe errou na contagem, porque só esperava um bebê, não dois.- ela fica triste.

- Mas eu queria ter dois irmãos!- ela chora e eu me sento do lado dela, acariciando as duas bochechas.

- E você tem dois irmãos.- falo e ela trava por instantes o seu choro, como faz sempre que quer falar estando a chorar.

- Eu queria dois que fossem bebés, pra que eu tivesse dois bonecos que falam.- ela explica inocente.

- Mas bebê não fala minha pequena!

- Mas pelo menos são bonecos de verdade.- ela retoma seu choro e eu já não sei o que fazer. Ela nem sabe que o bebê morreu e já está chorando assim. Não imagino se soubesse.

•Fátima Narrando•

Entro na sala onde está minha filha, vendo ela dormindo e seu marido sentado admirando ela. Como eu amo esse casal.

Dou um beijo na testa dela e vou cumprimentar Yussuf.

- Mãe, a senhora chegou bem? Pode se sentar aqui.- ele se levanta me cedendo lugar.

- Obrigada filho. Como ela está?- pergunto me sentando.

- Muito abalada mãe. Pode imaginar como ela se sente.- ele fala calmo e eu sorrio de leve.

A Vida Me Fez IndependenteOnde histórias criam vida. Descubra agora