A Vida Me Fez Independente

capítulo 5- 1º aniversário

•Mariam Narrando•

Um ano se passou...
Um se passou desde que perdi meu filho naquele parto... E mais uma vez digo "dera eu não ter sobrevivido no seu lugar".
Hoje faz exatamente um ano, que eu teria ele em meus braços...
Hoje faz exatamente um ano que tive a minha filha, minha pequena Sara Bibi.

•Yussuf Narrando•

O tempo passa e parece que voa...
Não percebi e já é o primeiro aniversário com minha filha mais nova.
Não percebi e já é o primeiro aniversário sem o meu filho mais novo.
A vida é assim...
Uns vem, outros vão para assim darem lugar aos que vierem.
Ninguém quer que seja parente seu a ir, mas tem que ir sim... Assim como um dia será você, ou eu.

Minha esposa não é mais a mesma, desde o seu último parto... Ela agora é mais fria, dramática, menos sensível e sempre acha que tem razão.
Entendo tudo isso, só não entendo o porquê de ela não tratar Sara Bibi com carinho, como deveria. Ela sente uma espécie de ódio pela pequena Sarita... Mas que culpa a menina tem? Não foi ela quem escolheu vir sozinha e não com seu irmão.

- Que tal se fizermos um bolo de aniversário para a Bibi?- digo depois de me virar e olhar para Mariam.

- Você não pensou bem antes de dizer isso. Hoje faz um ano que perdemos nosso filho, achas que tenho cabeça pra pensar em festa?- ela responde sem nem pensar, me encarando.

- Mas ela não tem culpa, não tem que pagar pelo pato que não comeu.- insisto ainda com o olhar sobre ela.

- Mas foi por ela ter nascido que ele morreu.- respondeu pesado hein.

- Então você dá culpa a ela? Queria que fosse ela e ele ficasse, certo?- pergunto com um tom meio irónico. Não esperava por aquela resposta que ela deu.

- Não me faça essa pergunta absurda.- ela responde olhando para o nada.

- Absurda é a ideia de você dar culpa a uma bebe por ter perdido o outro no parto. Você sabe bem que quando se vai ao parto, todos ficam em risco de vida, tanto a mãe como o feto. Cada um tem 50% da vida na terra e outros 50% na cova. Ninguém tem culpa de nada, só o destino faz as coisas consoante a ordem de Deus.

Levanto da cama a deixando sozinha, ali deitada.
Passo pelo berço da pequena, vejo ela brincando com seus brinquedos e dou um beijo em sua testa, ela sorri.

- Nós não terminamos de conversar.- ouço quando me viro em direção a porta para sair do quarto, mas então me viro para ela.

- O que você quer falar ainda? Que mudou de ideia?- pergunto sério e ela continua olhando para o nada.

- Não, não é isso. Ela não vai perceber que lhe faltou um aniversário, não entende essas coisas.- aquilo soa na minha mente, não acredito que estou ouvindo da mulher que eu amo, sobre nossa filha mais nova.

- Você está depositando a dor de ter perdido um bebê nela, e eu não estou gostando.- digo bravo a apontando com o dedo indicador direito.

- Não f...- a interrompo.

- Não quero ouvir mais nada. Não temos mais nada para falar sobre isso.- me viro, saindo do quarto.

Acho que todos ainda dormem. Passo pelo quarto de Zarina e ela está coberta até a cabeça, saio e vou ao quarto de Abdul, que está deitado mexendo no celular.

- Ela está bem?- chateio ele, mesmo sabendo que não tem namorada.

- Ela.. quem?- ele pergunta me olhando com o cenho franzido.

- Ue, a sua garota filho!- dou um sorriso e ele abana a cabeça.

- Não tenho garota nenhuma pai, e você bem que sabe disso hein.- ele ergue uma sobrancelha.

- Até parece que você me diria se tivesse.- faço careta.

- Porquê não? Mas não digo porque não tenho. Só que nunca terei, elas são chatas demais.- ele fala e já parece um adulto.

- Não fale assim, você ainda é um garotinho pra achar as mulheres chatas.

- Que garotinho papai? Eu sou bem grandinho já pra conhecer essas minas.- ergo uma sobrancelha.

- Essas minas?? Nossa, você hein.

•Marian Narrando•

- Hoje a minha irmãzinha faz um ano! Iuupii!! Tem bolo de aniversário! Tem bolo de aniversário! Tem bolo de aniversário.- ouço Zarina cantando quando passo pela porta dela. Abro de leve e ela está pulando na cama, cantando. Fecho a porta e volto ao meu quarto.
Acho que estou fazendo mal, a Sara não tem culpa de nada, eu devia fazer um bolo para ela. E desse modo Yussuf volta a falar comigo, além de que todos ficam felizes.