Capítulo 10 - O vitral das memórias

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Quando cheguei da delegacia, sentei-me à mesa de jantar do Gregori e comecei a escrever

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Quando cheguei da delegacia, sentei-me à mesa de jantar do Gregori e comecei a escrever. Devaneios, ideias, esboços que viriam a fazer parte dessa história, tudo o que passava pela minha mente naquele momento. Uma circulação de ideias rápidas que me deixaram muito agitado e sem sono. Sempre gostei de escrever, normalmente fanfics sobre o Zorro, mas às vezes alguns pequenos trechos de poemas, algumas cartas, coisas meio sem sentido que de algum modo me ajudavam a organizar as ideias e pensar melhor. Só que, agora era diferente, era a primeira vez que escrevia diretamente sobre mim como parte de alguma coisa, como parte da minha própria história.

Escrevi sobre o Beira-Mar, aquela experiência tinha mexido comigo. Algumas notas investigativas acompanharam a borda do meu papel do tipo: Quem era ele? Sou eu? Como ele apareceu? De que modo, eu teria que lutar? Também escrevi sobre a minha relação com meu tio, sobre como eu me sentia na casa do Gregori, sobre a minha dança-declaração com a Karen, e sobre minha vontade de ver o mar de novo. Puxa , trocaria todo o meu reino por uma caminhada na areia.

Subi no terraço do restaurante Běihǎi, estava quase amanhecendo. Acendi um cigarro para pensar melhor, prometi para mim mesmo que seria o último, mas não tive certeza sobre isso. Parecia que tinha passado uma vida inteira desde a primeira vez que estive ali e hoje havia sido, com certeza, a noite mais longa da minha vida. Olhei para o Areia, ele estava dormindo em um sono de brisa calma, precisava pensar no que faria com ele antes que o Gregori se encrencasse.

O bom do Gregori é que ele quase nunca enchia o saco. Sabia ser silencioso na hora certa, o que para mim era crucial para organizar os pensamentos. Ele me pegou na delegacia em um táxi, me deu um abraço forte e acolhedor e não disse uma palavra. Juro, não houve nenhum grito, nenhuma reclamação, nada de berros exaltados contra a noite ou contra mim. Perguntei para ele como tinha chego até a delegacia e ele pegou minha carteira no seu bolso e me entregou o seu pequeno cartão com as palavras garrafais "Gregori Bahati, ator profissional". Fiquei feliz por ter guardado aquilo. Falei para ele sobre o meu tio e o hospital que ele havia sido internado, e ele me olhou espantado e disse que amanhã resolveríamos isso. Depois disso, não conversamos mais.

Vi o amanhecer começar o seu espetáculo. As nuvens se aglutinaram e ficarem rosadas e alaranjadas, o céu em um tom azulado espelho d'água e o sol despontando no horizonte leste, devagarinho, quase tímido. Naquela multidão de prédios e casas surgia à beleza, a luz do dia. Finalmente fiquei cansado assim que as luzes bateram no meu rosto. Apaguei meu cigarro, desci do terraço e fui dormir.

Acordei já era de tarde, Gregori me fitava com uma xícara na mão do outro lado da sala. Perguntei se tinha acontecido alguma coisa e ele balançou a cabeça negativamente. Fui até o banheiro tomar um banho e voltei depois para conversar melhor com ele. Não tinha como evitar esse tipo de conversa no final das contas. Sentei no sofá. E ele começou o sermão.

– Você sabe o quanto fiquei preocupado com você? Você desapareceu, guri! E me ligam às quatro da manhã falando me perguntando se conhecia você, menti que era o seu padrinho... o padrinho de um idiota... e eles me falaram que foi pego por desacatar autoridade e por dirigir ilegal! Claro que dirigia ilegal e xingar todo mundo... você é só um colegial riquinho, mimado e almofadinha! Como não pensei nisso antes? – Gregori falou tudo em uma velocidade inimaginável e no final suspirou cansado e puto – Não quero ter esse tipo de preocupação mais! Você está me entendendo?

Tomás à Quebra-Mar (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora