1. (V)

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28 de dezembro de 2014.

Domingo; 13:36.

Oi,

Tenho muitas saudades tuas. Desde que foste para o Brasil, tudo aqui em casa tem mudado.

O pai perdeu o trabalho e, quando não está a beber, esta a bater à mãe, e esta continua a trabalhar na empresa, tentando dar um teto e por comida na mesa a uma zé-ninguem. E eu? Bem, as minhas notas estao pessimas e aquela menina super estudiosa que tu conhecias desapareceu. Mas para mim isso já nao importa muito.

O meu dia a dia é muito repetitivo. Levantar-me de manhã, vestir-me, sair de casa sem me dar ao trabalho de falar com o pai, ir para a escola e depois voltar para casa e fechar-me no quarto enquanto ouço os berros de dor da mãe. Parece até um ritual.

Eu estou tão cansada disto. Sinto-me sozinha, sinto que ninguém gosta de mim, sinto-me perdida nesta coisa a que gente normal chama vida. Eu só tenho 16 anos, porra. Acho que não merecia tanto. Ninguém merece, tendo a idade que tenha.

Eu juro que não te queria dizer isto, juro que não queria preocupar-te. Mas sempre foste tu, sempre foste tu o meu abrigo, a bengala em que eu me apoiava para nao cair, tu eras tudo. E agora que foste para ai eu não tenho ninguem.

Tu agora tens a tua nova vida, com a tua nova esposa, a tua filha, os teus novos amigos e a única coisa que eu te desejo é felicidade. Mas só te peço uma coisa: nunca te esqueças da tua irmã mais nova.

Por favor responde-me, conta-me como é a tua vida ai e como a minha sobrinha está a crescer. Ela já fala? Podes ensinar-lhe a dizer tia? Eu não quero que ela cresça sem saber quem eu sou.

Sabes que eu te amo,

A tua irmã.

Depois de muito tempo a batalhar entre sim e não, fechei os olhos e carreguei em enviar.

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