Capítulo 1

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Um casal adentrava o quarto de hotel naquela noite quente em New York, o homem aparentava ter 50 anos ou mais, a julgar pelos cabelos brancos e marcas de expressões em seu rosto. A mulher por sua vez passava a impressão de estar se aproximando dos trinta anos, usava um vestido preto longo justo com decote profundo e costas nuas, tinha o cabelo num tom castanho preso em um coque alto elegante e quando sua boca num batom vermelho se abriu em um sorriso, o seu acompanhante pareceu vacilar e perder a linha de raciocínio, era o sorriso mais bonito que ele já tinha visto.
- Sabe, Victor, pra quem comanda uma das maiores empresas químicas do mundo, você escolheu um quarto de hotel bastante simples. É um homem de pouco luxo, pelo o que percebo – Anahí olhava a cidade pela janela pequena do quarto e aceitou o copo de whisky que seu acompanhante oferecera.
- Não se engane, minha cara amiga, eu sou um homem apaixonado por dinheiro e gosto de aproveitar o melhor que a vida tem a oferecer. Mas nas circunstâncias atuais, é preferível que eu mantenha a discrição, pelo menos por enquanto. – Sorrindo, Anahí passava o dedo pela borda do copo assistindo Victor Lange, CEO da maior empresa química do mundo – e hoje, seu alvo - sentar-se na poltrona ao lado da cama.
- Sabe, um homem como o senhor, tão atarefado, ocupado e importante, deve ter o peso do mundo nos ombros – Sorrindo, a mulher se dirigiu até a poltrona, se colocando atrás da mesma, passando a mão livre pelos ombros do homem, que se arrepiou ao sentir o toque daquela mulher.
- Não sou de me gabar, não me entenda mal, mas eu realmente tenho o peso do mundo nos ombros. Ser bem sucedido, poderoso e permanecer no topo é muito dificil, somente os mais fortes conseguem e me considero o mais forte deles, de que outro jeito teria uma mulher esplêndida como você ao meu lado? – Victor sorriu sentindo o peso do poder em suas mãos, ela estava ali para servi-lo, como todos a sua volta.
Anahí se curvou pra frente e lambeu o lóbulo da orelha esquerda do homem e sussurrou em seu ouvido:
- Sabe, Sr. Lange, para quem se considera um homem forte e poderoso, suas escolhas essa noite foram muito irresponsáveis e perigosas – Subitamente, Anahí bateu com o copo no apoio de braço da poltrona, quebrando parte dele. Tinha agora em suas mãos uma arma afiada e antes que Victor pudesse reagir, cortou-lhe a garganta com o vidro que ainda segurava. Olhou aquela cena do homem em seus últimos minutos de vida e se virou para a janela novamente acenando a cabeça, o sinal tinha sido dado.
Passou a mão suja de sangue no terno do moribundo e antes de sair, olhou aqueles olhos que logo não veriam nada
- Espero que na sua próxima vida você não venda seus produtos químicos à terroristas, Sr. Lange.
Saindo do quarto, Anahí olhou o corredor e seguiu para a escada de emergência, onde dois lances abaixo se encontrava Dulce, parceira de missões de Anahí.
- Vista-se logo, só temos quatro minutos até que Christopher ative as câmeras de segurança novamente – Dulce entregou uma mochila a Anahí que arrancou a peruca castanha, deixando seus cabelos cor de ouro à mostra, tinha as pontas em cachos e iam até a cintura.
Dulce era uma mulher séria, de porte mediano, cabelos castanhos, olhos intensos e voz calma. Apesar da aparência inofensiva, era uma sniper extraordinária, acertava seu alvo cem por cento das vezes.
A loira vestiu a calça de moletom e regata, colocou o comunicador no ouvido e o ativou, jogou suas roupas dentro da mochila e as duas desceram as escadas até o último andar, onde saíram pela porta da frente do Hotel.
- Estamos fora do local, indo em direção à nossa rota de fuga – Dulce falava baixo enquanto andavam pelas ruas da cidade que nunca dorme. – Missão concluída com sucesso.
- Entendido, me encontrem no local determinado – Christopher respondeu em uma voz grossa, característica marcante dele, além dos 1,78 de altura, músculos e sua incrível capacidade de luta. Ligou o carro e avistou as duas mulheres atravessarem a rua e entrar na travessa que ele estava.
Quando as duas embarcaram, ele acelerou e saiu. Mais uma missão cumprida, mais um inimigo eliminado.

Christopher entrou no estacionamento de uma fábrica abandonada e desceu até o subsolo, onde foi recebido por dois seguranças que piscaram suas lanternas ao verem o carro, permitindo a passagem. Os três se dirigiram até uma porta que supostamente seria a saída de emergência da fábrica, se aquilo de fato fosse uma. Mas ao abrirem a porta, encontravam uma sala com vários elevadores, era um ambiente de pouca luz, com seguranças por todos os lado e  câmeras de segurança. Se dirigiram até o terceiro elevador sem falar com ninguém e começaram a descer. Dez andares para baixo, o elevador se abriu para um grande espaço iluminado, de chão de mármore, paredes cinzas e várias salas subdividindo o espaço. Abaixo do solo da cidade de New York, encontrava-se a sede da Organização Secreta Americana, onde Anahí, Dulce e Christopher tinham sido criados e transformados em agentes secretos.
Nenhum dos três tinham qualquer memória de antes do seu treinamento, que começou aos três anos de idade. Tinham sido educados ali, moravam ali e agora trabalhavam ali. Eram conhecido como a Santíssima Trindade, todos sabiam que uma missão em que os três estivessem, seria cumprida. Ao final do extenso corredor se encontrava a sala do chefe da O.S.A, Sr. Charles. Os três entraram e se posicionaram de forma rígida, com as mãos coladas a lateral do corpo.
- Boa noite, missão finalizada? Terminaram cedo. – Charles continuava a assinar alguns papeis em sua mesa – Ótimo, podem seguir para seus respectivos treinamentos. Deixem os aparelhos na sala de tecnologia. – Os três curvaram a cabeça em sinal de afirmação e deixaram a sala.
- Qual o treinamento de vocês agora? – Christopher perguntou enquanto tirava o comunicador do ouvido e colocava na mesa da sala de tecnologia.
- Mergulho – Dulce entregou a lente de contato com visão noturna.
- Altura – Anahí entregou o comunicador e uma arma de choque em formato de batom.
- O meu também é mergulho. Vejo você depois Anahí – Dulce e Christopher deixaram a sala rumo às piscinas na área norte.
Anahí rumou para a sala de treinamento de alturas na área oeste do galpão, entrou no vestiário e colocou o macacão de poliéster preto, com fios de titânio entre a costura, tecnologia que impedia cortes profundos nos agentes. Prendeu o cabelo num rabo de cavalo e entrou no espaço de treinamento.
O ambiente podia facilmente ser comparado à uma enorme piscina vazia, bem no centro da sala, havia uma queda de 30 metros, era ali que os recrutas aprendiam a escalar prédios. Anahí agora treinava luta em altura, bastante complicado, mas que ela já vinha se aperfeiçoando nos últimos tempos. Ela era ágil, flexível, conhecia a mecânica de seu corpo, sabia de onde sua força vinha e quais movimentos a atrasavam, era focada e determinada, o que fazia seu desempenho ser um dos melhores da agência.
Duas horas depois, Anahí foi liberada para descansar. Estava acordada há mais de 24 horas, essa última missão apesar de fácil exigiu um esforço maior dela, já que precisou interagir com o alvo em uma festa privativa antes. Em luta, Anahí era excepcional. Mas quando as missões exigiam que ela se relacionasse, era sempre mentalmente cansativo, apesar de interpretar muito bem, as células de seu corpo pareciam lutar contra o contato físico, tendo que lutar não só com seus inimigos, mas consigo mesma.
Rumou para os dormitórios, onde encontrou Dulce já deitada olhando para o teto.
- Já parou pra pensar que todos os dias nós dormimos a mais de 50 metros do chão de New York? – Dulce questionou com a voz monótona.
- Não, quando deito estou tão cansada que não consigo pensar em nada. – Anahí esticou o braço e encostou no leitor de chip ao lado de sua cama. Todos os agentes tinham um chip de localização no antebraço por segurança, caso algum fosse raptado em uma missão.
- Um dia quero dormir olhando as estrelas. Esse concreto todo, é sufocante. – Dulce comentou baixinho e se virou para o outro lado.
Anahí deitou e como tinha dito, o cansaço a fez dormir instantaneamente.

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