Capítulo 3

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Anahi, venha até a minha sala. – Charles tinha adentrado a sala de refeições, um salão comprido com mesas e cadeiras uma ao lado da outra, formando longos bancos.
- Sim, senhor. – A loira se levantou, depositou a bandeja no lugar indicado e seguiu Charles até a sala dele.
-Sente-se, tenho um pedido a te fazer. Preciso que você monitore Alfonso Herrera pra mim, descubra detalhes sobre sua vida, familiares, seus pontos fortes, habilidades, planos, se tem animal de estimação, alergias, absolutamente tudo. Não quero que meça esforços, quero todas as informações que você puder extrair. Essa é sua nova missão. Quero saber se esse rapaz pode se tornar um agente ou se é completamente inútil para nós.
- Como queira, senhor. Ele deve saber de suas intenções? – Anahí assumia uma feição rígida sempre que solicitada a uma missão.
- Não, por enquanto não. Mas não o trate como um prisioneiro, ele precisa experimentar um pouco do sabor da falsa liberdade. Leve-o pra conhecer nossos treinamentos, vê se ele se interessa por algo. E não se segure caso precise, digamos, educar nosso hóspede – Anahí sabia o que aquilo significava, estava recebendo passe livre para tortura caso achasse necessário.
- Entendido. – Levantou-se e acenou com a cabeça.
- E Anahí, você está sendo requisitada para essa missão por que é a única capaz de fazer ele se curvar perante você. Não me decepcione.
- Não irei. Até mais, senhor. – Saindo da sala, assumiu a postura de determinação, tinha recebido uma ordem e a cumpriria, como deveria ser.

- O que você faz deitado aí? – Anahí entrava na sala de interrogatório e se deparou com o homem estatelado no chão quase imóvel.
- Diminuindo as dores pelas queimaduras. E o que você faz aqui? – Perguntou de olhos fechados sem ver sua companhia. Suas feridas ainda queimavam como o inferno e pensar nelas era como se dessem a liberdade para que elas doessem mais.
- Toma, isso vai aliviar as dores. É o que eu uso – Anahí estendeu uma pomada para o rapaz enquanto sentava na cadeira ao lado dele.
- E por que devo acreditar que isso não é só mais um método de tortura? – Alfonso continuava de olhos fechados, sem mover nada além do tórax e boca.
- Eu gosto mais de extrair dentes e unhas. O cheiro de pele queimando é nojento – Disse com simplicidade.
O rapaz abriu os olhos surpreso pela naturalidade com que sua companhia dizia torturar as pessoas. Com dificuldade se sentou e pegou a pomada. Enquanto se esforçava para passar o remédio em seus ferimentos, não conseguiu segurar a curiosidade.
- Por que estou aqui? Eu não tenho nenhuma informação sobre a morte de Victor Lange. Não posso ajudá-los a capturar o assassino – Suspirava de alivio ao perceber a sensação fresca que o remédio proporcionava.
- Capturar o assassino? Querido, nós somos os assassinos. Nós matamos Lange. Bem, pra ser sincera, eu o matei. – Anahí revirou os olhos, o rapaz não foi capaz nem de descobrir o porque estava ali.
- Você o matou? Ei! Você é a morena! O que você fez? Sai de perto de mim! – Alfonso se levantou de pronto e foi pro outro lado da mesa, se afastando de Anahí. A moça lentamente se levantou, apoiou as duas mãos na mesa e respirou fundo, ele estava a cansando.
- Acha mesmo que se eu quisesse te matar você ainda estaria aqui? Você não tem tanta importância assim para que uma agente como eu seja enviada para te eliminar. Estou aqui em paz, mas se continuar me acusando, vou te mostrar o que é dor e você vai implorar para que te queimem em brasa novamente. – Sorrindo falsamente Anahí olhou nos olhos do rapaz que tinha estagnado no lugar, parte por medo e parte por surpresa. Ela tinha dois olhos da cor do oceano, intimidadores e nele despertaram certo fascínio.
- Se você não vai me matar, por que está aqui? – Alfonso tentava controlar a respiração, mas as gotículas de suor em sua testa denunciavam seu nervosismo.
- Vim te ajudar a conhecer seu novo lar. Você vai ficar aqui bastante tempo e não queremos que você saia por aí falando mal de nossa hospitalidade – sorriu de forma irônica – Vem, vou te levar até seu quarto.
- Quando vão me liberar?
- Não sei, não tenho essa informação. Mas não seja desagradável, venha conhecer seu lar - Anahí não estava acostumada a lidar com perguntas, ele a irritava cada segundo mais, parecia incapaz de seguir uma ordem sem que fosse ameaçado.
Dentro do intenso treinamento, os foram ensinados a nunca questionar seus superiores, com o tempo Anahí aprendeu que certo e errado era definido por quem estava acima dela. O certo era cumprir o que era ordenado e o errado era falhar em uma missão.
- O que vocês fazem aqui? – Alfonso andava um passo atrás de Anahí tentando absorver todas as informações que recebia. Tinham acabado de passar por um estande de tiros, ele nunca tinha ouvido o  som de um antes, sentiu os pelos da nuca eriçarem.
- Você está na Organização Secreta Americana. Aqui nós treinamos dia e noite para sermos agentes secretos. – Anahí pensara muito se deveria de fato contar a ele isso, mas sabia que essa informação jamais seria levada pra fora. Ou ele se curvaria ou morreria.
- Tipo, espiões? 007? – Ele parecia ansioso pela resposta, Anahí notou a expectativa.
- 007 é seu filme favorito, não é? – Ele concordou e ela revirou os olhos, tão previsível – Sim, basicamente somos como 007, mas com muito mais sangue e menos efeitos especiais.
Na realidade, 007 era uma versão muito mais fantasiosa do que acontecia dentro daquela organização, mas Anahí sentia-se cansada demais para explicar isso àquele homem curioso e inconveniente.
- E você, matou mais alguém, além do Lange? 
Anahí sorriu de lado debochada e o encarou, ele entendeu o recado. A resposta era sim. Muitas vezes.
- E você vive aqui? – Tinham chegado à ala de quartos individuais. Eram poucas as vezes que alguém os usava, geralmente eram destinados à vítimas acidentais das missões.
- Você faz perguntas demais, não cansa? Esse é seu novo quarto, tem uma cama simples, mas confortável, você vai achar uma muda de roupa dentro dessa cômoda, ali é o banheiro e isso aqui – apontou para um ponto preto na parede – É uma câmera, te monitorando 24 horas por dia. Não tente nenhuma gracinha. Eu saberei se tentar. Tenho treinamento de tiro agora. Aproveita pra descansar, amanhã nosso dia começa cedo e te levarei para alguns treinos.
- Por que?
- Por que eu digo. Boa noite, Herrera. – A loira fechou a porta e deixou o rapaz ali.
Alfonso não sabia o que achar, apesar de estar com medo do que planejavam fazer com ele, só a confirmação de que havia de fato agentes secretos o excitava, como se um mundo novo se abrisse bem diante de seus olhos. Quantos crimes, mortes e eventos teriam sido causados por espiões? E ele não podia negar, Anahí era enigmática, apesar de grande beleza, a moça era uma rocha, confortável em matar, torturar ou causar danos se necessário. Ele bem que tentou dormir, mas os olhos da cor do oceano inundou sua mente, assim como o medo do que eles seriam capazes.

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