- Você está atrasado. Que não se repita novamente. – Anahí tinha esperado do lado de fora seu acompanhante se trocar. Aquilo, mais do que as perguntas contínuas, a tinham irritado, atraso era inadmissível.
- Desculpa, não dormi bem essa noite. – Alfonso colocava os óculos enquanto seguiam pelo corredor.
- Isso não vai dar certo. Vou te levar até a sala de tecnologia pra te arrumarem lentes de contato, seus óculos serão um empecilho durante os treinamentos.
- Empecilho? Mas por que eu preciso treinar? – Alfonso não gostava da ideia de abandonar os óculos, o faziam se sentir bonito, atraente.
- Se durante o treinamento algo te atingir seu rosto, você não vai querer que as lentes quebradas perfurem seus olhos. E você vai treinar porque foi ordenado. Já disse, não tenho esse tipo de informação, só obedeça e para de questionar – Anahí estava dura, o mau humor pelo atraso piorava a cada pergunta.
- O que você tem contra perguntas?
- São sinal de insubordinação. Agora coloque seus óculos aqui. Vou pegar as lentes. – Tinham chegado a sala de tecnologia, Alfonso olhou em volta e se surpreendeu com a quantidade de coisas atrás do balcão, grande parte das coisas ele nunca tinha visto na vida, eram tecnologias desconhecidas pela população. - Toma, vê se essas servem. São do seu grau, puxamos seu registro médico. – Anahí entregou uma caixinha com três pares de lentes de contato.
- Tem algo sobre minha vida, que vocês ainda não saibam? – Alfonso experimentou as lentes e surpreendeu-se com a exatidão do grau. Piscou algumas vezes se acostumando com a sensação.
- Só aquilo que você não nos contou ainda. Nosso primeiro treinamento será luta. Serei sua professora, portanto, chega de perguntas. Vamos.
Os dois rumaram para a sala de luta, Alfonso tinha começado a suar novamente, nunca tinha sequer trocado tapas na escola, como ela poderia querer que ele lutasse? Ela não parecia ser paciente.
- Muito bem, como é seu primeiro dia, quero ver o que você sabe fazer. Você é um homem enorme, é óbvio que é forte, mas quero ver como controla seu corpo. – Ela puxou uma espécie de manequim estofado, travou-o no chão de frente para Alfonso. - Esse manequim imita quase perfeitamente o corpo humano, então a força do seu impacto aqui, se assemelha à um golpe em alguém. Soque o queixo. – Anahí deu um passo pra trás e cruzou os braços observando. Alfonso estava inseguro, mas sua masculinidade não queria que Anahí pensasse que ele não era capaz de socar alguém, portanto respirou fundo e socou o ponto que ela indicou. As queimaduras de seu corpo pareceram gritar, era quase como se estivesse sendo queimado novamente, mas ainda respirando fundo se concentrou em ignorar as dores. Ele sabia que mais do que o físico, Anahí também estava avaliando sua capacidade emocional e por algum motivo, queria impressioná-la.
- Bom, você tem um soco potente, mas está concentrando toda a força no punho, isso pode fazer você quebrar sua mão. – Anahí explicava de forma clara e objetiva e Alfonso absorvia tudo, achou melhor não contar à ela que seus dedos agora doíam como o inferno pelo impacto – Quando for realizar esse tipo de golpe, concentre a força no ombro, impulsionando-o para trás e depois jogando o peso do corpo para ele, isso vai fazer seu soco mais forte e mais ágil. Tente de novo, agora.
O segundo soco foi muito melhor, do ponto de vista da Anahí, uma das travas chegou a soltar. Ele era forte, isso ela admitia.
- Ótimo, agora um soco no peito, bem no final do torax, dois centímetros acima do estômago, isso vai quebrar as últimas costelas e impedir que o seu inimigo vomite em você.
O treinamento seguiu por várias horas, além do desempenho em luta, Anahí analisava a resistência física do rapaz. Estava levemente impressionada, alguns recrutas levavam meses até aguentarem um treino como aquele.
- Ótimo, pausa. Muito bom para um primeiro dia. Depois do almoço te levarei para o treinamento de tiro. – Anahí saiu na frente enquanto Alfonso se curvava com as mãos no joelho respirando fundo e pesadamente. – Vamos, Herrera. – Gritou do corredor quando percebeu a falta do rapaz, que saiu correndo atras dela.
O estande de tiros estava vazia quando os dois chegaram. Anahí entregou um protetor auditivo e um fone antirruído para Alfonso.
- Muito bem, vamos começar com uma .40, é particularmente minha favorita, leve e faz o estrago necessário. Não seja fraco, achei que já tivesse ficado claro o que eu faço – Anahí viu os olhos arregalados de Alfonso. Porque ele reagia assim ao encarar o assunto morte? Era tão natural pra ela. – Muito bem, segure com as duas mãos, ajeite a coluna, ótimo, agora mire no alvo, mas mova sua mão um centímetro pra lateral, o impacto do tiro vai ajeitar a rota da bala. – Ela vestiu a proteção e acenou com a cabeça, ele receoso, puxou o gatilho e o impacto o fez dar dois passos para trás, mas o alvo tinha sido acertado. – Foi quase perfeito, você precisa firmar seu pé dominante no chão e usar o outro como ponto de equilibro, vai impedir que você sofra movimentos pelo impacto. De novo. – O treinamento seguiu e no final do dia, Anahí sabia que assim como Dulce, Alfonso poderia facilmente se transformar em um sniper.
Anahi continuou a treinar Alfonso dentro do mês que se seguiu. Ele era bom. As perguntas ainda a incomodavam, mas o desempenho do rapaz era impressionante. Ele mostrou aptidão nas aulas de tiros e até Dulce se impressionou com o rapaz, ela aparecia de vez em quando para treiná-lo quando os horarios de Anahí não permitiam sua presença. Apesar de ser mais tranquila que a loira, Dulce também era rígida com o treinamento e também não era fã de perguntas. Alfonso tentava se adaptar aquela realidade, mas sua curiosidade nata era mais forte, gostava de saber das coisas e suas professoras gostavam de ignora-lo. Christopher também se impressionou com a habilidade que Alfonso tinha no treinamento de tecnologia, ele conseguiu invadir um site com poucos dias de tentativa e quando Christopher questionou onde ele aprendera aquilo, ele simplesmente disse:
- Bom, invadi o site da escola uma vez pra trocar minha nota. Isso foi quase igual.
Não havia duvidas que Alfonso Herrera tinha despertado a admiração de alguns dos agentes mais importantes da Organização.
- Senhor, com licença. – Anahí entrou na sala do chefe, e sentou em frente a ele. Um mês tinha se passado desde que os treinamentos de Alfonso tinham começado. Anahí tinha sido chamada para o primeiro relatório.
- Muito bem, o que me diz de nosso hóspede? – Charles se recostou na cadeira e tragou seu charuto longamente.
- Ele é talentoso, senhor. Tem vocação para armas, é forte, ágil, inteligente, um pouco curioso demais pro meu gosto, mas tem potencial. – Anahí se admirou quando na segunda semana, ele e Dulce tiveram a mesma quantidade de alvos acertados no estande de tiros. Até Dulce confessou que ele poderia se tornar melhor que ela.
- Ótimo e alguma informação pessoal?
- Mora sozinho desde os 16, antes disso morou com os avós. Seus pais faleceram quando ainda era um bebê.
- Muito bem, vou chamá-lo. Se for do desejo dele, o tornaremos um agente.
- E se ele negar?
- Bom, daqui ele só sai vivo se for em uma missão. – O recado tinha sido entendido, só havia uma opção. A loira assentiu e deixou a sala. Se Alfonso Herrera negasse o treinamento, essa seria a última noite da vida dele. Algo dentro dela causou desconforto ao pensar nisso.
Alfonso
- O senhor quer que eu me torne um agente? – Alfonso estava sentado de frente para Charles, completamente perplexo. Tinha passado um mês treinando e aprendendo coisas novas, mas a ideia de se tornar um agente de verdade, não parecia fazer sentido. Ao mesmo tempo, cogitar isso lhe causava um burburinho no fundo da mente onde imagens de James Bond surgiam, e a frase “e se?” brincava.
- Exatamente. Não mentirei para você, Herrera. O treinamento é pesado, árduo, cansativo, física e mentalmente. Só os mais fortes sobrevivem. Mas soube que você se tornou quase uma celebridade aqui, é talentoso. Eu seria burro se desperdiçasse esse talento. E o senhor seria burro se preferisse a morte. Mas, claro, a decisão é toda sua. -Charles se recostou na cadeira com os dedos entrelaçados sob a barriga observando o jovem a sua frente.
- Essas são minhas opções, então? Ou eu aceito, ou morro?
- Na mosca -Charles sorriu. Essa luta estava ganha.
- O que tenho que fazer? – Decidido, Alfonso se tornaria agente secreto. Dois olhos de cor do oceano inundaram sua mente. Bom, teria mais tempo ao lado dela também.
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▪︎Amor Secreto ▪︎
FanficAnahí tem sido treinada desde seus 3 anos de idade para se tornar a maior espiã do governo americano. Seus superiores a transformaram em uma máquina, que não questiona as ordens que recebe e mata sem sentir remorso. De beleza inigualável e inteligên...