O começo do fim.

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 Nos conectamos tão rápido e tão intenso depois daquela primeira noite, em um dia ela não passava de uma desconhecida que me encarava nas aulas para alguém que eu simplesmente não conseguia viver sem, que eu amava a nossa rotina da manhã, nossa dança ao fazer os Waffles de Nutella enquanto continuávamos uma de nossas inúmeras conversas da noite anterior.
 Camila se tornará a melhor amiga que eu jamais pensei que iria conhecer, mesmo que nossa amizade fosse um grande segredo; na escola ela conversava com suas amigas, mas me encarava durante as aulas e passava bilhetes discretamente, ou mensagens no celular!
 Mas era dar duas horas da manhã e ela me avisava que estava na porta de casa, para dormirmos juntas.
  Camila era uma pessoa alegre e confiante, sua risada ecoava em todo lugar que ela ia, parecia que ela iluminava o ambiente quando adentrava! Na sala de aula, sempre tinha alguém parado olhando para ela, desejando-a, chamando-a para sair!
 Ela era linda, com aquela sua pele dourada e seus cabelos escuros, seus olhos que pareciam brilhar o tempo todo, ela era tudo o que eu queria ser.
  Todos os dias eu ouvia Camila falar para Kelly e suas amigas sobre alguém que havia chamado-a para sair, como havia a conhecido ou como a pessoa beijava e sempre, sempre vinha com um trecho de música que a fazia lembrar da pessoa.
 Ela nunca me contava pessoalmente, mas eu ouvia e ela sabia que eu ouvia, sabia pois estava sempre me olhando de relance, sem que as pessoas soubessem que éramos amigas ou percebessem seu olhar.
Sempre saia da escola com Kelly e as amigas, sempre passavam o dia fazendo as coisas que ela fazia, mas todas as noites, batia na minha porta!
Quando meu pai não estava em casa, conversávamos a noite toda e dançávamos de manhã ao fazer o café da manhã, ou eu preparava os waffles enquanto ela assistia a um desenho bobo na T.V. rindo como uma criança, porém quando meu pai estava em casa, ela acordava mais cedo para então sair escondida.
Certo dia, meu pai havia chego antes da viagem, no meio da madrugada, Camila havia acabado de dormir quando ele abrirá a porta nos assustando.
Meu pai me chamou para perguntar quem era e se era a pessoa que ele via toda manhã sair escondida pela porta dos fundos.
Naquele dia, os apresentei e meu pai foi incluído na nossa rotina, mas aquela rotina gostosa que você não se cansa dela.
Quando as férias de final de ano se aproximavam, estávamos sentados na sala enquanto papai trabalhava em seu escritório.
-Você sabe que eu sou curiosa não sabe?
-Sim. Eu ri, estávamos brincando de guerra de dedões e eu estava ganhando.
-Eu vi uma foto sua com seu pai uma mulher e duas crianças, são sua mãe e irmãos?
-São. Tentei focar em nossos dedos.
-O que aconteceu com eles?
-Ficaram com ela no divórcio.
-E onde eles estão agora?
-Eles ficaram na antiga casa.
-E veio só você?
-É, alguém tinha que cuidar do meu pai.
-Mas ele nunca para em casa.
-Eu sei. Dei de ombros revirando os olhos, estava pegando sua mania.
-Você conversa com ela?
 Sempre me perguntei o que falaria e sempre achei que mentiria sobre minha mãe... "sim nos falamos todos os dias" eu diria ou "Na verdade semana que vem ela vai me levar para viajar nós quatro", mas o que falei me pegou de surpresa.
-Eu acho que minha mãe não me ama sabe, acho que na verdade, nunca me amou?
-Como assim?
-Não sei ela não perguntou se eu queria ficar com ela, ela simplesmente pegou meus irmãos e foi embora, vai fazer um ano que tudo aconteceu e ela não mandou uma mensagem perguntando como eu tava e aparentemente proibiu meus irmãos de falarem comigo... Eu não sei o que eu fiz para isso.
 Ela ficou quieta, estávamos no sofá da sala um filme passava na T.V. e nossos dedões estavam em posição de guerra.
O silêncio reinou ali, apenas o som do filme e dos passos do meu pai no andar de cima, Kelly havia chamado-a para sair, mas ela disse que estaria ocupada, claro que não disse que estaria ocupada comigo.
Quando o silêncio começou a pesar, Camila me puxou para um abraço, me apertando em seus braços e sorrindo com um certo pesar.
-Sabe, eu não entendo o motivo dela ter feito isso, quando você é a pessoa mais amável que existe. E se ela não te ama o azar é dela pois eu te amo por mim e por ela viu?
Senti meus olhos marejarem, era a primeira vez que Camila dizia isso, que me amava!
-Eu também te amo Camila, e não sei como você consegue desistir das festas mais legais para ficar comigo. 
-Eu já disse, você é mais importante e sabe o porquê?
-Não.
-Porque você vai levantar essa bunda do sofá e fazer aquela pipoca maravilhosa que só você sabe fazer.
Me levantei rindo enquanto ela me chutava para fora da sala, enquanto fazia a pipoca, pensava em como esse ano estava me mudando do avesso e então me mudando novamente para o correto, nunca em toda a minha vida havia me aberto para alguém, nem antes.
Mas foi só ela aparecer que eu tive vontade de contar tudo, mesmo que minha vida tenha sido pacata e ridiculamente sem nada para contar enquanto a dela parecia cheia de aventuras, cheia de amores e uma enorme família unida, claro que ela não me contava essas coisas, eu apenas ouvia de suas conversas na sala de aula, comigo Camila era mais contida, querendo saber sobre as minhas, inexistentes aventuras.
Mais tarde naquela noite, logo depois de meu pai nos desejar boa noite, Camila virou para mim, fazendo-me olhar em seus grandes olhos negros, seu semblante estava triste e preocupado, nunca em todo esse tempo eu havia visto-a assim, meu peito apertou e quando ela falou eu sabia que era verdade.
-Sabe, eu te entendo.
-Sobre?
-Achar que sua mãe não te ama, quando minha irmã nasceu éramos uma família unida demais, fazíamos tudo juntos, era uma casa sempre muito cheia de amigos e música... Ela suspirou. -Mas quando Sofia completou um ano meu pai morreu e minha mãe virou outra pessoa, dizia que não queria mais ser mãe, que não tinha motivos para ser mãe sem o meu pai ali com ela. 
"Vivíamos em uma casa fechada e eu perdi muitas aulas por conta disso, minha mãe mal olhava para Sofia e eu quem tive que cuidar dela, preparava mamadeira, trocava sua fralda, fazia de tudo e eu era uma criança Lauren, eu fui mãe dela e ninguém foi a minha
 Certo dia eu acordei com minha mãe gritando na porta do quarto, Sofia chorando e eu não entendia nada, minha mãe tinha feito a mala da Sofia e uma minha, pensei que seria uma das viagens que fazíamos antes de meu pai morrer, entrei no carro e tentei acalmar Sofia que chorava a plenos pulmões, mamãe dirigia tão rápido e não me respondia para onde iríamos. Até que eu reconheci o caminho, estávamos indo para a casa dos meus avós, no meio da madrugada. Minha mãe nos deixou na porta, não saiu nem para explicar o que estava acontecendo, nem para mim ou para seus pais, não esperou que eles abrissem a porta simplesmente nos deixou ali, gritei perguntei se ela voltaria e ela só me respondeu ''um dia você vai entender que fazemos coisas por amor e quando o amor se vai, você precisa ir junto.''  Eu nunca mais a vi ou falei com ela, nem ao menos sei se está viva... Mas eu entendo ela não queria ser mãe sem meu pai."
 Não sabia o  que dizer, apenas a abracei sentindo suas lágrimas em meu pijama, a vida dela parecia menos invejável agora, mas ela deu a volta por cima e se tornou alguém que as pessoas querem ser amigas, se tornou ela mesma e eu só tinha ela enquanto ela tinha todo mundo.
-Sabe, eu te amo por ela e eu te amo ainda mais por mim. Falei beijando sua testa. -Mesmo que você tenha milhares de outras pessoas te amando também.
-Eu tenho. Ela deu de ombros se encaixando mais em meu abraço. -Mas não me importo com mais ninguém.

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⏰ Última atualização: May 19 ⏰

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