verão.

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Aviso de possível gatilho presente no capítulo: homofobia.



O exato momento em que os raios de sol matinais alcançavam a pele de Gowon, era quando sentia-se mais fria. Não importava quantas cobertas haviam ou se estava perto da respiração daquela que era extremamente amada por ela, nada jamais seria tão desconfortável.

Seus cabelos loiros caíam pelos ombros enquanto os olhos ainda buscavam por foco, com seu corpo se erguendo lentamente, com a mão esquerda bloqueando a luminosidade para ajudar a própria visão. Com o tempo, acabou perdendo o costume de usar pijamas e apenas escolhia uma roupa confortável para atravessar a rua e chegar até a casa de Olivia Hye todas as noites.

Oh, Olivia Hye.

Era incrível o quanto Gowon sentia-se sonhando todas as manhãs ao espreitar cada canto do rosto dela, com os dedos levemente atravessando o nariz, acariciando as bochechas e a boca triangular que recebeu um leve selo de lábios. Encarou os cílios se encontrando nos olhos ainda fechados da garota, antes de levantar e colocar seu par de tênis.

Descer pelas escadas era fácil por seu corpo ser tão pequeno e charmoso, não causando impacto algum nos degraus. Gostava de encarar as paredes brancas, gostava de sorrir para a foto de uma pequena Hye com seu ursinho de pelúcia e a franja escondendo sua testa. Abria a porta com tanta rapidez e agilidade que não havia tempo de se sentir mal por estar abandonando sua felicidade no andar superior daquela casa.

Atravessou a rua com o coração batendo pela enorme colisão rotineira da gravidade que subitamente caía em seus ombros, e hesitou ao tocar a gelada maçaneta da sua tão temida realidade. O pensamento todas as vezes era o mesmo, mas o oxigênio que inalava era diferente. Eram diferentes, também, suas emoções ao saber que ainda faltavam horas e horas para a noite chegar novamente.

Horas e horas para poder estar nos braços de Hye, estar alegre, estar confortável.

Sabia que havia alguém em sua cozinha pois a luz estava acesa, culpa do tão nublado céu que se encontrava fora do ambiente. A sala tinha um cheiro de perfume feminino, agora tão comum que quase esvaia-se do olfato de Gowon, mas não se perdoaria jamais caso deixasse passar um detalhe da presença da mulher que agora vivia ali. Nem mesmo um fio de cabelo, e ela conseguia enxergar um perdido no sofá.

Seus sentidos estavam todos captando informações mas não foram capazes de dizer onde estava seu pai naquele momento. E então, a doce voz soou, com a persona diferente da que geralmente aparece quando estão três pessoas no mesmo cômodo.

Depois de um tempo de convivência deveria ter se acostumado, mas era só olhar para algo com muito açúcar em uma loja de conveniência que o ódio demonstrava não querer ir embora tão cedo. Agora, era incapaz de adorar qualquer doce.

"Gowon? Você é sempre tão previsível, que decidi fazer um café para você hoje. Espero que goste, é a refeição mais importante do dia."

A pequena deu alguns passos sem se atrever a passar do batente e adentrar na cozinha. "Colocou veneno em minha comida? Truque antigo, sou mais esperta que isso." Ajeitou a postura, causando mais efeito com a frase que, em sua cabeça, soava melhor.

"Não, não esperta. Apenas previsível. Céus, nem ao menos um bom deboche. Vamos, você consegue mais que isso." E então soou uma breve risada da mulher encostada na bancada, em frente de duas xícaras e algumas torradas. Havia pão, porém, mas Gowon apenas suspirou.

"Meu pai saiu?" Sentiu novamente o cheiro de perfume e arqueou a sobrancelha desviando os olhos até encontrar o sofá, até encontrar o fio de cabelo. Aguardou a resposta, vinda apenas depois de um enorme e barulhento gole de café da outra.

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