uma gota de chuva.

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E, mais uma vez, as gotas de chuva se acumulavam na janela do quarto de Olivia. Apenas de olhar para elas, ela sentia como se fosse provável sair chuva pelos seus olhos de tanta tristeza que a traziam. Era difícil de evitar, era como se aquilo a perseguisse, aquele sentimento insatisfeito, aquele desejo que jamais fora realizado.

Ela não entendia o por quê. Como poderia? Era simplesmente uma garota que odiava dias chuvosos, não há tanta complexidade nisso. Mas talvez, Hye não soubesse, mas seu coração sabia que não era a chuva que a incomodava, e sim o amor, o amor que Gowon nutria por ela.

Em frente a sua casa, todas as tardes, os cabelos de Gowon se molhavam com as gotas que caíam do céu, assim como a sua pele. Ah, como Olivia gostaria de saber todas as impurezas de uma pele tão branca... e ela sabia. A chuva. Cada gotinha dela, sabia cada impureza.

É complicado pensar que algo tão imaginativo possa ser realmente sentido, mas Hye sentia. Sentia cada parte de seu corpo a obrigando a olhar pela janela. A obrigando à admirar alguém que mesmo tão perto, parecia estar a décadas de distância. Mas aquela tarde? Aquela tarde foi diferente.

Olivia tinha um guarda-chuva, e queria usá-lo.

Vestiu seu casaco, e saiu de casa. Como espelhos, a porta da casa da frente abriu e fechou ao mesmo tempo, e lá estava ela, olhando para o céu. Venerando aquilo que ela considerava ser algo mágico, algo feito pelos deuses. Para Olivia, ela era algo feito pelos deuses.

Deu um passo, e depois outro. E depois, mais um.

Ela se sentia novamente presa em seu quarto, contando a quantidade de gotas que se acumulavam em sua janela. Uma gota, duas gotas, três gotas... Três passos. E então, uma brusca parada. Se sentia observada, mas não havia coragem o suficiente em seu pequeno corpo para fazê-la levantar a cabeça e olhar.

Depois de um silêncio confortado pela parada da chuva, Hye abriu os olhos. Ah, como ela desejava ter aberto os olhos antes, para ver quando a amada desapareceu. Provavelmente havia desaparecido após a sua razão também ter resolvido se esconder, ao contrário das lágrimas da nossa garota.

Ela não se importava se a calçada ainda estava molhada, ou se tinha parado de chover. Se sentou, serenamente, e depois abriu o seu tão querido guarda-chuva. Queria abraçar alguém, queria ser confortada por alguém, mas só lhe restava o vazio. Uma imensidão de palavras não ditas, um mar formado por suas próprias lágrimas, onde se afogava sem medo. Sem medo, pois não havia mais o que temer. Naquela tarde, a chuva havia vencido, mais uma vez. Ou talvez não.

"Com... licença, com licença..." soou uma voz, incapaz de fazer com que a cabeça de Hye se erguesse. "Eu... eu tenho um guarda-chuva também."

Um guarda-chuva branco. Tão branco quanto tua pele delicada.

"Você não parece gostar da chuva, hm?" e Olivia estava imóvel. O que faria? Por mais que fosse seu desejo, desejos não se tornam realidade por simplesmente serem desejos. Mas lá estava ela, e em sua frente, estava Gowon. A mais pura e bela garota, a dona de todos os pensamentos de outra. E se ela não for real? E se ela for um sonho?

E então, o primeiro toque. "Venha, você não precisa de um desses. Você me tem agora." e puxou Olivia, ainda sem reação, permitindo que seus guarda-chuvas caíssem na calçada cimentada. Antigamente, costumava acreditar que a realidade poderia ser mais dura do que o cimento, mas se isso estivesse correto, como ela poderia soar tão doce? Como Gowon poderia ser tão macia, e ao mesmo tempo... real?

Hye não sabia mais o que sentir. Sabia que havia piscado centenas de vezes desde que viu o anjo, mas brigava com si mesma por causa disso. Ela não queria perder nenhum segundo, ela queria ver tudo. "Você sabe dançar?"

"Sim... e-eu... sei dançar." e a chuva abençoou suas palavras ao voltar a cair. Gowon sorriu. Ela sorriu, fazendo com que Olivia sorrisse. Um ato não planejado, um movimento brusco. Mas é disso que o amor se trata, não é? Nossa garota não fazia a mínima ideia, apenas sabia que nada tinha a feito sentir tantas coisas ao mesmo tempo. E, imagina se ela soubesse que nada jamais a faria se sentir daquele modo novamente?

"Fico feliz que saiba falar, também. Sabe qual o seu nome?" a outra estava... brincando consigo? Não estava racionando o suficiente para brincadeiras. Ela estava sentindo. Sentindo a chuva, sentindo seu coração batendo mais forte a cada detalhe descoberto no rosto angelical de Gowon. "Meu... meu nome é... Olivia."

Um segundo sorriso. Isso era bom? Hye estava a fazendo sorrir, então isso era bom. Mais que bom... surreal. "Meu nome é..."

"Gowon. Seu nome é Gowon." ela deveria ter pensado duas vezes antes de ter dito? Ah, como deveria. Mas ela não se importava, não mais. A chuva poderia estar tocando Gowon, mas Olivia também estava, estava com suas mãos coladas a dela, formando um conjunto de calor, e fazendo com que o toque entre ambas realmente existisse. "Eu sou... bizarra. Me desculpa." pensou alto. Oh céus, o que estou fazendo?

E então, perdeu completamente a noção, perdeu seu ar ao ver seu anjo se aproximar de seu ouvido, apenas para sussurrar: "Por que tanto me olha pela janela?". Engoliu em seco, não por ter medo da resposta, e sim por não saber qual ela era. Hye simplesmente... admirava. Admirava a bela vista. Admirava o seu coração bater mais forte... contava as gotas de chuva em sua janela.

"Eu... não faço isso. Apenas... conto gotas de chuva."

"Bom, se um dia se cansar de contar gotas de chuva sozinha... pode vir me chamar, que eu irei."

E no dia seguinte, o único desejo de Olivia era o de que chovesse novamente.

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