Capítulo Trinta e Sete

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— Eu estou preocupada, muito preocupada na verdade.

— Qual o motivo dessa preocupação toda? — a terapeuta Paige Brown perguntou interessada.

— Vai ter uma viagem para Ohio na semana que vem, enfim, eu vou ir nessa viagem. Até ai provavelmente não tinha nada demais, mas eu faço dupla na aula de química com aquele garoto, que eu não gosto e a viagem é para as duplas que a professora escolheu.

— E você foi escolhida e a sua dupla é o garoto que você odeia, certo?

— É, exatamente isso.

Maddie suspirou fundo e encostou as suas costas no sofá. Paige Brown parecia analisar atentamente cada detalhe, o que acabava deixando ela um pouco desconfortável, não que ela quisesse falar para as paredes mas não estava acostumada com alguém prestando atenção e assimilando exatamente cada detalhe que ela havia dito.

— Olha Maddie, eu sei que é só a nossa segunda consulta mas eu acho que o que te incomoda tanto, não é só esse garoto. Muitas vezes não gostamos de uma pessoa, mas você não acha que essa raiva toda, seja uma maneira que você acabou criando para descontar algo?

— Esconder? — indagou confusa.

Ela não pensava sobre isso, quer dizer não tinha mais nada incomodando ela, não que ela estivesse se lembrando, não teria motivos para descontar algo em alguém.

— Me diz se aconteceu algo incomum nas últimas semanas.

— Não que eu me lembre, foi o normal de sempre. Aulas e mais aulas, voltei a conversar com a Louise e tudo parece bem para mim.

— Voltou a conversar?

— É, nós brigamos, na verdade eu briguei com ela. Achei que ela estava com ciúmes que eu fiz um outro amigo mas estava errada, por minha causa ficamos um tempo sem conversar, mas agora já estamos bem de novo.

Paige Brown assentiu e anotou algo na prancheta. Sempre que ela fazia isso, Maddie Harris ficava um pouco inquieta e curiosa, afinal era sobre ela que estava escrevendo e ela queria saber o que era.

— Por que Ohio te preocupa tanto?

— Eu tenho medo de ficar com raiva e fazer alguma besteira.

— Olha, estamos trabalhando nisso, tudo bem? Você não vai fazer nada de errado, estamos trabalhando para que isso não aconteça e não vai acontecer.

Maddie Harris respirou fundo e assentiu. Ela realmente estava contando com isso, ela precisava aprender a ser menos impulsiva e menos estressada, ou iria acabar afastando todos de uma vez.

— Eu queria te perguntar um coisa na verdade.

— Claro.

— Eu fiz uma pintura na aula de artes semana passada, até ai tudo bem, mas eu me senti muito mal quando comecei a realmente prestar atenção no que eu havia desenhado.— explicou enquanto pegava o celular e mostrava uma foto da pintura.

— Para mim é um desenho comum. Pode ser que se sentiu mal porque te lembrou alguma coisa que você não queria lembrar, alguma lembrança de infância.

Bem ela não havia tido grandes problemas na infância para não querer se lembrar, ou até mesmo mais velha. Uma pintura não deveria ser algo tão incomodo assim.

— Você me perguntou se têm algo estranho acontecendo e têm. Eu assisti o treino do time e aquela violência começou a me incomodar, e têm essa pintura. Não sei o que está acontecendo.

— Bom, eu não tenho certeza, mas pode estar relacionado com alguma experiência forte da sua infância, lembranças que as vezes o nosso cérebro tenta bloquear. Me diga algo sobre quando era criança.

— Tudo bem.— assentiu— Eu era uma criança muito rancorosa, eu fui adotada quando tinha cinco anos e é estranho. Não consigo me lembrar de nada que aconteceu antes dessa idade.

Era esquisito falar sobre a sua infância, principalmente pelo fato de não ser algo que as pessoas costumavam perguntar e ela não sabia qual a relação que aquilo tudo poderia ter com a situação que estava passando.

— Você foi adotada com cinco anos?

— Sim.

— Se lembra de alguma coisa sobre os seus pais?

Maddie Harris suspirou e balançou a cabeça negativamente. Ela nunca havia tocado nesse assunto e era extremamente estranho falar sobre isso, os seus pais biológicos nunca foi uma preocupação para ela e agora pela primeira vez ela estava pensando sobre quem eles eram, como eles eram, se se pareciam com ela e principalmente por que ela nunca conheceu ou não se lembra de absolutamente nada sobre eles.

— Você nunca quis se lembrar ou saber de nada?

— Não, eu nunca pensei nisso. Você acha que têm alguma coisa haver, com o que está acontecendo agora? Esses problemas de raiva?

— Eu não sei, é difícil saber. Pode ser que sim e pode ser que não, mas precisamos nos concentrar em passar por isso, não em imaginar de onde isso surgiu, mas se você se sentir confortável para falar sobre isso eu sou toda ouvidos.

— Claro, eu sei disso.

— Maddie, você acha que está descontando esses sentimentos de dúvida, nesse garoto? E nas outras pessoas ao seu redor?

— Eu não faço ideia.

O resto da consulta passou extremamente rápido. Diferente da primeira vez, Maddie Harris não se sentia mais leve, parecia que algo dentro dela estava diferente e não de uma maneira boa. A pintura, o jogo e o sentimento estranho que ela sempre estava sentido, pela primeira vez ela sentia que poderia ter um motivo muito maior para tudo aquilo. Ela não conseguia parar de pensar na possibilidade de realmente estar descontando essa vontade que nem ela sabia que tinha de saber quem era os seus pais, nas outras pessoas, mas agora ela não fazia ideia do que fazer ou por onde começar.

— Filha. Você esta bem?— Elizabeth Harris perguntou preocupada desviando o seu olhar da estrada para a sua filha por um segundo.

— Sim, esta tudo bem.

Dizer que tudo estava bem com certeza é uma grande mentira, nada estava bem e Maddie Harris sabia disso, sua vida era um perfeito caos, ela não fazia ideia do que queria, e nada que ela fizesse parecia resolver. Afinal quais eram as possibilidades de depois de doze anos ela descobrir tudo sobre quem ela era e de onde veio? Talvez era melhor esquecer isso e seguir em frente como se nada tivesse acontecido, mas olhar para a sua mãe ao seu lado e saber que ela não era de fato sua mãe de sangue, pela primeira vez era confuso.

Maddie queria saber se tinha outras irmãs alem de Daisy, se realmente tinha uma família e o que aconteceu. Pensar em tudo isso parecia uma grande traição para ela, seus pais provavelmente ficariam chateados e ela não estaria sendo justa com eles, a sensação de arrependimento seria maior do que tudo.

Mais tarde naquele dia quando ela finalmente chegou em casa e se jogou na cama, a sua cabeça parecia estar girando em um ritmo incontrolável. Maddie Harris parecia estar completamente à deriva.

— Por que tudo tem que ser tão complicado?— sussurrou.

Quando ela menos esperava já estava chorando. Por Deus pela primeira vez na vida daquela garota impulsiva, Chace Price parecia ser o menor dos seus problemas, assim como todos ao seu redor, o único problema que era real era o que ela tinha com si mesma, e agora mais do que nunca ela precisava resolver isso.

Maddie Harris estava perdida e nem que a única maneira de saber quem ela era fosse encontrando os seus pais, ela não iria ficar em paz até realmente fazer isso.

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