III

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*dedicado a GabrielaStyless*

Merda! A minha própria professora de instrumento apanhou-me naquelas situações. É impressionante como ela estava sempre há hora certa no local errado.

"Eu estava a estudar e depois eles entraram aq-" murmuro sendo depois interrompida pela voz da minha professora.

"Eu não quero saber Samantha, estás por tua conta. Estás no último ano nesta escola e eu já te avisei os erros que cometes, mas tu insistes em fazer os mesmos erros" murmura autoritária fazendo uma pausa. "Tens aula hoje?" questiona e apenas assenti cabisbaixa. "Então depois falamos melhor, até lá vê se estudas com cabeça."

As últimas palavras da minha professora ecoaram não só na sala como também na minha cabeça '...insistes em fazer os mesmos erros...' '...vê se estudas com cabeça...' mas... será que estou a fazer tudo de errado? Pouso o meu violino na caixa e levo as minhas mãos ao meu rosto de forma a tapar o mesmo. Ouço depois o som do meu telemóvel juntamente com o vibrar dando-me a informação que tivera recebido uma mensagem. Pego no mesmo e vejo a mensagem.

De: Van Onde te meteste Sam? Estás 10 minutos atrasada para a aula!

Oh meu deus! Estava a faltar à aula de Teoria e Análise Musical -abreviado T.A.M.- arrumei rapidamente o meu violino na caixa e corro para fora da sala de estudo em direcção aos cacifos. Assim que chego ao mesmo, já com a minha respiração acelerada, abro-o e coloco o meu violino dentro dele pegando no meu livro de T.A.M. correndo depois para a aula. Ao chegar à porta da mesma, bato na mesma duas vezes pedindo depois desculpa pelo atraso.

O dia foi normal a partir daí. A minha aula de instrumento foi como sempre: resmungos atrás de sermões atrás de chamadas de atenção. Eu sei que ela só quer o meu bem mas custava ouvir sempre muito. Afinal parecia que quanto mais me esforçava mais ouvia.

Tinha tocado agora para fora, as aulas de quarta-feira tinham acabado. Depois de ter arrumado os meus livros no meu cacifo, peguei apenas no que precisava para levar para casa: o meu violino.

Caminhei para fora da universidade e de seguida despedi-me mentalmente da minha escola como sempre fazia. Sim, eu e a minha mente comunicamos as duas em sintonia com o mundo em que vivemos.

Quando dou por mim, os meus pés tinham-me levado para a minha casa. Bem, minha casa não, casa dos meus tios. Longa história, se tiverem tempo eu explico.

O que as pessoas pensam é que quando uma rapariga vive em casa dos tios é porque perdeu os pais. No meu caso, não. Bem não de todo. O meu pai existe e eu sei que ele é. A minha família é muito pobre, menos os meus tios. O meu pai perdeu tudo o que tinhamos no jogo. Sim o meu pai era viciado em jogo. Quando perdemos as nossas economias todas a minha mãe adoeceu. Eu tive que deixar a escola que andava para cuidar dela. Com 15 anos ainda não tinha iniciado os meus estudos musicais. A minha mãe acabou por morrer, não resistiu. Os meus tios entretanto nunca me ajudaram em nada. No meu aniversário depois da minha mãe morrer, os meus tios deram me um violino de presente. Fiquei apaixonada por aquele instrumento. Devido aos meus tios eu encontrei a minha vocação. Aprendi em menos de um mês a tocar aquele instrumento, sozinha. Fiz da minha paixão uma forma de ganhar a vida. Comecei a tocar na rua e até ganhava alguns tostões. Não era muito mas ajudava sempre. Um dia uma senhora encontrou-me, a minha professora. Ela perguntou as questões que eu não estava à espera: 'quem te ensinou?' 'Há quanto tempo?'. Eu logo respondi 'sozinha'; 'Há um mês'. Nunca me esquecerei desse dia. Comecei a ter aulas com ela antes de entrar na escola onde ela ensinava, a Royal Academy of Music, em Londres, pois ainda era muito nova para entrar na mesma. Quando atinji os 18 anos fiz provas para a mesma e é aqui que os meus tios entram novamente. Como sabem o meu pai não tinha possibilidades para me pagar uma camisola muito menos para me pagar aquela escola. O meu desejo de seguir aquela escola era realmente grande mas as possibilidades nem por isso. Apesar de ser orgulhosa teria que pedir ajuda aos meus tios por isso deixei o meu orgulho de lado e pedi lhes ajuda. Eles nunca gostaram muito de mim mas decidiram ajudar-me com a condição de lhes obedecer e lhes mostrar respeito. Eu não planeava desrespeitar isso. Passei a viver com os meus tios. O meu pai não gostou da ideia e devido a isso ele ainda hoje não me fala. Fui egoísta, reconheço isso, mas aquele era o meu sonho e não poderia deixar escapar esta oportunidade. Lamento, muito. Os anos passaram e os meus tios fizeram de mim a gata borralheira deles. Não me interessa. Este agora o meu ano na Royal e ia tocar a solo com a orquestra da universidade por ser uma aluna de excelência. Só sei uma coisa, durante a minha vida aprendi uma coisa...
'Music is like our heart... without it we die'
(a música é como o nosso coração... sem ela morremos)

É essa a frase que me me fez continuar sem nunca olhar para trás. E essa é a minha história. Não me matem, eu disse que era grande.

Tinha chegado a casa, abri a porta principal e o que recebi foi logo uma ordem.

"Vai fazer o jantar" a minha tia ordenou. 'Oh sim tia estou bem e a tia? Ainda bem então' o meu subconsciente ecoou na minha cabeça.

Sem responder à minha tia, fui fazer o jantar. Depois do mesmo estar preparado chamei os para jantar.

Depois do grande jantar em família, em que sou sempre excluída, lavei a louça. Estando tudo pronto fui tomar um banho refrescante. Assim que sai do banho vi que ja era tarde por isso decidi ir dormir para estar pronta para outro dia de escola.
Uma semana depois...

As minhas mãos suavam, a minha respiração encontrava-se um pouco acelerada. Tentava controlar a mesma inspirando e expirado várias vezes. Fechei os meus olhos e tentei convencer-me que tudo iria correr bem. Nisto ouço uma voz masculina.

"Samantha, está na hora" murmurou tal voz fazendo-me abrir os olhos num movimento rápido.

The Cellist ||h.s.||Onde histórias criam vida. Descubra agora