O Obscuro

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De um simples e delicado lago, delicado localizado nas entranhas de um lugar qualquer na memória de alguém, havia uma garotinha triste, desolada pois tudo o que ela tinha como porto seguro e família tinha caído e se desmanchado, jamais completara seu quebra-cabeças que continha alguma imagem aleatória de algum lugar bonito em algum canto do mundo.

Suas duas tutoras estavam ocupadas demais lidando com situações externas e aquilo a deixava muito irritada, era incompreensível que aquela criança se perdera entre assuntos acadêmicos, papers e teses a serem defendidas por duas pessoas que até então estavam completamente fora de controle. Sentada e sentindo-se abandonada a própria sorte, jogava pedrinhas naquele lago singelo e pacífico, as ondulações formavam-se desmanchando o reflexo daquela realidade.

Então uma pedra lisa, redonda e branca afundou e dali um tremor que transformou todo o lago numa sequencia só de vibrações, e do meio do lago surgira como a Vênus Legítima, tirando a parte da nudez, da concha e dos anjos, uma mulher de cabelos longos com um olhar dócil e penetrante, seus traços eram o de um rosto totalmente esticado, seu nariz, seu queixo eram bem protuberantes. Ela andou na direção da garotinha, segurou seu rosto pelo queixo e deu um beijo terno na cabeça e jurou cuidar dela.

2007

Nancy estava terminando a primeira faculdade, quando estava deitada no quarto solitário na cidade onde estava fazendo o curso e pela primeira vez em sua vida, ela encontrou o gatilho, havia associado a vida que tinha  às voluntárias a um Orfanato. Então uma série de coisas que lhe veio a mente, incluindo a figura masculina que falava de abandonar ela num orfanato. Dentro daquilo tudo, veio a mente uma história que lhe era contada quando criança, de uma princesa e todos os caprichos que uma princesa teria.

Em questão de meses, Nancy conheceu um rapaz, ele não deixava ela fazer absolutamente nada, pois era filho de um grandão do governo que dava tudo para o filho em troca das boas notas que a nossa protagonista ajudava-o a tirar, nesse meio tempo, ele a chamava de "Minha madame", uma vez que ele realmente fazia tudo o que ela queria. Em questão de meses ela mudou para um apartamento melhor, porém um certo ar de crueldade começou a emergir daquele coração.

Num jantar em família a mãe do rapaz questionou de onde ela vinha e por que ela era tão misteriosa, ela simplesmente sorriu e disse que o passado era um lugar distante, até aí ok. Mas relata-se que após o uso da palavrinha mágica, o semblante delicado de Nancy se tornou uma carranca fechada que notavelmente alterou toda a paz do recinto. Na madrugada, a mãe fora encontrada enforcada no jardim da casa pendurada por um lençol, com sinais de luta. Nunca foi comprovado o suicídio ou o homicídio, não acharam material genético em local algum, apenas que uma quantidade muito grande de calmante fora posta na sobremesa que todos repetiram duas vezes e o único prato que passou pelas mãos dela saindo da cozinha. Ela mandava em tudo e em todos, o término do relacionamento só a fez cair em mais desgraça, era uma garota mimada para muitas coisas e muito madura para outras.

Após a formatura, ela foi para Paris, conheceu toda a Europa e voltou com um sotaque terrivelmente forçado, até que um terapeuta, amigo dela, a colocou de volta ao lugar.

*** 

Uma vilinha européia, daquelas bem velhinhas que vemos em muitos filmes, que você não sabe diferenciar a calçada da rua, cheia de casinhas cinzentas e um bosque ao redor delas. Esse era o cenário possível de ser visto através de uma das caixas, indo embora chegando até um casarão, um belo jardim em forma de labirinto e mais acima um par de portas gigantescas com o formato gótico e 8 janelas quadradas gigantescas se erguiam até o telhado. Ali a noite era fria, o vento que cercava trazia a sensação de sempre estarem sendo observados.

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