Tudo O Que Eu Preciso

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Amanda acabara de acordar dentro de um invólucro de vidro, quatro paredes presas a estruturas douradas, presas a uma parede cinzenta com uma luz leve da qual não se podia ver o fim daquele poço, ainda atordoada, não fazia ideia de onde ela estava, apenas que estava com muito medo do que a esperava ali.

A gaiola de vidro começou a tremer e ela viu o chão se abrir diante de seus pés. Uma queda suave e delicada, entre as paredes cinzentas ela via alguns flashs atuais, como os três dias em que o casamento de Nancy quase ocorreu, abraços das pessoas que Nancy conhecia e se identificava com cada momento que era retratado ali, até que chegou em uma sala na qual haviam barreiras de vidro com esses momentos todos presos, para nunca mais serem libertos. Era triste pois a sala tinha 4 portas bem grandes, e de dentro da primeira porta, havia um senhor que ela conhecera antes da morte de sua mãe. Era um velhinho careca que ela via todos os dias com uma porção de cães passeando entre as fazendas em que morou. Certa ocasião lhe dera um cãozinho amarelo, que fugiu. Mas dentro da ala do velhinho, tinham outros animais que pouco a pouco ela foi reconhecendo, alguns pássaros e coelhos que pertenceu a ela até a data de sua adoção.

Numa outra porta havia uma série de manequins, sem rosto, sem vida, mas todos com roupas de escola, pessoas aleatórias com qualidades virtuosas como numa galeria enorme de indigentes, aqueles eram seres com os quais ela não tinha nenhum contato, mas foi absorvido como quando você lembra de algo que te fizeram mas não lembra quem.

Na terceira porta havia apenas uma caixa gigante, a sala era num tom oliva, a caixa era suja e atrás da caixa levantava-se uma cerca de alambrado.

Na ultima porta não se via nada, o vidro era embaçado.

Algum momento vendo aquelas cenas que para ela era tão recente e ao mesmo tempo tão nostálgica, Amanda tinha que tomar uma atitude. Ao dar seus primeiros passos dentro daquela sala estranha, notara que no chão aveludado possuía um encaixe, como se fosse um cano com borda externa saindo do chão. Ela forçou cada uma das três portas e nada aconteceu, tudo permaneceu estático, a ultima porta, a que não se podia ver através do vidro, era uma enorme sala com estantes gigantescas com inúmeros livros sem nomes em suas lombadas mas com anos, como se fossem diários ou registros. O chão amadeirado levava até uma espécie de vitrine, com base de madeira e uma redoma quadrada de vidro, protegendo uma espécie de mecanismo, como se fosse uma espécie de bengala com um vido na brilhante na ponta e dentro dele havia uma chave toda retorcida.  Ela se debruçou em cima deste mecanismo, em busca de algo que pudesse abrir, quando das profundezas surgiu um homenzinho bem pequeno, usando uma capa e capuz vermelhos, era um anão, assim como os anões com quais convivemos hoje em dia na sociedade.

- Quanta gratidão pela vossa visita!

- Minha visita? - indagou a jovem

- Sim, a sua visita, aqui costuma ser solitário, mas é bom ver caras novas aqui, ainda mais a sua! Venha, me siga!

- Mas e aquelas pessoas? Aquelas...

- Aquilo é seu subconsciente, é o último estágio até chegarmos a nossa base! Entre por aquela porta, ali você vai encontrar alguém que quer muito falar com você.

O pequenino seguiu caminho por um corredor até uma porta dupla, de madeira, com um vidro fosco meio amarelado e via-se apenas uma grande figura ainda assim indecifrável. No meio do caminho, segurando a mão de Amanda ele parou e disse:

- Daqui em diante vai você, só.

Amanda olhou bem no fundo dos olhos do anão, com medo, mas confiante de que dali para frente, talvez ela tivesse que realmente fazer as coisas por ela mesmo.

Tomou alguns passos,ainda com medo do que viria a frente, mas um passo a frente do outro e seguiu em direção à porta. Apenas na ponta dos pés, era como se cada cena da sua vida surgisse como um filme a ser revelado, como se cada pecinha do quebra-cabeças fosse sendo alocada em sua posição.

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