Anxienty;

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- Eu nunca te machucaria. - sussurrou enfatizando cada palavra no ouvido de Shuhua.

Soojin se afastou do rosto da taiwanesa sorrindo com os lábios ao perceber o estado que deixara a menor. Os olhos profundos e calmos de Shuhua encaravam o nada e sua respiração afetada fazia seu torso descer e subir numa lentidão ritmada. O céu já havia escurecido e apenas as luzes das estrelas, da lua e dos postes de Seoul iluminavam o meio da rua. A brisa fraca fazia os cabelos, agora negros de Soojin, balançarem levemente; seus lábios vermelhos como sangue pareciam ainda mais atraentes e sedutores. As duas se encaravam num silêncio reconfortante, como se não precisassem pronunciar palavras naquele momento.

A Yeh numa coragem invejável, pousou sua mão direita na parte lateral do rosto de Soojin e encarou os olhos estrelados e profundos da garota. Ela estava recuando e esse parecia não ser o momento exato para se aproximar, mas Shuhua o fez; deixou um breve selar no canto da boca da Seo e apenas lhe deu um sorriso reconfortante, o que provocou as bochechas coradas de Soojin.

- Você só tem coragem para me colocar contra a parede? - a menor riu da vergonha de Soojin.

- E-esse não é o caso Shu... - Soojin abaixou seu olhar para a calçada. Ela tinha medo de se aproximar da garota e não conseguir mais se desvencilhar da mesma. Por mais que seus destinos pareçam cada vez mais interligados, Seo estava assustada com tantas mudanças, tantos assuntos pendentes e o medo constante de falhar novamente.

- Jin-ah... me desculpe. Não quero que se sinta pressionada ou algo assim. Eu só acho curioso que nós duas parecemos tão íntimas mas nunca conseguimos manter uma conversa séria. - Shuhua fitou a Seo que parecia estaticamente perdida em seus pensamentos.

- Shu, senta aqui por favor. - a mais velha se abaixou no meio-fio da calçada. Essa nova Soojin não precisaria ser tão séria e recuada. Agora ela tinha uma parte humana que a deixava muito mais sensível. Talvez desabafar com a Yeh, a faria se sentir melhor. - Shu, você acredita em Deus?

- Ahn... sim? - Shuhua se sentou ao lado da maior, sua atenção estava totalmente presa na garota ao seu lado.

- Eu cresci em um ambiente íntegro, Shu. Fui batizada no meu nascimento em um mar azul celeste e uma grande cerimônia foi feita somente para este acontecimento. Meus pais eram bondosos e sempre cuidavam de mim com todo o carinho existente em todos os quatro cantos mundos. Eu aprendi a minha vida toda a fazer o bem e seguir os passos de Deus. Quando criança, ia até ele todos os dias e sentava em seu colo; ele me contava sobre os grandes planos que tinha para mim. Aprendi a dançar com nove anos de idade, mas este ato era proibido, sendo considerado até mesmo ilegal. Eu praticava no porão de casa como se minha vida dependesse disso. Dançar era a única coisa que fazia com que eu me sentisse viva. - a maior suspirava, algumas lágrimas tímidas rolavam pelo seu rosto- E então descobriram quando eu tinha catorze. Eu prometi que nunca mais aconteceria e me calei. Fui perdoada, até mesmo anjos erram.

- O que?- Shuhua achava que aquilo era algum tipo de piada. Mas depois de observar as lágrimas insistindo em cair dos olhos estrelados de Soojin, a taiwanesa quis prestar ainda mais atenção.

- Eu sou um anjo, Shu. Um anjo caído. Você não precisa acreditar se não quiser. Eu cometi um erro, um pecado mil vezes maior do que dançar; por mais que Deus seja bondoso, ele também é justo. - a Seo se derramava em lágrimas constantes ao lembrar de todos os momentos que passara no paraíso.

- O que você fez de tão grave? - A menor perguntou secando delicadamente as lágrimas do anjo.

- Eu sonhei com você. Não uma e nem duas vezes, eu desejei você, eu quis ter você. E nós somos duas garotas. Há duas contradições, dois pontos em que falhei; um anjo se apaixonar por uma humana e uma mulher se apaixonar por outra mulher. Eu tentei esconder isso por muito tempo, mas nada pode se esconder em um lugar que apenas a verdade existe. Fui excomungada e agora vivo na terra agindo como uma humana. Ainda sou um anjo, mas só tenho 10% do meu poder original. Minhas asas foram cortadas e eu ganhei essa pinta no olho esquerdo, a pinta que marca o meu pecado.

- Aquele sonho da estrada, o último que tive com você. Foi o dia em que você caiu? - Shuhua por mais insano que fosse escutar aquilo tudo, parecia confiar cegamente na garota ao seu lado.

- Sim. Eu caí em uma estrada ao lado de uma floresta, as duas e cinquenta e três da manhã. Não tinha nada Shu. Nada além de mim mesma. - Soojin estava com seus olhos inchados e sua cabeça doía, seu rosto estava inteiramente molhado com o choro agressivo.

- Jin-ah, você foi abandonada! Isso é um absurdo! - a menor abraçou o pescoço da mais velha, tentando passar conforto nessa situação caótica. Soojin saiu de uma realidade totalmente distinta para viver em um lugar extremamente egoísta. Shuhua não deixaria que nada de ruim acontecesse com ela em hipótese alguma. Por mais que fosse um anjo ou sei lá o que, ela estava sozinha e precisava de sérios cuidados.

- Shu, eu preciso de você. - a morena disse quase num sussurro, enroscada em seu próprio choro. Cada palavra saia de sua gargante como se pedaços de vidro rasgassem suas cordas vocais.

As duas ficaram ali, naquela rua fria, mal iluminada e deserta, abraçadas até o choro impulsivo de Soojin cessar. Como se uma pertencesse a outra, a dor de uma seria a dor de ambas. A Seo tentava manter uma armadura de aço em volta de seus sentimentos que não suportava mais segurar tamanho peso. Shuhua veio para libertar as crenças malditas que Seo Soojin foi obrigada desde cedo a seguir. Sua mente maltratada poderia ser mudada, ela deveria ser mudada.


















E Yeh Shuhua lutaria para mudar-la.































- Você encontrou ela e o que Shuhua?!? - Minnie parecia impactada com o que a taiwanesa disse a ela.

- Só conversamos, Nicha. - a menor revirou os olhos.

- Até parece que foi só isso! Estava escuro e vocês têm a maior química! - Yuqi tentava encaixar as peças de seu quebra-cabeças imaginário.

- Não aconteceu absolutamente nada. Eu a levei pra casa e foi isso.

- Ta, se você diz a gente acredita. Mas... a Minnie te contou? - Yuqi se jogou na cama de Shuhua.

- CALA A BOCA YUQI! - Minnie jogou uma almofada na chinesa.

- Contou o que? - Shuhua se levantou de sua cama, ligando a TV de seu quarto para assistir Netflix.

- Ela beijou a Miyeon depois da feira de ciências. - Yuqi riu da amiga corando.

- E você gostou? - Shuhua se sentou novamente para escolher o filme, se digirindo a Nicha.

- Não. EU ADOREI! ela beija bem pra cacete, toda delicadinha meu Deus do céu. - a tailandesa levou suas mãos ao rosto, o tampando.

- Parece que eu sou a única livre desse vírus maligno que maltrata vossos corações. - a chinesa mais uma vez zombava da situação.

- Por enquanto, Yuqi. - Shuhua cruzou seus braços encarando maliciosa sua amiga.

O restante da noite foi repleto de risadas, guloseimas e brincadeiras. As três garotas possuiam uma amizade linda, cultivada naturalmente. Mas Shuhua não conseguia de modo algum tirar uma certa morena de sua cabeça. Toda aquela história estava deixando-a maluca; ela se preocupava a todo momento com Soojin e qual seria seu futuro se continuasse desse jeito. Depois de ve-la em uma crise tão forte em seus braços, como se a mesma tivesse sua âncora lançada apenas para Shuhua, seu coração só sabia bater por ela.

Ao finalmente fechar os olhos na escuridão do quarto, quando suas duas melhores amigas pareciam ter dormido, Shuhua teve um único pensamento:

Como estava sendo a noite de Soojin?

Argentum' Corde - SooshuOnde histórias criam vida. Descubra agora