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                                 NOAH

Coloquei os dois pedaços de pizza que comi pra fora. Vomitei pra caralho depois de finalmente tentar comer alguma coisa. Não sei onde eu tava com a cabeça, mas eu tava ficando doido. Eu só consigo enxergar crianças e seus pais nos lugares, bebês e mais bebês. Eu tenho medo de ser um péssimo pai, de não fazer o certo e de o meu filho ou filha ter ódio de mim. Eu tenho medo de como a minha mãe vai reagir, mas confesso que tô ainda com mais medo de virar um cadáver depois do pai da Rebeca ficar sabendo. Ele vai me matar. Passo pasta nos dentes e me livro do gosto horrível do vômito com o enxaguante bucal que encontrei vasculhando as gavetas. Minha cabeça dói e eu não quero nem pensar no quanto ela vai tá doendo três vezes mais amanhã. Saio do banheiro e dou de cara com a Alice encostada na parede, com um copo de água na mão. Ela dá um sorriso tímido e me entrega a água.

— É bom você beber água para não acordar com uma ressaca daquelas.

— E tu? Não bebeu? — digo, dando um gole na água.

— Não, tenho que me controlar mais em relação à bebida. Eu não bebia tanto assim. — bebo a água em praticamente um gole só, tentando aliviar a minha garganta que tá seca. — O Guilherme vai dormir aqui e como só tem um quarto... — eu dou um sorriso malicioso. — Você vai dormir no sofá. — meu sorriso se desfaz na mesma hora. Sem saber o que falar, ela sai de perto de mim. Não entendo o porquê de ela tá distante. Deve tá tentando entender os últimos acontecimentos que nem eu mesmo tô entendendo. Vou para a sala e Stefany sai do quarto com um travesseiro e um cobertor.

— O sofá é bem confortável, então não vai ser tão ruim. — a amiga falante dela diz para mim.

— Vou tomar um banho. — Alice sai da sala.

— Qualquer coisa, pode me chamar. — Stefany diz antes de voltar para o quarto. Espero não escutar gemidos dela com o namorado, porque o quarto dela é o mais perto da sala. Desligo a luz da sala e me deito no sofá, que é até confortável. Minha cabeça volta a doer e eu me forço fechar os olhos, tentando dormir.

   Meu coração acelera quando o vejo o garotinho de olhos castanhos com o cabelo loiro, igual o da mãe. Tenho certeza que futuramente ele vai se perguntar porque não nasceu com os olhos azuis dela ao invés dos meus. Ele tá todo enrolado em uma coberta branca, mamando no peito da Rebeca.

— Quer segurar um pouco? — ela me pergunta.

— Eu não sei se consigo... — minha insegurança me mata, mas eu tenho que afastá-la de mim se eu quiser pegar o meu filho no colo.

— Eu te ajudo. — ela cuidadosamente o coloca nos meus braços. Eu fico igual um robô, com medo de fazer alguma coisa e machucá-lo. Eu não tenho o mínimo jeito com bebês, deveria ter treinado antes com alguma merda de boneca, sei lá. Rebeca some do meu campo de visão e ele começa a chorar.

— Rebeca? — ela não vem. — Rebeca! — eu grito. — Shh...calma. — eu tento acalma-lo, mas ele só faz chorar ainda mais. Tento ajeitá-lo nos meus braços mas a coberta desliza no meu braço e ele cai no chão. Entro em desespero, me deito no chão e começo a chorar quando vejo o meu filho recém-nascido desacordado.

Dou um pulo do sofá. Olho para os lados até reconhecer onde eu tô. Puta que pariu, que porra de sonho foi esse? Meu corpo tá suado e o meu coração acelerado, parecendo que a qualquer hora vai sair do meu peito. Me levanto e vou até a cozinha, bebendo quase todo o galão de água do filtro. Eu tô ficando maluco, porra. Volto para o sofá e olho o relógio. São duas e quinze. Respiro fundo e tento dormir, mas não consigo. Os meus pensamentos estão me perturbando e eu tô me sentindo sufocado por não saber como cuidar de uma criança. Eu vou ser o pior pai de todos. Me levanto e vou até o quarto depois do banheiro, abrindo a porta devagar. O meu coração desacelera quando eu vejo a Alice na cama, toda enrolada e encolhida. Ela está com uma mão no rosto e a perna esquerda abraçando o travesseiro. Linda até dormindo. Fecho a porta devagar e mesmo não sabendo o certo a se fazer, me deito ao lado dela, torcendo para ela não acordar. Não sei explicar, mas ela me transmite paz. Aliso o seu cabelo e paro imediatamente quando ela se vira, esticando o braço, parando bem na minha cara. Ela abre os olhos devagar. Tu tinha que acordar ela, seu merda. Agora ela vai te expulsar daqui e tu vai passar a noite em claro.

— Noah? — ela pisca os olhos algumas vezes.

— Não queria te acordar.

— Por que tá aqui? — ela tenta se sentar mas eu seguro a sua cintura.

— Tive um pesadelo e não consigo mais dormir. Não vou fazer nada, só quero dormir perto de ti.

— Quer falar sobre? — a mina com a cara de sono, com os cabelos bagunçados e com o sono sendo atrapalhado por minha causa, ainda se importa comigo.

— Não, pode voltar a dormir. — ela puxa o lençol para o meu lado, me cobrindo. Não me importaria em dormir descoberto, não quando eu tô aqui com ela. Nada mais importa. Que porra eu tô falando? — Tu acha que eu vou conseguir ser um bom pai? — sussurro.

— Claro que vai. — ela diz com os olhos fechados. Sem querer encher mais ainda o saco dela, eu fico calado, olhando ela dormir de novo. Ela é tão linda. Não só por fora, mas também por dentro. A conheço a dois meses, talvez não seja o suficiente, mas sei que a conheço perfeitamente. Ela é simpática, cuidadosa, safada e ao mesmo tempo tímida. Ela chorou por minha causa. Não sei o que pode tá acontecendo com a gente, mas só quero ficar perto dessa mina. Eu me preocupo com ela, da mesma forma que eu acho que ela também se preocupa comigo. Ela vira as costas e eu não consigo não reparar na sua bunda com o pijama curto. Me viro de costas para ela, antes que eu a faça acordar e...porra. Tiro da cabeça os pensamentos sujos e apago.

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