Genius

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"Ranpo-kun?" Ouvi a voz conhecida me chamar, abrindo um sorriso instantâneo.

"Poe! Você veio mesmo!" Falei com um sorriso ainda estampado no rosto, chamando-o com as mãos que antes estavam dentro de um pacote de cheetos.

Já eram nove da noite, porém, como eu me sentia sozinho em casa, precisava de uma companhia e, quem melhor do que Edgar Allan Poe – e Karl – para me fazer companhia?

Nós já havíamos estabelecido uma relação que estava além de colegas de investigações, talvez fosse algo maior até mesmo do que amizade. Passávamos a maior parte do tempo juntos, por vezes estudando, ou então assistindo filmes. Conheci diversos pontos turísticos com Edgar, aprendi a andar de metrô e ensinei ele a pedir pizza pelo telefone sem tremer de nervoso. Vez ou outra ele me trazia algum suspense para eu me aventurar, jurando que eu não desvendaria e com o tempo passou até a ficar feliz de me ver voltando para dizer o que havia achado da sua nova criação.

"Eu trouxe algo para você..." Ele disse em seu tom baixo padrão enquanto caminhava lentamente até o sofá e se sentava ao meu lado, deixando que Karl se aconchegasse no estofado.

"É um novo suspense?!" Perguntei quase que retoricamente, sorrindo largo. Claro que seria.

Ele assentiu.

"Sim, mas eu já aviso: Dessa vez você realmente vai precisar ser um gênio para poder escapar, eu fiz algo inusitado até mesmo para o grande detetive."

Soltei uma risada antes de pegar o livro das mãos dele, negando com a cabeça.

"Entenda, Edgar, nada é inusitado para um grande detetive!" Pisquei, então passei o olhar pela capa do livro brevemente.

Por algum motivo, algo parecia diferente daquela vez. Talvez fosse apenas a pressão que Poe tentara colocar afetando o meu psicológico, mas a minha intuição dizia que as coisas não sairiam como de praxe. Olhei em direção ao rosto dele e sorri novamente, recebendo de volta um sorriso mínimo e quase indecifrável, já que seus olhos estavam cobertos.

"Eu vou voltar tão rápido que você não vai nem terminar de comer esse pacote de salgadinho!" Joguei o pacote no colo dele e, em seguida, abri as páginas do livro.

"Até daqui a pouco, Ranpo-Kun. Espero que você não fique bravo comigo depois disso."

Franzi o cenho, porém, era tarde demais para questiona-lo, pois já havia sido levado para dentro da história.

Me encontrei em um cenário diferente do comum. Geralmente, Poe começa as histórias em locais fechados e isolados, porém, dessa vez, estava no meio de uma rua movimentada. Estava em por volta de 1940, já que havia notado muitas estampas estilo xadrez, além de boinas e carros Cadillac. Dei um giro apenas para me situar de onde estava e encontrei a placa de uma rua, nela dizia "Oxford Street", então me dei conta de que se passava em Londres.

Como não podia perder tempo, passei a caminhar pelas ruas em busca de entender primeiramente qual era o mistério que eu deveria resolver. Geralmente Edgar deixava alguma pista ou ao menos estampado qual era a cena do crime, no entanto, dessa vez eu provavelmente teria de me virar. Passei em frente a uma banca de jornais e fiz o que qualquer pessoa da época faria: comprei um exemplar do dia. Enquanto andava ainda sem rumo, abri as folhas, passando o olhar por elas em busca de alguma notícia esclarecedora. Enquanto lia, senti algo se chocar contra mim... aliás, algo não, alguém. Senti meu corpo ser empurrado para trás, então levantei o olhar para quem estava a minha frente.

"Cuidado por onde anda, baixinho." O homem alto disse em inglês.

Por sorte, como um grande detetive, eu sou fluente em três línguas diferentes.

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↠ ranpoeOnde histórias criam vida. Descubra agora