Estrelas e A Profecia

636 62 6
                                    

Pan começou a caminhar em minha direção. O silêncio ainda reinava e a cada passo dele minha cabeça parecia girar mais. Eu estava confusa mas estranhamente lúcida, como se eu acabasse de acordar assustada de um sonho muito intenso. Quando os pés do garoto pararam bem à minha frente, ergui a cabeça. Ele me olhava de cima, com as mãos na cintura.

— Demorou mais do que eu pensei, Ana. — enquanto falava, Peter se agachou e ficou à altura dos meus olhos, passando a sussurrar. — Por um segundo achei que precisaria entrar aqui pra salvar você.

— O que foi isso? — minha voz saiu baixa e fraca, como se toda minha força tivesse ido embora em um segundo.

— Você vai saber. Ainda precisamos falar sobre muita coisa.

Arqueando uma sobrancelha e sorrindo para mim, o menino se levantou e estendeu uma mão para me ajudar. Sem nenhuma energia, minha única alternativa foi aceitar segurá-la. Pan me puxou até que eu ficasse de pé e me sustentou com seu braço para que eu não voltasse a cair - minhas pernas ainda estavam vacilantes.

— A brincadeira acabou, meninos.

E, assim como da última vez, fui pega de surpresa quando vi que meus pés não tocavam mais o chão. No entanto, agora eu já não tinha medo da sensação. Parecia que era algo natural, como caminhar na floresta (e na verdade isso não era natural para mim até alguns dias atrás). Talvez Peter tenha visto minha calma, pois no lugar de me carregar nos braços, segurou apenas minha mão e foi em direção ao meio da mata me carregando por cima das árvores.

Estávamos indo bem mais rápido que da primeira vez que ele me levou para conhecer a ilha. Consegui reconhecer algumas trilhas e clareiras por onde passamos, e vi que voávamos direto para o Lago do Silêncio, como ele havia dito mais cedo que faríamos ao anoitecer.

Pousamos ao lado da árvore com a abertura no centro. Pan deu a volta na margem do lago para se sentar. Ele me encarou por alguns instantes, até erguer as sobrancelhas e sorrir, irônico.

— Você vai ficar aí parada? Precisa de um convite pra se sentar aqui? — e apontou para o espaço na grama ao lado dele.

Sem muita cerimônia, fiz o caminho que ele fez e me sentei ao lado dele, bem na margem da água. Nesse momento, ele parou de olhar para mim e virou o rosto para o céu.

— Acho melhor dizer que algumas coisas vão acontecer hoje. Coisas que são estranhas de onde você vem. Quase impossíveis. Bom, eu não acho que você pense assim, ou que você acredite nisso de "impossível". — seus olhos voltaram a me observar e ele sorriu. — De qualquer forma, era melhor te avisar.

Só tive tempo de fazer uma careta de confusão, pois antes que eu pudesse responder qualquer coisa, Pan se levantou e atirou-se no lago.

— Ei! — gritei olhando para a água, perplexa.

Tão repentinamente quanto mergulhou, o menino veio à superfície, e estava totalmente seco.

— Preciso que você entre aqui.

— Nem sei nadar!

Pan riu e olhou para baixo. Juntou as mãos, pegou um pouco de água e jogou no rosto. Nem uma gota sequer escorreu.

— Se molhasse, eu não entraria aqui de roupa. Vamos, entra aqui. — ele estendeu uma mão em minha direção e, sem surpresas, ergueu a sobrancelha direita dando seu sorriso irônico com o qual eu já havia acostumado.

Ainda desconfiada, fui entrando no lago aos poucos. Não era a sensação de água que eu tinha na pele, e sim a de um vento muito pesado, como se fosse uma massa de ar concentrada, de forma muito homogênea. Era estranho, mesmo assim confortável.

NefastoOnde histórias criam vida. Descubra agora