Triângulo Altiorem

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Por alguns instantes, só consegui observar Pan. Senti medo.

— É mais uma de suas brincadeiras, né? — forcei uma risada que saiu extremamente sem graça.

Aquilo fez Pan rir mais ainda.

— Não, claro que não. Pareço do tipo que brinca com profecias e maldições?

— Na verdade sim.

Eu não havia pensado direito, apenas saiu automaticamente da minha boca. E eu não era do tipo que dava respostas atravessadas logo depois de um sádico te avisar que sabe que você será a maior desgraça da vida dele.

Surpreendentemente - ou não - ele abriu ainda mais seu sorriso.

— Pelo visto ninguém me leva a sério nessa ilha.

— Seja direto.

Como resposta, recebi a expressão mais afrontosa de Peter Pan.

— Você acha que sou eu? — precisei falar claramente.

— Ora, sim. Por qual outro motivo eu contaria isso pra você?

— E como você me dá essa informação com um sorriso desses?

A frase não teve exatamente o efeito que eu esperava. Percebi isso quando vi uma sobrancelha de Pan levantar, divertida.

— Estava olhando meu sorriso ao invés de prestar atenção?

— O quê? Não, eu... — quê?!

— Vai se complicar mais. — e soltou seu sorriso mais debochado.

Em resumo, depois de alertar sobre algo que eu nem pude acreditar de tão sinistro, Pan estava zombando da minha cara com o bom e velho "sou atraente demais para você".

— Pan, eu não...

— As estrelas acabaram de te selar no Lago do Silêncio. — ele me interrompeu. — Todo o poder que você absorveu da energia do fogo que coloquei na clareira...

— Que você colocou?!

— ... agora faz parte de quem você é. Isso graças ao fluído mágico dentro do lago e à luz vinda das estrelas, que em conjunto atrelaram isso ao seu Triângulo.

— Meu Triângulo?

— Se eu não te trouxesse aqui essa noite, possivelmente essa energia sairia de você em algumas horas levando sua sombra...

— Minha...?

— ... junto. Isso te mataria.

Imagine um milhão de perguntas que não têm nenhum sentido formando uma nuvem enorme de confusão. Minha cabeça estava assim. Tive que escolher uma para começar:

— Vai com calma. Sombra?

— Igual à que te trouxe. Mas a que te carregou até a ilha é a minha. Tirei por vontade própria, e com magia. Uma pessoa que tem a sombra arrancada não sobrevive.

Um arrepio correu minha espinha. Pan havia me exposto a um risco tão grande assim?

— Então você colocou magia em mim?

— Não, ainda não coloquei nada em você.

O quê?!

— Foi você quem gerou o fogo. — retomei, sem dar importância. — E me deixou lá no meio até eu... explodir, eu acho.

— Ana, quase ninguém suportaria receber uma carga daquele tamanho. Se você está aqui, inteira e selada, é graças a si mesma. Sua alma, sua mente e seu corpo suportam algo grandioso. Seu Triângulo é altiorem.

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